Eduardo Paes acena a Bolsonaro

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

Na primeira entrevista da série com os candidatos a prefeito do Rio, o candidato do DEM, Eduardo Paes, disse que não vai disputar governo estadual em 2022 e afirmou que, se eleito, trabalhará com Bolsonaro. Ele negou acusações de corrupção e caixa 2, chamou Crivella de “pipoqueiro”, mas destacou a “vitória” do rival na Linha Amarela. Paes também admitiu que foi um erro a construção da ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer.

O senhor abriu a sua campanha com a divulgação de um vídeo dizendo que não era desonesto dias depois de virar réu por corrupção. Por que o eleitor deve acreditar na sua versão e não nas investigações do Ministério Público?

Esse julgamento é do eleitor, não meu. Eu tenho que colocar meus argumentos. É estranho que uma investigação seja feita em um prazo tão curto e que a denúncia surja no momento em que sou declarado candidato na convenção do meu partido. Para quem viveu a eleição de 2018, quando veio à tona o depoimento do (ex-secretário de Obras) Alexandre Pinto, é duplamente estranho.

O problema com o Alexandre Pinto não foi o único denunciado da sua gestão. Há denúncias envolvendo pagamentos irregulares pela Fetranspor e a Odebrecht. Como explicar tantos delatores acusando o senhor?

Tenho a honra de ter, nos depoimentos em que me citaram, explicitamente a manifestação de que jamais pedi propina ou qualquer contrapartida. Afirmo que em minhas campanhas não fiz caixa dois. Compete a quem delata provar aquilo que está falando e à Justiça decidir. O que se ouve dos delatores a meu respeito? O Eduardo não abre conversa. O Nervosinho da Odebrecht é elogioso, se for olhar a razão (do apelido que o Ministério Público identificou como atribuído a Paes no sistema de propinas da empreiteira).

Falando especificamente de acusações, uma delas aponta que os repasses da Odebrecht garantiram uma reunião com o senhor para tratar sobre as obras do Engenhão. Houve essa contrapartida?

É ridículo dizer que o sujeito faz uma doação de campanha para tratar do Engenhão, um estádio olímpico que estava desabando e que eu fiz a OAS e a Odebrecht gastarem R$ 150 milhões recuperando o teto, sem ônus para os cofres públicos. Essa é a corrupção? Eu recebi a Odebrecht e devo ter recebido tantas outras vezes. Estávamos fazendo uma Olimpíada. Nesta campanha, tomei a decisão de não aceitar nenhuma doação privada. Vai ser tudo do fundo eleitoral. Infelizmente o setor privado está deslegitimado agora para fazer pleitos, que eles têm direito a fazer. Agora, receber uma pessoa em audiência é crime?

A Procuradoria-Geral da República instaurou investigação sobre uma suposta conta no exterior cujo objetivo seria receber recursos irregulares da Odebrecht para a sua campanha em 2012. Como o senhor responde a essa suspeita?

Que investiguem e achem uma conta minha no exterior. Tenho do ano que morei nos Estados Unidos, em 2017, declarada no meu imposto de renda. O problema é que você passa anos sendo acusado… Quem reparou o dano que eu tive? Fui acusado de tentar furar a fila do Lourenço Jorge, ganhei a ação e provei contra o presidente do Sindicato dos Médicos. Quem deu destaque? Passei semanas apanhando da imprensa. Entendo que o papel do político é suportar isso, mas essas coisas aparecerem sempre às vésperas de eleição é muito ruim.

O senhor tem dito que não deseja nacionalizar a eleição, mas o presidente Bolsonaro é figura disputada por seus adversários. O que achou do comportamento do presidente na pandemia?

Os governos, de forma geral, se comportaram mal. No caso do Rio, nunca vi o prefeito,o governador e o presidente dando uma entrevista em conjunto. Vou ser muito objetivo: estou disputando a prefeitura do Rio e não sou analista de política ou de Bolsonaro. Se for eleito prefeito, vou ter que trabalhar em parceria com ele até pelo menos 2022. Fiz questão de fazer uma campanha e construir uma aliança que não estão amarradas a nenhuma candidatura presidencial. Não me interessam temas nacionais. Vou tratar da minha cidade.

É importante para o eleitor entender se o senhor, como gestor, minimizaria a gravidade da pandemia como fez o presidente…

De maneira nenhuma. Meu comportamento seria sempre o de seguir a ciência. Não estou dando piscadinhas para o Bolsonaro. Não o vejo há tempos. Sempre me dei bem quando ele era deputado. Não o vejo como um inimigo do Rio. O governador afastado (Wilson Witzel) foi burro ao arrumar uma briga no dia seguinte à eleição. Devia trabalhar junto, especialmente em um estado que depende do governo federal. Esse tipo de inconsequência e incompetência política, eu não cometo. Não é tarefa para noviço, farsante, despreparado.

A briga de Witzel e Bolsonaro começou por causa de 2022. Quais os planos do senhor para daqui a quatro anos, caso seja eleito agora? Tentaria se candidatar a governador?

Se eu tiver a honra de ser prefeito de novo, vou ser até o fim. Não quer dizer que não deseje ser governador, um dia. Mas certamente não em 2022. Vou cumprir o mandato até 2024. Se vou ser candidato à reeleição, é outra história.

No primeiro debate, políticos novos e antigos ficaram divididos nos discursos. Esse selo de político antigo não está desgastado diante do eleitorado?

Considero meus oito anos na prefeitura como um ativo. Claro que existem erros e problemas. Nessa eleição não dá mais para arriscar escolhendo um despreparado e incompetente como o Crivella ou uma farsa como o Witzel.

No embate com a Martha Rocha no debate, o senhor disse que iria explicar para a candidata a realidade dos números da prefeitura ainda que ela não conseguisse entender. Depois, o tom diminuiu um pouco. Esse tipo de atitude não pode afastar o eleitorado feminino que já rejeitou o Pedro Paulo em 2016?

Quando as pessoas não conhecem números, não importa se é todas, todos ou “todxs”. Quando a pessoa não tem conhecimento das coisas da prefeitura, não me importa se é mulher, se é homem, seja o que for. O Pedro Paulo foi inocentado, isso é passado (o deputado havia sido acusado de agredir a mulher). E eu respondo pelos meus atos, as minhas atitudes.

Muitos escândalos aconteceram a partir da atuação das OS na saúde. O senhor pretende mantê-las?

Problemas existiram, e todos tiveram resposta. Não há casos de secretário levando propina de uma OS específica. Houve casos isolados identificados por órgãos de controle, a partir de denúncias. As OS foram uma tentativa de dar mais agilidade ao sistema de saúde. Já percebendo os problemas, criei a Rio Saúde, uma OS pública. Vou ser muito mais rigoroso do que já fui.

Qual sua opinião sobre a polêmica do pedágio da Linha Amarela?

No final ele (Crivella) conquistou uma vitória importante. É até uma coisa fofa que eu estava doido para dizer. Mas o ideal não era ter feito dessa maneira. Gera um ambiente que as pessoas ficam pouco afeitas a investir no Rio. Foi um processo que iniciei em 2015. Nos meus dois últimos anos, não dei aumento para a Linha Amarela. Teve um aumento de fluxo de veículos e uma inflação muito alta. Decidi não dar o reajuste, mas dentro da lei. Na minha opinião, Crivella interrompeu essa briga, em 2017, 2018 e 2019. E só retorna agora. Se ele tivesse mantido essa briga que eu tive de maneira racional talvez ele tivesse conseguido reduzir a tarifa sem a necessidade eventual de uma encampação,como resolveu fazer. Não acho (encampação) cenário ideal. O pedágio deve ser reduzido.

Qual seu ponto de vista para 2021, para um período pós- pandemia na educação da rede pública. Qual será sua política para as escolas?

Primeiro aspecto diz respeito ao passado. Os governos erraram ao não terem se entrosado e não falarem a mesma linguagem. Isso abre a porta para decisões judiciais. O trabalho em temas delicados como a educação tem que ser conjunto. O segundo aspecto é o que fazer no futuro. Pior é não ter planejamento. O que a gente tem hoje é um prefeito pipoqueiro. Se é bola dividida, ele não entra, não planeja.

Qual decisão que não tomaria quando foi prefeito se soubesse do resultado?

Não faria a ciclovia da Niemeyer. É óbvio. É uma área frágil entre o mar e a encosta. Morreram duas pessoas. Minha ideia é retomar, refazer o que está errado e botar para funcionar com um plano de contingência. Mas vou fazer uma consulta pública.

O Globo