Escondido pelo PSDB, Doria vê melhor eleição para o partido

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Foto: Claudio Belli/Valor

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), avaliou que o ajuste fiscal aprovado anteontem pela Assembleia Legislativa representará um corte de R$ 7 bilhões no déficit de R$ 10,4 bilhões nas contas do Estado previsto para 2021. Concessões de última hora feitas por pressão dos deputados diminuíram o enxugamento estimado em R$ 1 bilhão, mas ele garante que a diferença será buscada com uma “solução de mercado”, a ser anunciada nos próximos 90 dias. A defesa do controle de gastos públicos é um dos pontos em que ele busca demarcar distância em relação ao presidente Jair Bolsonaro, que na sua opinião está se despindo do figurino liberal em busca de popularidade.

Para Doria, Bolsonaro terá que explicar derrotas que originalmente não seriam suas, ao optar por uma estratégia de nacionalizar a eleição municipal, sobretudo em São Paulo e no Rio. “A melhor forma de avaliar um político é na eleição. Após 15 de novembro, e dos segundos turnos, avaliem se temos ou não prestígio.”

Em conversa de 50 minutos com o Valor, Doria fez uma defesa contundente de privatizações, cobrando do governo federal a desestatização inclusive da Petrobras. Mas recusou-se a comentar sobre o destino que será dado em São Paulo à Sabesp. Ele afirma que a solução “de mercado” para compensar as concessões que fez em seu pacote fiscal não está relacionada com a empresa de saneamento. A seguir, os principais pontos da entrevista:

Todo debate democrático é duro. Parte do jogo. Tem que ouvir o contraditório. Nosso objetivo era de R$ 8 bilhões, com o PL 529. Com substitutivo aprovado, estaremos preservando R$ 7 bilhões para a economia fiscal do Estado nos anos de 2021 e 2022. E já encontramos formatos para buscar essa diferença, de maneira a dar a equalização fiscal do governo de São Paulo. Não podemos adiar tudo o que é importante para o Brasil para depois das eleições.

O déficit completo é de R$ 10,4 bilhões. A recuperação fiscal proposta no PL 529 seria de R$ 8 bi. Com as extrações feitas, vamos preservar R$ 7 bi. A diferença de R$ 3,4 bi, vamos compensar com alternativas que serão anunciadas muito em breve, em 90 dias.

Não há vínculo entre as soluções que vamos dar e a Sabesp. A Comissão de Valores Mobiliários solicitou que tivéssemos muita discrição, cuidado e zelo em relação a qualquer palavra sobre a Sabesp. Tenho que me silenciar [sobre capitalização], em respeito à orientação da CVM.

Falta articulação do governo junto ao Congresso. E há circunstâncias que fragilizam o Ministério da Economia. Tenho estima pelo ministro Paulo Guedes. Há descoordenação do governo e falta de harmonia em decisões que deveriam competir ao Ministério da Economia. O governo tem se enfraquecido por disputa interna entre os que não querem furar o teto e os que querem, em nome de um programa populista, para garantir prestígio e apoio ao governo às custas da ruptura do equilíbrio fiscal.

Não se pode, em nome da popularidade, fragilizar a estabilidade. Uma nação se governa a curto, médio e longo prazos. Não se pode fazer projeto de ordem pessoal em detrimento do projeto nacional. O projeto nacional é proteger a economia, criar programa de estabilização e confiança no mercado, para que investimentos continuem. E há ainda a questão ambiental, que fragiliza ainda mais a confiança no Brasil.

Flexibilizar significa romper. Quem garante que com a ruptura do teto haverá limite? Ninguém garante. É um caminho ruim e está certo Paulo Guedes em entender que o teto não deve ser flexibilizado. Por que o governo não amplia o seu programa de privatização? Tudo aquilo que se anunciava no início da gestão Bolsonaro, muito pouco foi feito. Por que não fazer a reforma administrativa? Por que não implementar programa de desestatização com a venda dos Correios, da Petrobras, com programa robusto e mais rápido de concessões de aeroportos, rodovias, ferrovias e portos, com ingresso de capital externo?

Pessoalmente defendo a venda da Petrobras. Governo não tem que administrar petróleo. Isso é função privada. Faça um “split”, multiplique a Petrobras em várias empresas, para que o mercado possa se sensibilizar na aquisição. O governo Bolsonaro apresentou isso durante a campanha e não fez isso.

Com dinheiro em caixa, com a situação sob controle, e com programa distante do populismo, mas próximo do realismo de apoio à proteção social aos que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza, é razoável praticar um exercício para a proteção dessas pessoas. Mas é importante também, que com a mesma força, possamos ter programa vigoroso de geração de emprego e renda. Não podemos ser país eternamente dependente de transferência de renda. O Brasil tem que ser atraente ao capital externo e grupos nacionais. Aqui em São Paulo, em plena pandemia, fizemos a maior concessão rodoviária do país, a Piracicaba-Panorama. E agora, semana passada, a renovação do processo de concessão da Linha Laranja do Metrô em São Paulo.

Sempre fui um liberal, sempre defendi isso. Bolsonaro usou esse discurso para ganhar a eleição e praticou outro como presidente do Brasil, infelizmente.

A melhor forma de avaliar um político é na eleição, confere? A eleição cristaliza a decisão popular. Após as eleições em 15 de novembro, e dos segundos turnos, avaliem se temos ou não prestígio. Porque isso vai se traduzir em eleitos, prefeitos e vereadores. Estamos confiantes que teremos a melhor eleição para o PSDB e partidos aliados da história de São Paulo. Eu estou afirmando, não estou supondo.

Cumpri o meu dever, como governador, de proteger vidas, as pessoas, seguir a ciência e a medicina. Não fiz populismo com o vírus e com a pandemia. Defendi medidas de isolamento, obrigatoriedade do uso de máscaras, e outras medidas, que evidentemente não foram bem recebidas por aqueles que gostariam de manter tudo aberto ou pelos que advogaram que a pandemia era gripezinha e de que a economia não precisaria ser fechada. Fiz muito bem em ter seguido a recomendação de médicos e cientistas, ainda que isso tenha custado um pouco da minha popularidade. Mas lhes asseguro: não perdi a minha credibilidade. Adotamos aqui medidas muito antagônicas a um presidente da República negacionista. Mas não vai influenciar o resultado eleitoral.

O Bruno será reeleito, e é exatamente este o fruto do bom trabalho integrado entre prefeitura e governo do Estado. Assumi todo o ônus e risco advindo de deixar a prefeitura, é verdade. Mas assumi conscientemente e venci as eleições.

Tenho estima pelo deputado. Agora, Bolsonaro resolveu antecipar a disputa de 2022. Eu nem sou candidato, não falo que sou candidato, não estabeleci uma candidatura. Ele sim, já no terceiro mês de seu governo, surpreendentemente. Se ele classifica a eleição de São Paulo como antecipação eleitoral, vamos ver o que vai acontecer ao final do segundo turno. Eu pergunto: e se ele perder em São Paulo e no Rio? A quem será debitada essa conta? Não é hora de fazer isso, mas, enfim, o presidente tomou essa decisão.

São Paulo não politiza a vacina, como não politizou o combate à covid- 19 e não é justo fazer essa politização daquilo que vai salvar vidas. A vacina não é uma corrida ideológica. Temos que ter uma visão técnica, objetiva, de proteção à vida. A vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan com parceria com o laboratório chinês Sinovac é a que está apresentando no momento o retorno mais eficaz. Os testes serão concluídos esta semana e os resultados comunicados à Anvisa. Temos relações muito fluidas tanto com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, quanto com o almirante Antonio Barra, que preside a Anvisa. São duas pessoas que têm tido uma visão extremamente correta com São Paulo. Estamos trabalhando para nacionalizar a vacina. Estaremos em Brasília no próximo dia 21 para nos reunirmos com o ministro Pazuello e seus secretários, e depois com o presidente da Anvisa, com esse objetivo: um plano de nacionalização e de imunização através do Ministério da Saúde, e por isso que estamos propondo a distribuição pelo ministério a outros Estados sem prejuízo de outras vacinas.

Construímos uma aliança muito importante não só com o DEM, mas com o MDB na capital e em todo o Estado. O MDB historicamente sempre esteve muito longe do PSDB. É a primeira vez que o MDB está junto com o PSDB em uma eleição. Temos aqui uma aliança muito significativa com o DEM e o MDB e com outros 11 partidos também. Aqui estamos junto com o PP desde a minha eleição em São Paulo. O bom entendimento sempre é o melhor caminho para a política.

Valor Econômico