Eleitores estão se distanciando do radicalismo de direita

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­ Foto: Claudio Belli / Valor

1. Com base nas pesquisas já feitas neste ano, é possível traçar um perfil do comportamento do eleitor nestas eleições?

No geral, partidos de centro estão se saindo melhor. Eleição municipal é pragmática, o eleitor quer ver quem tem mais capacidade para resolver os problemas da cidade. Afeta o dia a dia do eleitor. O lixo recolhido na porta de casa, a creche, o transporte público. Os problemas são cotidianos. Tem chance menor de candidatos desconhecidos porque existe uma necessidade do conhecimento dos problemas da cidade. Os candidatos que conseguirem mostrar um domínio ou soluções que sejam factíveis entram com mais competitividade. O eleitor para prefeito não quer saber de plano salvador. Não adianta aparecer sem experiência, sem conhecimento.

2. O discurso de extrema-direita continua atrativo para parte do eleitorado?

A extrema-direita está sem cara. O nível do conservadorismo do eleitor brasileiro é alto, mas na eleição municipal isso pouco importa, porque as pessoas estão preocupadas com o problema do ônibus, o buraco da rua. Há mais pragmatismo.

3. O desejo da mudança ainda está forte? Porque em 2016 já víamos isso, com a eleição do outsider João Doria e de Marcelo Crivella, novato no Executivo.

Em 2018, havia o espírito da mudança, um recado de quem queria dar um “não” à política, de mudar tudo que está aí. Em 2016, arriscaram com o novo. Agora, não tem esse componente. Agora, os eleitores não estão no espírito de arriscar uma nova experiência, até porque viveram quatro anos do que foi essa experiência do novo.

4. Quais são os problemas que mais têm aparecido como área de preocupação dos eleitores?

A Saúde, que sempre foi um problema desde 1989, quando o Ibope começou a monitorar os principais problemas dos municípios. A Educação ganhou uma importância maior pelo tempo que as crianças não estão na escola. Também aparecem a Segurança Pública e o Transporte Público, este último também agravado por causa da pandemia, com ônibus lotados e os prefeitos tendo de resolver o problema do transporte coletivo sem poder haver aglomeração. A corrupção também é um ponto. No Rio de Janeiro, apareceu fortíssima. A ordem e a intensidade desses cinco pontos podem variar de um município para o outro.

5. Quanto a pandemia vai influir no voto?

Em muitos municípios, a gestão do prefeito contra a pandemia está mais bem avaliada do que a gestão em si. As pessoas estão conseguindo separar bem uma coisa da outra. Agora, vai depender da campanha de cada candidato que tenta a reeleição ou fazer o sucessor, se eles vão conseguir alavancar seus nomes usando a boa avaliação sobre o que fizeram na pandemia.

6. A esquerda e o PT seguem enfrentando rejeição?

Em municípios com uma esquerda organizada, os candidatos estão conseguindo se sair bem, como a Manuela D’Ávila, em Porto Alegre, o Edmilson Rodrigues, em Belém, e o Guilherme Boulos, em São Paulo. Ainda não será nesta eleição que o PT vai conseguir se recuperar em termos de imagem. A gente vê outros candidatos da esquerda ocupando esse espaço. O PT ainda tem problemas de imagem. A questão esquerda versus direita na eleição municipal não tem tanto peso.

7. O Ibope voltou a fazer as pesquisas presenciais?

Sim. Os entrevistadores usam equipamentos de proteção individual para segurança deles e dos entrevistados, levam álcool em gel e álcool em spray para higienizar discos e cartelas usados nas entrevistas, todos plastificados, e tablets para manuseio dos entrevistados. E trocam luvas e máscaras a cada entrevista realizada.

8. As redes sociais serão tão importantes nestas eleições quanto foram em 2018? E a campanha na TV?

Sim, talvez até mais, porque, com a pandemia, a campanha vai ser feita de outra forma. Não vai ter tanto corpo a corpo quanto havia. Vai ser em outro formato. A TV é sempre importante, porque é quando começa a campanha na televisão que as pessoas se dão conta de que tem campanha e buscam se informar sobre quem são os candidatos. É a organização das candidaturas. As inserções têm mais importância do que o horário eleitoral, em que há menos paciência de ficar assistindo àquilo. Mas também não adianta ter um tempo grande se o candidato não souber usar de maneira eficaz, para atingir o eleitor.

9. Qual será o peso de Bolsonaro nestas eleições?

Os presidentes geralmente não influenciam de modo direto na eleição do município. O que vemos historicamente é que, após a eleição do presidente, há uma articulação para ampliar sua base de apoio. Quando Lula foi eleito em 2002, havia pouquíssimos municípios administrados pelo PT. Depois, houve uma articulação e essa base foi ampliada. Agora, com o Bolsonaro sem partido, essa articulação para a criação da base do presidente não vai se dar. Vai ser prejudicada também pelo fato de ele mesmo dizer que só vai ter um candidato aqui ou acolá. Vai ter um peso dependendo do candidato que é e da avaliação que ele terá. Em alguns, de interior, ele tem 70% de avaliação positiva. Em outros tem 20%.

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