Famílias de políticos controlam política no Rio

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Foto: Editoria de Arte

Tradicionais caciques da política fluminense, Anthony Garotinho e Cesar Maia, além do clã dos Picciani, continuam atuando, ainda que discretamente, nas eleições. Eles dão seu apoio a postulantes s à prefeitura do Rio agindo nos bastidores, numa postura reservada, com pouco ou nenhum destaque nos atos públicos de campanha.

Presidente estadual do MDB, o ex-deputado federal Leonardo Picciani avalizou a candidatura de seu correligionário Paulo Messina, que é vereador, à prefeitura. Mas nas redes do candidato não há qualquer menção a Leonardo, filho mais velho de Jorge Picciani. Ex-presidente da Alerj e ex-todo-poderoso da política fluminense, o patriarca dos Picciani está, desde março de 2018, em prisão domiciliar. No ano passado, o ex-cacique do MDB foi condenado a 21 anos de reclusão pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Leonardo Picciani disse que, como atual presidente estadual da legenda, não lhe cabe pedir voto especificamente para Messina, mas, sim, organizar administrativamente as campanhas nos 92 municípios do estado:

— Não estou nem escondido nem explícito na campanha do Messina. Não me cabe esse papel (de protagonismo) nem na campanha do Messina nem na dos outros candidatos a prefeito.

Messina decidiu ir para o partido este ano após o PSD recusar lhe dar a legenda para disputar a prefeitura. O candidato diz ter recebido de Leonardo Picciani e dos demais dirigentes do MDB “total autonomia” para renovar o diretório municipal do Rio. Messina chegou a pagar, do próprio bolso, cerca de R$ 2 mil referentes a multas por atraso na prestação de contas do partido para a Justiça Eleitoral.

— O MDB tem uma história muito bonita de décadas com o país e uma história recente ruim no Rio, mas não tenho qualquer ligação com esses personagens, aos quais, aliás, sempre fiz oposição. Entro num partido em branco, e o meu compromisso é com o presente e o futuro do partido e da cidade — disse Messina.

A escolha pelo nome de Messina, um crítico contumaz de Eduardo Paes (DEM), revela um distanciamento do clã Picciani do ex-prefeito, que foi filiado ao MDB por 11 anos, tendo deixado a legenda em 2018, após prisões dos emedebistas Jorge Picciani e do ex-governador Sérgio Cabral, para disputar o governo estadual. Emedebistas lembram que Paes manteve a candidatura de Pedro Paulo (hoje também no DEM), que ia mal nas pesquisas, à prefeitura em 2016, mesmo com a pressão de Jorge Picciani para que apoiasse Leonardo para o pleito. Na ocasião, Pedro Paulo não chegou ao segundo turno.

— Essa história de que há mágoa com o Eduardo não procede. Tanto que o apoiamos em 2018, quando ele já estava fora do MDB — contrapõe Leonardo. — Lançamos o Messina agora porque acreditamos que o Eduardo já deu sua contribuição para a cidade.

A candidatura de Paes foi costurada pelo clã dos Maia, com protagonismo nos bastidores para Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados e filho do ex-prefeito e atual vereador Cesar Maia (DEM). Foi Rodrigo quem articulou a coligação de Paes, angariando o apoio de legendas como o PSDB e o PL. O deputado, no entanto, será discreto na campanha de Paes por uma questão estratégica: não afastar o eleitor bolsonarista.

Como presidente da Câmara, Rodrigo Maia por vezes entra em atrito com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e, mais recentemente, teve um com o ministro Paulo Guedes (Economia). Uma imersão de Rodrigo na candidatura de Paes, avaliam estrategistas do ex-prefeito, traria mais ônus do que bônus, uma vez que o Paes se coloca como um candidato de centro, que buscará diálogo com Bolsonaro caso seja eleito.

César Maia, que ainda não demonstrou apoio a Paes nas redes sociais na campanha, disse que pretende fazê-lo mais para frente, por meio de suas redes sociais.

— Estou em quarentena fechada por recomendação médica (para prevenção ao Covid-19). O contato será virtual. Espero que no final de outubro eu tenha mais mobilidade — disse o vereador e ex-prefeito de 75 anos.

Filha dos ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho, Clarissa Garotinho (PROS), por sua vez, afirma que pretende usar a campanha para “se apresentar” ao eleitor carioca, sem dar ênfase às gestões do pai e da mãe à frente do estado.

Em vídeos que serão divulgados nas redes, Clarissa dirá que teve pai e mãe governadores e que, por isso, não se deslumbrará se chegar ao Poder Executivo — uma crítica indireta ao governador afastado Wilson Witzel (PSC). Mas as referências ao pai e à mãe, cujas imagens aparecerão na hora da referida menção, terminam por aí. Ela nega que a estratégia ocorra por conta do índice de rejeição do pai na capital, tendo em vista que Garotinho e Rosinha sempre foram mais bem votados no interior.

— Estou aqui para contar a minha história: fui vereadora, deputada estadual, deputada federal e secretária municipal. Campanha para majoritária tem essa finalidade. Quem é Clarissa? O que pensa sobre o Rio? Pessoas não votam em alguém por ser representante de outra pessoa, mas por representar suas próprias ideias — disse Clarissa.

Garotinho afirma não ver problema com a falta de destaque na campanha da filha:

— Apoio não só a candidatura da Clarissa no Rio como a do (meu filho) Wladimir (PSD) em Campos dos Goytacazes. Os dois são maiores de idade, têm personalidades fortes e distintas. E estão construindo seu espaço político com ideais que nossa família sempre defendeu: o trabalhismo, o nacionalismo e o campo popular. Estão trilhando seus próprios caminhos e não terei nenhuma participação no governo em caso de eventual vitória da Clarissa ou do Wladimir.

O Globo