Rio tem dois casos de racismo por dia

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Foto: Rafael Campos / Divulgação ISP

Estudo inédito do Instituto de Segurança Pública (ISP), o Dossiê Crimes Raciais, mostra que, em 2019, 844 pessoas foram vítimas de discriminação racial no Estado do Rio de Janeiro, sendo 766 delas negras — a autodeclaração é feita na delegacia, no momento da denúncia, e muitas vezes as vítimas não se identificam como negras. Isso quer dizer que duas pessoas sofreram racismo por dia.

A maioria das vítimas foi de mulheres, com idades entre 40 e 59 anos. Em 42,9% dos casos, as vítimas não possuíam nenhuma relação com os autores dos crimes. Estas são as primeiras estatísticas oficiais sobre o tema usando como fonte de dados quase três mil registros de ocorrência feitos em 2018 e 2019 nas delegacias da Secretaria estadual de Polícia Civil do Rio.

— O ISP se orgulha muito de lançar um estudo tão importante para ajudar a construir a sociedade que queremos. A elaboração desse Dossiê é importante não só para nortear os Poderes na criação de novas políticas para reduzir o número de casos de racismo, como também para aprimorar os instrumentos estatais que já estão funcionando — afirma a diretora-presidente do ISP, Marcela Ortiz.

O estudo foi lançado nesta quinta-feira em entrevista coletiva com a presença de Marcela e dos autores do trabalho, os pesquisadores do ISP Jonas Pacheco, Erick Lara e Thiago Falheiros.

Mais da metade das vítimas de racismo no ano passado foi de mulheres (58,2%). Os homens representaram 39,7% do total. Quase um terço tinha entre 40 e 59 anos (262) e 8,7%, tinha até 17 anos (73). Segundo o Dossiê, 46,3% dos autores eram conhecidos das vítimas e 42,9% eram pessoas com as quais as vítimas não possuíam nenhuma relação. É importante ressaltar que cerca de metade dos autores desses delitos (45,8%) eram mulheres.

Os ambientes fora de casa foram locais com a maior incidência de ofensas (43,3%), seguido pela residência (27,1%) e pela internet (5,5%).

Durante a análise dos dados, foi feita a leitura de cerca de 3 mil registros de ocorrência e constaram as ofensas verbais mais frequentes contra as vítimas de racismo no estado. Palavras como “macaca”, “macaco”, “negra”, “preto”, “preta” e “cabelo duro” foram as mais usadas pelos agressores. Mas na nuvem de ofensas elaborada no estudo aparecem também “safada fedida”, “urubu fedido”, “favelado”, “gorila”, “escrava”, entre outras expressões.

“O que se observa nas palavras em destaque é que os aspectos que constroem o fenótipo negro (cor da pele, formato do nariz, textura do cabelo), as religiões de matriz africana e a própria herança histórica da escravização foram os elementos utilizados para a depreciação das vítimas”, relata o Dossiê.

A capital concentrou o maior número de vítimas em 2019 (422), seguida pelo Interior do estado (255), Baixada Fluminense (100) e Grande Niterói (67). Na capital, os bairros do Recreio, Barra da Tijuca, Taquara e Campo Grande, com 36, 30, 23 e 20 vítimas, respectivamente, foram os que tiveram a maior concentração de casos. Fora da capital, Teresópolis, Petrópolis e a região central de Niterói com, respectivamente, 22, 17 e 16 vítimas, registraram o maior número de vítimas no ano passado.

O taxista aposentado Mauro Pacheco, de 60 anos, cresceu ouvindo piadas, mas sempre relevou. Se fosse hoje, garante, iria a uma delegacia registrar crimes de injúria e preconceito com motivações raciais.

— Eu era de uma cooperativa de táxi há uns 10 anos. Recebemos um chamado para atender a uma mulher na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca. Parei o carro na porta, fui até o prédio e liguei para o apartamento da cliente e disse que o carro já estava esperando. Quando ela desceu, viu a cor da minha pele e começou a dar desculpas até que foi clara e disse que não gostava de viajar com negros. Fiquei muito chateado, mas fui embora sem reclamar. Só pedi à cooperativa para colocar um “x” no nome da cliente porque eu não a atenderia mais. Se tivesse acontecido hoje iria imediatamente a uma delegacia registrar o crime — contou Pacheco.

Já a estudante de educação física Elen Victoria de Faria, de 21 anos, já perdeu a conta de quantas vezes sofreu ofensas raciais. A primeira aconteceu quando tinha 8 anos e ainda morava em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, sua terra natal.

— Fui ao supermercado com minha mãe aos 8 anos de idade. Havia uma área de convivência e minha mãe pediu para que eu a esperasse ali. Mas aí veio o gerente e me tirou de lá e me colocou no estacionamento. Minha mãe ficou desesperada e reclamou demais com os funcionários. O caso mais recente aconteceu no último domingo. Estava indo para casa, em Vila Isabel, depois do trabalho no IBGE, quando vi uma senhora andando devagar na minha frente. Ela ficou ansiosa e pediu para que eu passasse logo por ela porque estava com medo de ser assaltada por mim. Hoje, só vou a lugares onde tenho certeza que não vou ser discriminada e só ando com pessoas que pensam igual a mim — contou.

O Globo 

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