Russomanno imita até os erros de Bolsonaro

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Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Mesmo ao ver sua rejeição subir nas pesquisas Datafolha e Ibope na última semana, o deputado e apresentador de TV, Celso Russomanno, do Republicanos, dobrou a aposta na estratégia de associar sua imagem ao presidente Jair Bolsonaro. Até mesmo em seu primeiro episódio de desgaste na terça-feira, quando disse que moradores de rua e da Cracolândia eram mais resistentes à Covid-19 porque não tomavam banho, o candidato buscava um alinhamento calculado com Bolsonaro.

Segundo aliados, a intenção não era causar polêmica e sim mirar o eleitorado bolsonarista ao tratar do assunto de forma autêntica, sincera e sem medo do chamado politicamente correto. A declaração, porém, foi considerada uma “infelicidade”. Ainda assim, Russomanno não recuou. De modo semelhante a Bolsonaro, o candidato tem adotado um tom reativo e partiu para o ataque contra a imprensa. Em vídeos em suas redes sociais, afirmou que tratava-se de fake news contra sua candidatura. Disse ainda que foi mal interpretado e que os jornalistas “pinçaram” as suas falas fora de contexto.

Ao se defender na sexta-feira em entrevista ao canal MyNews, do Youtube, o candidato afirmou que o índice de óbitos de moradores de rua pela Covid-19 seria menor que a média nacional e apresentou uma conta. Disse que a capital paulista tem 28 mil moradores de rua, sendo que, segundo a prefeitura, 28 morreram pela doença, o equivalente a 0,01%. Esta estimativa do candidato, porém, é de difícil comprovação já que, segundo especialistas, há grande subnotificação de óbitos pelo novo coronavírus na população mais vulnerável.

No final de março, quando a pandemia se iniciava, Bolsonaro chegou a dizer que “o brasileiro pula no esgoto e não acontece nada”, ao minimizar o risco de a doença se espalhar na população.

Um dia após a polêmica sobre os moradores de rua, Russomanno deu mais um passo na direção de Bolsonaro. O candidato minimizou a ditadura militar e classificou o que o Brasil viveu no período de 1964 a 1985 como um “governo militar”.

– Ditadura, eu acredito, é o que a gente vive nos países em que a gente não pode entrar ou sair do país, que o seu passaporte é cassado. Isso é uma ditadura. Nós vivemos aqui um governo militar sem dúvida nenhuma – disse Russomanno, em entrevista ao SBT na quarta-feira, quando adotou tom ríspido com os jornalistas.

A fala foi afinada com Bolsonaro, que é autor de frases controversas que enaltecem o golpe militar. Em sabatina ao GLOBO na semana passada, Russomanno já havia dito que não sairia candidato sozinho e que só disputou o cargo porque Bolsonaro aceitou lhe conceder apoio.

Coincidentemente com o aumento da frequência dos acenos a Bolsonaro nas últimas duas semanas, cresce também a rejeição em São Paulo ao nome de Russomanno. Desde o início da eleição, esse índice apresenta viés de alta para Russomanno e chegou ao patamar de 30% tanto nas pesquisas de intenção de voto do Ibope, como no Datafolha.

Seu marqueteiro Elsinho Mouco tem dito que pesquisas qualitativas internas mostram que colar a imagem do candidato em Bolsonaro ajuda a cristalizar o voto de eleitores jovens, mais pobres e evangélicos, segmentos onde ele tem maior densidade eleitoral. A medida seria uma das estratégias para manter as intenções de voto acima de 20% e evitar a desidratação da candidatura, conforme ocorreu nas eleições de 2012 e 2016. Na ocasião, o apresentador de TV e deputado largou na frente das pesquisas, mas não foi ao segundo turno.

– Se ele estivesse lá atrás, esse assunto (se referindo ao banho dos moradores de rua) já teria sido esquecido. Mas a liderança nas pesquisas é um banho de água fria na pretensão de muita gente – afirma o marqueteiro.

Mouco lançou neste final de semana mais uma série de propagandas no rádio na qual associa Russomanno a Bolsonaro de forma lúdica. Nas peças, o marqueteiro usa a marca que criou para o candidato, a “CR 10”, cuja sigla é inspirada no jogador de futebol Cristiano Ronaldo, conhecido como CR7. Com isso, serão lançadas 10 propostas do plano de governo do candidato para a cidade, sendo que pelo menos três delas dependem de Bolsonaro: o auxílio paulistano, a destinação de recursos federais para a saúde e a construção de 64 mil moradias para população de baixa renda.

Na propaganda, o locutor narra uma partida de futebol, cujos jogadores são Russomanno e Bolsonaro que tabelam e fazem gols.

Desde a convenção que oficializou sua candidatura no Republicanos, Russomanno tem adotado a receita eleitoral de Bolsonaro e dito que os pilares de sua campanha são “Deus, pátria e a família”, além de prometer junto com o governo federal trazer escolas cívico militares para São Paulo. Com Russomanno, o presidente quer derrotar o adversário João Doria, tucano que, do Palácio Bandeirantes, apoia a reeleição de Bruno Covas, de olho em 2022.

O Globo