Butantan diz que vacina de Bolsonaro também vem da China

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Foto: MARIO TAMA / AFP

O governo do Estado de São Paulo deverá organizar uma campanha de vacinação própria contra o coronavírus, caso não haja entendimento com o governo federal para a compra e distribuição da vacina Coronavac por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde. Ainda não há, no entanto, um detalhamento de como esse processo autônomo ocorrerá.

Segundo Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, se o governo federal mantiver a decisão de não comprar a Coronavac assim que ela for registrada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a alternativa será criar um consórcio entre outros Estados interessados e municípios para viabilizar essa distribuição.

“Nunca houve campanhas estaduais na história do Brasil porque temos um sistema único de saúde que concentra todas as campanhas de vacinação no PNI. Se a vacina Coronavac for a única aprovada e registrada no Brasil até janeiro, o governo federal terá que explicar por que não vai incorporá-la ao SUS”, afirmou.

Ainda segundo Covas, se essa negativa do governo federal acontecer provavelmente a situação será levada à Justiça. “O SUS é uma instituição que envolve o governo federal, estados e municípios. Existindo uma vacina aprovada e registrada no país, não há impedimento nenhum para distribuir à população. Se o governo federal se recusar a fornecê-la aos brasileiros, provavelmente terá implicações constitucionais”, avalia.

O Butantan é o principal fornecedor de vacinas e soros para o Ministério da Saúde – é responsável pela produção de 75% das vacinas e 100% dos soros distribuídos no SUS. De acordo com Covas, alguns estados, países vizinhos como Argentina e Peru, além da Organização Panamericana de Saúde (Opas), já procuraram o instituto com interesse de adquirir a vacina produzida no Butantan.

“Estamos nos primeiros capítulos dessa novela. Nunca antes na história uma vacina feita pelo Butantan foi objeto de disputa política. E, de repente, vemos o valor de uma vacina ser questionado pelo simples fato de ser uma parceria com a China”, disse Covas, que emendou. “A vacina que o governo federal encomendou da AstraZeneca é feita na China também, os insumos são da China. É uma incoerência muito grande. Uma recebe o rótulo em inglês e tudo bem. A outra não pode ser usada só porque o [governador] Dória é desafeto político do presidente”.

Equipamentos usados durante os processo de formulação e envase das vacinas Foto: Davi Pina Barros/Divulgação
Equipamentos usados durante os processo de formulação e envase das vacinas Foto: Davi Pina Barros/Divulgação
Covas afirmou ainda que o Butantan vai produzir a Coronavac e está fazendo um esforço para conseguir o registro no menor espaço de tempo. “Não podemos deixar que rasguem a ciência, rasguem a história do Butantan. Estamos no meio de uma epidemia e 500 pessoas ainda estão morrendo por dia por causa dessa doença”, finalizou o diretor.

Após a finalização da formulação e envase das doses, as vacinas ficarão armazenadas no Butantan aguardando o término do estudo clínico de fase 3 que está em andamento no Brasil para análise da eficácia da vacina. Para isso, é preciso que 61 voluntários já vacinados com o imunizante ou o placebo sejam diagnosticados com a doença. “Essa etapa é necessária para confirmar se de fato a vacina proporcionou proteção ou não”, explicou Covas.

A compra e distribuição da vacina Coronavac têm sido alvo de constantes disputas entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governo do Estado. Na última semana, Bolsonaro desautorizou um acordo de intenção de compra das

Doses produzidas no Butantan assinado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo, para distribuição no Programa Nacional de Imunizações. Em coletiva no dia 23, o governador João Dória garantiu que caso não haja acordo com o governo federal, assumirá a distribuição para os brasileiros de São Paulo.

“Nós vamos até o limite do possível pelo entendimento e diálogo com o governo federal. Mas se pelo diálogo não tivermos o alcance daquilo que é necessário para salvar a vida dos brasileiros, adotaremos todas as medidas que forem necessárias”, afirmou o governador. “O Butantan passou pela ditatura, pelos governos Lula, Fernando Henrique, Collor, Dilma, Temer, sem nunca viver uma experiência como essa”, concluiu.

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