Rompído com Bolsonaro, Mamãe falei quer voto bolsonarista

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Foto: Divulgação/ALSP

Aos 34 anos, o deputado estadual paulista Arthur do Val sabe a quem quer fazer chegar suas palavras: aos que, como ele, estão “de saco cheio” da política. O argumento do candidato a prefeito de São Paulo pelo Patriota tem potencial, em um país em que a abstenção chegou a um terço nas últimas eleições e que elegeu Jair Bolsonaro presidente, com o discurso de que acabaria “com tudo que está aí”, propagado via redes sociais.

Arthur não é o candidato de Bolsonaro na capital, mas briga pelo voto dos bolsonaristas, em disputa com outros seis nomes da direita. Arthur conta com um poderio digital comparável ao do presidente – bem diferente do candidato formal de Bolsonaro na disputa paulistana, o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos). Por enquanto, no entanto, pesquisa Ibope de sábado mostra Arthur com 1% e Russomanno na liderança, com 26%. O primeiro turno das eleições será em 15 de novembro.

“Russomanno só tem o apoio do Bolsonaro porque Bolsonaro é refém do partido dele na Câmara”, diz Arthur em entrevista ao Valor. Para o candidato do Patriota, o adversário “não fura a bolha” do eleitorado religioso e mais pobre. A mesma pesquisa Ibope mostrou que Russomanno alcança preferência de 34% entre os evangélicos e 35% entre os que têm renda familiar de até um salário mínimo.

Arthur do Val tornou-se famoso como Arthur do “Mamãe Falei”, nome do seu canal no YouTube, que hoje conta com 2,7 milhões de inscritos e 396 milhões de visualizações. O espaço estreou há cinco anos, com vídeos a favor da reforma trabalhista e contra o FGTS, mas estourou em março de 2016, com material produzido por Arthur na rua, em que questionava os participantes de uma manifestação pró-Dilma Rousseff (PT), presidente na época. O vídeo foi visto 1,2 milhão de vezes no YouTube.

O estilo, repetido nos últimos anos em meio a ocupações e protestos da esquerda, fez decolar a carreira do youtuber. Arthur elegeu-se em 2018 como o segundo deputado estadual mais votado de São Paulo. Na tribuna da Assembleia ou na bancada do debate da semana passada, busca manter o tom provocativo que o tornou famoso. No embate da Band, confrontou Russomanno, com um sorriso no rosto. “Eu tenho que te dar parabéns, viu? Você tem um talento: o talento de sempre apoiar quem tá no poder.”

A verve atraiu atenção. Dados do Google Trends mostram que, na noite do debate, as buscas pelo nome de Arthur dispararam na internet. Representaram o dobro das feitas sobre o prefeito Bruno Covas (PSDB), que tenta a reeleição.

“As minhas redes têm crescido quando eu falo de campanha, o que é uma coisa rara”, afirma o candidato. “Normalmente político quando chega na campanha diminui, porque as pessoas estão de saco cheio de coisas tradicionais.”

Arthur diz que, mesmo que patrocinem conteúdos na internet, os adversários falham. “Ninguém quer ver o vídeo do Bruno Covas, Celso Russomanno, Márcio França. Ninguém aguenta mais ouvir a voz desses caras. Agora, quando eu falo, centenas de milhares de pessoas me ouvem. Aí que tá minha força.”

Além da forte presença no Instagram, Facebook e Twitter, Arthur construiu uma rede para distribuição de conteúdo via WhatsApp e Telegram. “Acho muito mais espontâneo e democrático usar o potencial das redes do que você ficar usando fundo partidário com uma panfleteira que não sabe nem o que ela tá fazendo ali.” O deputado abriu mão dos recursos desse fundo.

O material físico de campanha encomendado por Arthur é mínimo. “O foco é campanha digital”, explica. Entre os impressos, estão sobretudo adesivos perfurados para colar nos vidros de carro e adesivos para para-choque, que podem ser usado no baú de motos. A ideia é fazer a mensagem circular de carona com os apoiadores.

Outra aposta de Arthur é convencer o público jovem, em que conta com 6% de preferência, a virar votos dos parentes mais velhos.

A principal proposta de Arthur do Val para São Paulo é reformular o Plano Diretor, para, por exemplo, acabar com limite de altura de prédios, mudar leis de zoneamento e permitir reformas em edifícios tombados. “A construção civil só precisa que a prefeitura deixe o setor trabalhar”, diz. A ideia é atrair moradores e empresas para a região central. O candidato também promete “acabar com a cracolândia”, transferindo os serviços de apoio à população de rua para a periferia. “É onde essas pessoas têm laços afetivos”, opina Arthur.

Valor Econômico