Brasil do século XXI protege vacinas por medo da extrema-direita
Foto: Alex Ferro/VEJA
17 de novembro, 13h42: Parece filme. Me aproximo de um aviso: “Área restrita equipe unblinded. Não entre”. No lugar da maçaneta, um teclado para que apenas os pesquisadores da vacina experimental digitem suas senhas. O médico digita um código. Não consigo ver da posição em que estou. Ele erra. A porta continua cerrada. Nova tentativa.
Pacientes, recrutadores de voluntários em pesquisas clínicas e curiosos em geral não são bem-vindos naquela sala. Só é permitida a entrada de pesquisadores que atuam diretamente nos estudos para a produção de imunizantes. Não se pode dar margem para que intrusos alterem o projeto de desenvolvimento da vacina. Excepcionalmente sou convidada a entrar.
Atrás da porta, uma sequência de geladeiras capazes de armazenar vacinas de dois graus negativos a 72 graus abaixo de zero. Geladeiras grandes, com portas transparentes, quase como aquelas de lanchonetes em que se exibem bebidas à venda, e pelo menos quatro menores, que se parecem com um microondas ou um mini freezer horizontal com visor digital. Na tela destas últimas, o registro de que os produtos lá dentro estão submetidos a uma temperatura de 72 graus negativos.
Passeio pela sala acompanhada de um médico. São dezenas de caixinhas brancas – 80 doses experimentais da vacina anti-Covid desenvolvidas pela farmacêutica Janssen-Cilag para aquela primeira bateria de testes – e ampolas e fármacos variados do que os pesquisadores chamam de “medicamentos investigacionais”. A clínica onde me inscrevi para ser voluntária também está desenvolvendo pesquisas para pacientes com diabetes, herpes zoster, colite ulcerativa e obesidade.
A segurança na estocagem dos fármacos é justificada porque medicamentos devem ficar armazenados em locais de acesso restrito. Nunca se sabe se um desvairado de um movimento anti-vacina vai tentar invadir o laboratório, localizado em um prédio comum do Rio de Janeiro, e destruir os produtos. A mesma precaução foi tomada pelo Instituto Butantan, em São Paulo, quando recebeu a matéria-prima para a produção da CoronaVac e não anunciou publicamente onde guardaria os insumos.
Uma das caixinhas brancas é reservada para mim. Ela está em uma geladeira que chega a até 8 graus negativos, mesmo patamar de um refrigerador comum, mas sem o visual de um eletrodoméstico de cozinha. Não importa como se parece: o fato de poder ser armazenada em temperaturas fáceis de serem conseguidas é um dos principais trunfos de algumas das vacinas que estão sendo desenvolvidas em todo o mundo para tentar conter a pandemia do novo coronavírus. Não consigo imaginar países como Brasil e Índia distribuindo facilmente vacinas estocadas a 70 graus abaixo de zero.
Independentemente da logística de distribuição dos imunizantes – o Ministério da Saúde diz estar finalizando este projeto e o Supremo Tribunal Federal (STF) deve determinar que o governo informe periodicamente à Justiça todas as medidas que serão tomadas para atender a população – é pouco provável que todos os brasileiros sejam vacinados. Por mais que diversos fármacos estejam sendo desenvolvidos contra a Covid-19 (Pfizer/BioNTech, Oxford/AstraZeneca, Moderna, Novavax, Janssen, Valneva, Sinovac, Sanofi/GSK e Sputnik V, por exemplo), a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que cada país deve avaliar a realidade local para definir o programa de imunização.
Por isso, no nosso caso, a ideia é que sejam priorizadas as pessoas mais expostas, como agentes de segurança e de saúde, idosos, pessoas no grupo de risco e portadores de doenças crônicas.
30 de novembro, 10h44: Não tenho qualquer sintoma e tampouco apresento efeitos adversos do fármaco que tomei na tarde de 17 de novembro. Oxigenação e temperaturas continuam normais. Sigo convencida de que tomei um placebo. Quando qualquer vacina for comercializada, eu não estarei no grupo prioritário para recebê-la.
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