Trump entra em desespero e apela ao tudo ou nada

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Foto: MANDEL NGAN / AFP

Donald Trump está vendo a reeleição escapulir pelas mãos. Se sua estratégia já estava ancorada na polarização extrema, agora o presidente americano apela, incondicionalmente, para a tática do desespero. Agressivo, impetuoso e intempestivo, Trump está disposto a atear fogo no país, se necessário for, para assegurar a cada vez mais remota hipótese de vitória.

O seu discurso de “empoderamento do ódio” alcançou o limite. O apoio a grupos supremacistas brancos tornou-se indisfarçável. A matilha de lunáticos radicais que pretendia sequestrar a governadora democrata do estado de Michigan, Gretchen Whitmer, é a expressão do discurso que o presidente americano e sua campanha fomenta pelo país. O gesto condescendente com tais grupos demostra que nada irá conter o comandante-em-chefe da nação no impulso de esgarçar o tecido social do próprio país para atingir seu objetivo eleitoral, custe o que custar.

Além de humilhar seu vice, Mike Pence, pelo desempenho diante da senadora do Partido Democrata, Kamala Harris, candidata a vice-presidente na chapa de Joe Biden, o inquilino da Casa Branca se dirigiu de forma desrespeitosa a Harris, com insultos. Para piorar a situação, Trump ainda aludiu implicitamente a que os EUA poderiam ter “pessoa de cor” na Casa Branca, visto que Biden poderia “não durar dois meses se eleito” – conduta deplorável para quem busca comandar a maior democracia do Hemisfério Ocidental.

Esse tipo de comportamento já não é entendido como palavras ao vento para animar a base. Seguindo sua estratégia de suicídio político e moral, Trump vê membros de seu partido se afastarem de sua campanha a 25 dias da eleição.

Os números a favor do Biden em estados-chave vão se consolidando. O risco, no momento, é o Partido Republicano ir para o fundo do buraco com a real possibilidade de perder diversas cadeiras no Senado – e, consequentemente, a maioria. No Arizona, por exemplo, o cenário aponta para a possível eleição do candidato democrata ao Senado, feito somente logrado nos anos 1950 (seria o segundo senador do estado). Nesta reta final, vários políticos republicanos buscam descolar sua imagem do presidente, especialmente em estados como Maine, Iowa, Alaska e Colorado.

Enquanto Trump luta com seus fantasmas, Biden segue estratégia simples e precisa. O primeiro movimento é o de jogar no erro do adversário e com sua tática de desespero. O segundo passo de Biden é o de esboçar com efetividade discurso de união e tolerância. O discurso de medo que Trump buscou projetar a prosopopeia de que os EUA estão diante de escolha entre Ordem e Prosperidade, de um lado, e Anarquia e Socialismo, de outro, já não surte resultado nos principais campos de batalha eleitoral, como Michigan, Pensilvânia, Arizona, Carolina do Norte, Florida e Wisconsin. Em Geórgia, Ohio e Iowa, Trump está empatado com Biden no melhor dos cenários, tendo perdido, portanto, a vantagem que tinha em estados de corte tradicionalmente republicano.

O trunfo de Trump para reduzir a diferença vis-à-vis o adversário democrata consistia na realização de debates presenciais. Ao decidir não participar presencialmente, e apenas virtualmente, Biden anula, assim, a possibilidade de seu rival de repetir a estratégia do primeiro duelo: interditar o debate, interrompendo e provocando sem parar o concorrente. Em encontro virtual, a chance de Trump de ser silenciado durante a intervenção do adversário é plenamente plausível. Ciente disso, o presidente declinou debater com o adversário democrata.

Pelos dados atuais, o presidente dos EUA depende de praticamente um milagre para reverter a crescente desvantagem. É bem possível que o preconceito e o extremismo acabem por se tornar o golpe final na reeleição de Trump.

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