Políticos de direita rejeitam apoio de Bolsonaro
Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS
Depois de ver grande parte de seus aliados fracassar nas urnas no primeiro turno das eleições municipais, o presidente Jair Bolsonaro deixou de ser um cabo eleitoral desejado no segundo turno pelos candidatos a prefeito em boa parte das capitais. Há resistência mesmo em locais onde o apoio seria natural contra nomes de esquerda, como Porto Alegre, Vitória, Fortaleza e São Luís. Das principais cidades, apenas no Rio e em Belém há o desejo de tê-lo na campanha. Ontem, o presidente manifestou pelas redes sociais apoio a Delegado Eguchi (Patriota) na capital do Pará, enquanto o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), tem viagem marcada para Brasília.
A participação de Bolsonaro no Rio deve ser fechada em um café da manhã marcado para amanhã no Palácio da Alvorada. Crivella quer que o presidente participe de atividades de rua na campanha. A expectativa de aliados do prefeito é que a participação presencial de Bolsonaro ajude a reduzir a diferença entre Crivella e seu adversário, Eduardo Paes (DEM). No primeiro turno, Bolsonaro gravou vídeo para o prefeito e autorizou o uso de sua imagem, mas não compareceu a evento.
Para convencer o presidente a ter maior engajamento, Crivella argumentará que Paes pertence ao mesmo grupo político do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) e do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), visto por Bolsonaro como potencial adversário em 2022. O deputado Otoni de Paula (PSC-RJ) afirma que o presidente garantiu que gravará novos vídeos e também planeja uma visita ao Rio para caminhar ao lado do candidato.
Por outro lado, aliados de Paes atuam para evitar a presença de Bolsonaro na campanha de Crivella. Próximo do ex-prefeito, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) tem articulado junto ao presidente, enquanto deputados federais do núcleo de Paes têm procurado o senador Flávio Bolsonaro. Eles dizem que, se eleito, Paes não atuará como adversário de Bolsonaro.
Bolsonaro fez na terça-feira o primeiro gesto em relação ao segundo turno. De forma discreta, por meio de um comentário em publicação nas suas redes sociais, manifestou apoio a Eguchi, que enfrenta Edmilson Rodrigues (PSOL), candidato de uma frente de esquerda, na disputa em Belém (PA).
“Caso fosse eleitor em Belém/PA, certamente votaria”, respondeu Bolsonaro no Facebook a um eleitor que defendia o nome de Eguchi. “Boa sorte para ele”, complementou.
Mas a busca pelo apoio do presidente é exceção nas principais disputas. Em Fortaleza (CE), aliados de Capitão Wagner (PROS) afirmam que o deputado não quer nacionalizar a campanha. Wagner já recebeu o apoio do presidente Bolsonaro, mas não se apoiou nele na disputa. Seu adversário é José Sarto, candidato dos irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT). Aliados de Wagner afirmam que os apoiadores dos dois lados estão sendo ocultados.
— O sentimento anti-Ferreira Gomes é tão grande quanto o anti-Bolsonaro. É um jogo de esconde esconde — afirma um interlocutor de Wagner, ressaltando que Sarto também não usa os irmãos Gomes em peças de campanha.
Em São Luís (MA), o candidato da oposição, Eduardo Braide (Podemos) também não deve buscar o apoio do presidente. De perfil moderado, ele chegou ao segundo turno na frente de Duarte Júnior (Republicanos) — 38,8% a 22,1%. Neutro até então, Flávio Dino (PCdoB), declarou apoio ao candidato do Republicanos. Mesmo com o fato de Bolsonaro ter rivali7dade com o governador maranhense, não há intenção de aliados de usá-los na campanha.
— O presidente não tem candidato em São Luís. Ele não vai discutir com Flávio Dino — afirma o senador Roberto Rocha (PSDB), aliado de Braide e de Bolsonaro.
Em Vitória (ES), o candidato Lorenzo Pazolini, deve manter sua campanha no segundo turno independente, sem reivindicar o apoio. Tão logo foi confirmado na próxima etapa da disputa contra João Coser (PT), ele já demonstrou sua intenção:
— Minha candidatura é independente, o candidato do Bolsonaro era outro no primeiro turno, inclusive com fotos nas redes sociais — disse Pazolini, referindo-se ao Capitão Assumção (Patriota).
Em Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB) também quer manter uma campanha independente, sem padrinhos políticos. A candidatura de Melo está situada no campo da centro-direita na cidade. Ele já recebeu apoios de dois adversários da direita no domingo e não tem pretensão de usar Bolsonaro para conquistar o voto mais conservador. Sua rival no segundo turno é Manuela D’Ávila (PC do B).
Desde o resultado das urnas, aliados do presidente de dentro e fora do governo se dividiram entre negar um fracasso nas disputas municipais — ou ao menos tirá-lo do colo presidencial —e reconhecer que é preciso mudar para recuperar o bom desempenho de 2018.
Assessores que consideraram o resultado negativo avaliam que a participação do presidente no pleito sem qualquer filiação partidária impôs uma urgência: a necessidade de ele encontrar rapidamente uma legenda para organizar seu grupo político.
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