Maia sobe o tom contra Guedes
Foto: Jorge William/Agência O Globo
O embate público entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), escalou e ganhou ontem um novo capítulo: Maia chamou o chefe da equipe econômica de desequilibrado, em reação a uma fala de Guedes de que há boatos segundo os quais o deputado fechara acordo com a oposição para não pautar as privatizações.
“Paulo Guedes está desequilibrado. Uma pena”, disse Maia ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. O parlamentar ironizou promessa feita pelo ministro da Economia em julho de que faria quatro grandes privatizações em 90 dias, o que não aconteceu.
As críticas foram feitas pouco depois de Paulo Guedes afirmar que não havia razão para interditar as privatizações, durante uma entrevista de divulgação dos resultados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
O ministro da Economia afirmou que há boatos de que Maia teria fechado acordo com partidos de esquerda para não pautar privatizações. “Privatizações estamos esperando também. Não há razão para interditar as privatizações. Há boatos de que haveria um acordo do presidente da Câmara com a esquerda para não pautar as privatizações. Nós precisamos retomar as privatizações, temos que seguir com as reformas”, cobrou Guedes.
Afastado das atividades parlamentares por causa da covid-19, o presidente da Câmara já tinha criticado o chefe da equipe econômica no dia anterior. Maia questionou os motivos para o ministro estar interditando o debate da reforma tributária. E usou as redes sociais para pressionar Guedes a encaminhar a segunda parte da proposta ao Congresso Nacional.
“Por que Paulo Guedes interditou o debate da reforma tributária?”, escreveu Maia em sua página oficial no Twitter.
No início da semana, lideranças partidárias alinhadas ao Palácio do Planalto oficializaram que a proposta ainda não seria apresentada por não haver acordo em relação à reforma tributária defendida por Guedes, que prevê a criação do imposto sobre transações digitais nos moldes da antiga CPMF para compensar um corte de encargos trabalhistas.
Diante da ausência de acordo, o governo federal deve encaminhar a proposta apenas após as eleições municipais, marcadas para novembro.
Nas redes sociais, Maia utilizou a mesma expressão usada por Guedes em julho. Em evento da XP Investimentos, o ministro disse que Maia tinha interditado o debate da reforma.
Em outro episódio, o chefe da equipe econômica reagiu a críticas feitas por Maia e disse que o parlamentar não poderia impedir a discussão sobre o novo tributo.“Nem o ministro pode querer impor um imposto que a sociedade não queira nem o relator, o presidente da Câmara, o presidente do Senado, o presidente da República pode impedir um debate sobre qualquer imposto”.
Em meados de setembro, Maia afirmou ter rompido a interlocução com Guedes, após o ministro vetar que integrantes de sua equipe conversassem com ele. A decisão teria sido determinada pelo protagonismo de Maia. Antes do rompimento, o ministro reclamava, nos bastidores, que Maia capitalizava sozinho as vitórias no plenário da Câmara. Na avaliação dele, o presidente da Casa teria ficado com todos os méritos de êxitos conjuntos.