Candidato do PSOL bate filho de Bolsonaro

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Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

A esquerda trocou de lugar com a direita na Câmara do Rio. Aos 37 anos, Carlos Bolsonaro (Republicanos), o filho ”02” do presidente Jair Bolsonaro, conquistou neste domingo seu sexto mandato como vereador do Rio de Janeiro. Mas perdeu a condição de mais votado da cidade para Tarcísio Motta (PSOL), que havia ficado na segunda posição em 2016. Tida como possível puxadora de votos para o Republicanos do prefeito Marcelo Crivella, Rogéria Bolsonaro, ex-mulher de Jair Bolsonaro e mãe de Carlos, decepcionou com pouco mais de 2 mil votos e não conseguiu se eleger.

Com 100% das urnas apuradas, Carlos somou 71 mil votos contra 106.567 em 2016, uma diferença de 35.567 votos. Por sua vez, Tarcísio conquistou 86.243 votos contra 90.473 há quatro anos. A abstenção nas eleições de 2020 explica apenas em parte essa queda. Em 2016, o percentual de ausências no primeiro turno foi de 24,24%. Já em 2020, alcançou 32,79%.

No mandato atual, iniciado em 2017, Carlos dividiu seu tempo no legislativo carioca com a coordenação da campanha do pai para a presidência da República. Carlos chegou a se licenciar durante a campanha presidencial para atuar ao lado do pai em tempo integral.

Durante a campanha, Carlos Bolsonaro chegou a publicar um vídeo pedindo doações para sua campanha eleitoral e afirmou que sua eleição “corria risco”. Ele justificou o pedido porque estaria “evitando ao máximo” utilizar os recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e criticou os candidatos que usam o recurso sem se preocupar.

— Eu sou professor, mas minha atuação não se limitou à Educação. Tivemos papel importante na discussão do impeachment do Crivella, no ordenamento urbano, nas CPIs das Enchentes e dos ônibus — afirma Tarcísio.

Para ele, ter ficado à frente de Carlos Bolsonaro (Republicanos) é um reflexo local do enfraquecimento do bolsonarismo no país.

— Na Câmara, o mandato de Carlos foi pífio — alfineta Tarcísio.

O Globo ainda não conseguiu falar com Carlos Bolsonaro. Em um vídeo publicado no Twitter na madrugada desta segunda-feira, o vereador agradeceu o apoio dos eleitores e comemorou a segunda posição entre os mais votados.

— Enfrentando todas as dificuldades, possíveis e impossíveis, vimos nos últimos tempos como a mídia nos ataca, mas mesmo assim conseguimos esse resultado extremamente satisfatório, que me deixa muito contente. Animado para continuar essa luta, levar adiante o que defendemos — declarou Carlos.

Na publicação, o filho do presidente também negou que o resultado das eleições municipais deste ano tenha sido uma derrota para o pai. Segundo ele, o PT foi derrotado em várias capitais do Nordeste graças ao trabalho do governo que levou recursos para tirar a população da “escravisão”.

— Se engana quem acha que o presidente sai derrotado dessa, essa narrativa vai por água abaixo. Só olhar o que aconteceu no Nordeste, onde o PT perdeu em quase todas as grandes capitais e isso não acontecia há muito tempo. Pode ter certeza que isso foi trabalho do presidente e seus ministros, levando o mínimo para que aquela região possa sair daquela escravidão que vive, principalmente pela falta d’água — afirma.

 

O vereador participa ativamente das redes sociais, inclusive administrando as contas do pai. No mundo virtual, coleciona polêmicas com aliados, ex-aliados da família e com a esquerda. Pela web, atacou ex-integrantes do governo, como o ex-ministro chefe da presidência, Gustavo Bebiano (já falecido), por conta de denúncias envolvendo candidaturas laranja pelo PSL, partido pelo qual o pai foi eleito. O ex-chefe da casa civil, general Santos Cruz, também foi alvo de ataques ao dar entrevistas em que defendia algum tipo de regulamentação para conter ”milícias digitais.” Recentemente, na Câmara do Rio teve discussões inflamadas, chegando a ofender verbalmente colegas como Tarcísio Motta (PSOL) e Leonel Brizola Neto (PSOL).

No legislativo carioca, Carlos sempre teve uma atuação discreta, apresentando poucas propostas no legislativo. Em 2018, um levantamento feito pelo GLOBO mostrou que Carlos havia aprovado apenas 16 projetos de lei em 18 anos de mandato. Entre os projetos que aprovou estão: proibição de propaganda em árvores e postes; cancelamento de licença para estabelecimentos flagrados com bens públicos roubados; determinação de que sinais de trânsito com pardais eletrônicos fiquem piscando em amarelo, das 22h às 6h, em alguns pontos, para garantir a segurança dos motoristas; e orientação a gestantes da rede pública para cadastro de recolhimento de cordão umbilical para possível utilização em transplante de medula óssea. Acabou ganhando holofotes por projetos que não foram adiante: a criação do Dia do Orgulho Heterossexual, que propôs em 2011, e o Programa Escola Sem Partido, em 2014.

Em 2000, quando foi eleito pela primeira vez, Carlos tinha apenas 17 anos. O então deputado federal Jair Bolsonaro decidiu lançá-lo na política devido a um desentendimento famliar. Ele e Rogéria Bolsonaro, com quem era casado na época, se desentenderam. E Jair decidiu lançar ”Carluxo” contra a mãe, que acabou não sendo eleita.

Outro que está de volta à Câmara do Rio é Carlo Caiado (DEM). Primeiro secretário da Câmara do Rio, ele é apontado entre os colegas como um candidato em potencial a presidir a Câmara do Rio, em lugar de Jorge Felippe. Caiado desconversa, e diz que seu sonho seria ir para o Executivo, caso Eduardo Paes seja eleito:

— Vários vereadores sempre falam nisso. Mas meu desejo é estar com Eduardo junto à prefeitura. É muito cedo para falar sobre isso.

As urnas também consagraram a vereadora Rosa Fernandes (PSC) como recordista de mandatos consecutivos no legislativo municipal. Ela irá para o oitavo mandato. Outro vereador que tinha sete era o presidente da Câmara, Jorge Felippe (DEM), mas não eram consecutivos. E com uma característica diferente. Pela primeira vez na carreira, Rosa concorreu fazendo oposição ao governo. Ela rompeu com o prefeito Marcelo Crivella por discordar com as escolhas de sua gestão:

— As pessoas leem no tabuleiro do xadrez da política como me posiciono. O problema é que este prefeito não escuta os desejos da população. Paguei um preço muito caro por isso, mas não tinha como ser diferente Eu sou da Zona Norte e moro na minha região. Os eleitores tocam a campainha da minha casa para apresentar demandas e sugestões.

Entre as caras novas também aparece o ex-PM e blogueiro Gabriel Monteiro (PSD), considerado representante da ”bancada da bala” e da direita. Ele ficou na terceira posição com 60.326 votos, deixando para trás o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), que foi reeleito com 55.031 votos votos, terminando na quarta posição.

Na PM, ele teve uma passagem conturbada desde que entrou na corporação em 2016, chegando a ser ameaçado de expulsão por deservação pela quantidade de faltas consecutivas. Ao todo, recebeu 16 punições, sendo que cumpriu 33 dias de detenção por indisciplina.Como tinha menos de dez anos na corporação, Gabriel teve que se afastar de vez da polícia.

Outra novata na Casa é Mônica Benício (PSOL), viúva de Marielle Franco, morta a tiros em março de 2018, junto com o motorista Anderson Gomes. A arquiteta fez uma campanha pelo voto feminista, LGBT, antirracista, anticapitalista e antifascista. Nas suas redes sociais pregou o fim das desigualdades e das opressões.

Marcos Braz (PL), diretor de futebol do Flamengo e figura emblemática no futebol brasileiro, é mais um que ocupa pela primeira vez uma cadeira no Palácio Pedro Ernesto. No pleito, havia mais dois candidatos do Flamengo: Fred Luz e Eduardo Bandeira que disputaram a prefeitura.

Entre os campeões de votos está Chico Alencar (PSOL), que volta ao Palácio Pedro Ernesto. Ex-deputado federal, Chico tentou sem sucesso uma vaga no senado em 2018. Quinto colocado com 49.222 votos, Chico já exerceu dois mandatos de vereador, de 1989 ao fim de 1997. Ele passou quatro anos na Assembleia Legislativa (1999-2002) e ocupou o cargo de deputado federal por quatro legislaturas (2003-2019).

— Os momentos são diferentes. No início da década de 90, estávamos em um período de renovação da política. Agora, vivemos uma onda conservadora . É importante nos posicionarmos — disse Chico.

Mas a composição da Casa ainda pode mudar. Tudo vai depender de o TSE aceitar ou não recurso que impugnou a candidatura de Lindbergh Farias (PT), tido como um dos puxadores de votos do partido. Na última quinta-feira, o TRE impugnou a candidatura de Lindbergh devido ao fato dele ter tido uma condenação por improbidade administrativa durante sua primeira gestão como prefeito de Nova Iguaçu. Lindbergh, candidato a reeleição, foi acusado de se beneficiar de um esquema de distribuição de leite, cujas caixas exibiam a logomarca do governo. Ele foi o nono melhor colocado, tendo obtido 24.912 votos.

Um total de 1.758 candidatos disputaram as 51 cadeiras para vereador do Rio. Da bancada atual, 50 tentaram a reeleição. Apenas Paulo Messina (MDB) ficou de fora, para concorrer a prefeito. Foram 34.5 candidatos por vaga no Legislativo municipal.

O Globo

 

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