Moro acusa Carluxo por “gabinete do ódio”
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou em depoimento à Polícia Federal que ouviu de ministros do Palácio do Planalto que o filho do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), é ligado ao chamado “gabinete do ódio”, grupo de assessores bolsonaristas que usa as redes sociais para atacar adversários do presidente, e disse ainda que foi alvo de ataques desse grupo após ter deixado o cargo de ministro.
No depoimento prestado no último dia 12 no inquérito sobre a organização de atos antidemocráticos, Moro afirmou que a ligação de Carlos Bolsonaro com o “gabinete do ódio” é comentada por ministros do Palácio do Planalto e afirmou que esses ministros poderiam dar maiores esclarecimentos à PF.
“Indagado se tem conhecimento do envolvimento de Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, Tercio Arnaud, José Matheus, Mateus Matos em quaisquer dos fatos ora mencionados, respondeu que os nomes de Carlos Bolsonaro e Tercio Arnaud eram normalmente relacionadas ao denominado ‘Gabinete do Ódio’; indagado sobre como tomou conhecimento da relação de tais pessoas com o denominado ‘Gabinete do Ódio’, respondeu que tomou conhecimento por comentários entre ministros do governo; indagado sobre quais ministros citavam a participação de Carlos Bolsonaro e Tercio Arnaud no ‘Gabinete do Ódio’ respondeu que eram ministros palacianos”, diz o depoimento.
Novamente questionado sobre quais ministros seriam esses, Moro preferiu não citá-los nominalmente. “Indagado se o depoente poderia nominar tais ministros, respondeu que reforça que era um comentário corrente entre os Ministros que atuavam dentro do Palácio do Planalto”, afirma no depoimento.
Moro disse não ter conhecimento se servidores públicos são usados nessas atividades de ataque às autoridades, mas afirmou à PF que era necessário apurar isso. Sobre os ataques que sofreu, o ministro afirmou no depoimento: “Esclareceu que quando de sua saída do Ministério de Justiça ocorreram diversos ataques contra sua pessoa em redes sociais; que chegou ao seu conhecimento que tais ataques eram oriundos do denominado ‘Gabinete do ódio’; Indagado se pode nominar as pessoas responsáveis pela a prática de tais condutas, direta ou indiretamente, respondeu que não sabe denominar”.
A PF questionou Moro se, durante seu período como ministro da Justiça, ele tomou conhecimento da existência de uma estrutura dentro do governo federal montada para atacar autoridades públicas dos outros Poderes, como parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal.
Apesar de dizer que só tomou conhecimento desses ataques por meio das próprias redes sociais, Moro citou que existia uma “animosidade” entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e que sabia dos ataques ao parlamentar.
“Tinha conhecimento de uma animosidade entre o Presidente da República e o Presidente da Câmara dos Deputados; que tinha conhecimento que o Presidente da Câmara dos Deputados sofria ataques por meio de publicações em redes sociais; que não sabe precisar se tais ataques eram advindos de dentro do governo ou de pessoas ligadas ao governo federal”, afirmou no depoimento.
Após essa declaração, Moro recomendou à PF tomar os depoimentos dos ministros palacianos. “Acredita que melhores esclarecimento possam ser prestados por ministros que atuavam dentro do Palácio do Planalto; Indagado sobre quem seriam os ministros, respondeu que seria possível obter melhores esclarecimento, por exemplo com o Secretário de Governo, o Ministro do Gabinete de Segurança Institucional, e o Secretário de Comunicação, uma vez que o depoente trabalhava fora do Palácio do Planalto”.
Em depoimento prestado anteriormente no mesmo inquérito, Carlos Bolsonaro negou que orquestrasse ataques a autoridades nas redes sociais por meio de terceiros. Nesta sexta, o vereador comentou o depoimento de Moro após a revelação pelo GLOBO: “Não há qualificação para mais essa tentativa boçal. Saudades de viver em um mundo onde homens eram homens!”.
Desde que deixou o governo, esse é o segundo depoimento prestado por Moro em uma investigação. O primeiro foi no inquérito aberto para apurar as acusações de interferência do presidente Bolsonaro na Polícia Federal, feitas por ele ao pedir demissão.
O inquérito sobre atos antidemocráticos foi aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar a realização, financiamento e organização de atos com ataques aos Poderes. O relator da investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) é o ministro Alexandre de Moraes.
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