MP localizou funcionários fantasmas de Flávio Bolsonaro
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado (9.abr.2019)
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) usou um mapa de calor feito a partir dos registros telefônicos de oito dos 12 “assessores fantasmas” do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (hoje senador, Republicanos-RJ) e concluiu que, de fato, eles nunca trabalharam em suas funções designadas como assessores parlamentares na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, entre 2007 e 2018.
O rastreamento da localização dos assessores consta na denúncia do MP-RJ encaminhada à Justiça e mostra que oito deles raramente estiveram nos arredores da Alerj, no Centro do Rio, nesse período.
Os promotores cruzaram ao menos 47 mil ligações para conseguir demonstrar a geolocalização dos assessores fantasmas. O objetivo dos investigadores é comprovar o esquema de “rachadinhas” montado no gabinete de Flávio Bolsonaro durante 11 anos, período em que foi deputado estadual. De acordo com o MP, o grupo desviou R$ 6.100.091,95 dos cofres da Alerj.
Segundo os promotores, “a organização criminosa agiu durante mais de uma década no seio do Poder Legislativo do Estado do Rio de Janeiro, com alto grau de estabilidade, de forma estruturalmente ordenada, caracterizada pela clara divisão de tarefas entre seus integrantes e com o objetivo de, reiteradamente, desviar recursos”.
No caso de Nathália Queiroz, por exemplo, filha de Fabrício Queiroz, operador financeiro de Flávio, segundo o MP, das 3.500 ligações feitas e recebidas entre outubro de 2007 e janeiro de 2017, apenas um telefonema aconteceu num raio de 750 metros de distância da Alerj.
O restante das ligações foi na região da Taquara, cerca de 35km de distância da Alerj, suposto local onde Nathália trabalharia. O levantamento das ligações de Evelyn Melo de Queiroz, irmã de Nathália, também revelou que dos 6 mil registros analisados, em apenas oito ela estava numa região próxima à Alerj.
“Assim como a irmã, o Mapa de Calor da denunciada Evelyn Melo de Queiroz também corrobora sua rotina mais concentrada no bairro da Taquara, onde morava, do que nas cercanias da Assembleia Legislativa, onde deveria prestar serviço público.
Filtrando-se os registros de chamadas telefônicas efetuadas ou recebidas pela filha do operador financeiro no período em que deveria exercer as atribuições do cargo para o qual fora nomeada, foram identificados apenas 8 (oito) registros telefônicos nos 7 (sete) dias nos quais o aparelho celular da “assessora fantasma” foi localizado no raio de 750 metros de distância da Alerj, de um universo de mais de 6.000 (seis mil) ligações”, apontou o MP em sua denúncia.
Já sobre Márcia Aguiar, o MPRJ identificou que ela “nunca realizou ou recebeu ligação telefônica no raio de 750 metros da Alerj no período em que deveria exercer a função pública, apesar de ter participado de centenas de conversas telefônicas em localidades diversas do raio de abrangência das antenas que alcançam a Alerj.”
Entre os outros assessores monitorados, há um que chama bastante atenção. Ele mora em Rio das Ostras, na Região dos Lagos, quase 200 km de distância da Alerj, e dos 16 mil contatos telefônicos feitos e recebido por ele, apenas 20 chamadas foram realizadas nas redondezas do Centro do Rio. Outra investigada teve mais de 20 mil conversas telefônicas monitoradas, das quais apenas 31 foram feitas num raio de 750 metros de distância da Alerj.
A conclusão dos promotores é que dentro do gabinete de Flávio Bolsonaro, quando ele era deputado da Alerj, pelo menos 12 assessores eram fantasmas.
“Depois de nomeados, assim que recebiam os pagamentos ou poucos dias depois, os assessores integrantes do núcleo executivo repassavam para operadores financeiros da organização criminosa parcelas significativas dos salários, mediante transferências bancárias, sucessivos saques em suas contas e depósitos em espécie nas contas dos operadores financeiros, ou através de simples entregas de dinheiro “vivo” realizadas em mãos.”, descrevem os promotores na denúncia.
A defesa de Flávio Bolsonaro informou que não irá se manifestar, pois o processo está sob sigilo.
Em nota, a defesa da mulher e das filhas de Queiroz afirma ser “inverídica qualquer acusação de desvio de valores na Alerj por parte de Márcia, Nathalia e Evelyn”.
“Elas sempre exerceram com rigor as atribuições legais dos cargos que ocuparam. Os repasses de parte dos salários atendiam à lógica – comum em lares brasileiros – de participação na economia familiar”, argumenta o posicionamento.
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