Vitória de Biden derruba dólar
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As eleições nos Estados Unidos foram benéficas para a moeda brasileira, que vinha em uma forte tendência de queda em relação ao dólar desde o início do ano. Ao longo da semana, a moeda americana perdeu força globalmente e beneficiou os países emergentes, principalmente o Brasil. Na variação diária, o real se valorizou quase 3% em relação ao dólar, enquanto as moedas dos emergentes subiram em torno de 1%. Já no acumulado da semana, a moeda brasileira se valorizou 6,62%, enquanto dos emergentes tiveram alta de em média 4%. Nessa sexta-feira, 6, o dólar comercial fechou em 5,3920 reais.
Essa alta semanal não significa, no entanto, que o Brasil está melhor que seus pares emergentes no longo prazo. Desde janeiro, o real se desvalorizou 25%, um desempenho pior que o peso chileno e apenas levemente maior que a lira turca. “O real estava muito desvalorizado e nesses momentos positivos ele começa a ser olhado pelos mercados, passando por uma correção da distorção”, diz Thomás Gibertoni, especialista de investimentos da Portofino. Desde o começo do ano, a moeda brasileira vem se enfraquecendo por conta das operações de hedge, dos juros baixos e, principalmente, com o aumento do risco fiscal decorrente dos gastos públicos com a pandemia.
Ainda assim, essa onda positiva para o real ocorreu também com a perspectiva de virada do comando na Casa Branca. Com Joe Biden se aproximando do cargo de próximo presidente dos EUA, a possibilidade de mais gastos públicos aumenta, o que impacta em mais dívida pública e, consequentemente, diminuição de valor da moeda. Além disso, o aumento da taxação de empresas como as chamadas Big Techs geraria mais inflação e mais desvalorização. Para Gibertoni, da Portofino, o real deve aumentar mais em relação ao dólar até o final do ano. “O real deve se valorizar de 5% a 7% até o fim do ano. Quando tem alívio global, o apetite ao risco sobe. A moeda brasileira está muito barata em relação aos outros emergentes, e a bolsa brasileira caiu 35% no ano, em dólar”, diz ele. Já Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, afirma que o momento ainda é de cautela, uma vez que ainda não se conhece os impactos ao mercado financeiro da chegada do democrata à Casa Branca. “Não sabemos como seria o comportamento de Biden em relação aos chineses, e ao próprio Brasil. De qualquer forma, a tendência é que tenhamos um dólar depreciado, mas ainda há muitas indefinições no radar”, diz ele.
Ainda que o futuro seja incerto, a perspectiva de uma eleição sem contestação, com vitória de Biden, trouxe bastante apetite dos investidores ao risco na semana. O saldo nos últimos sete dias é bem positivo, mesmo com a realização de lucros e a leve queda nessa sexta-feira, 6, decorrente das ameaças do republicano Donald Trump de questionar as eleições na Justiça e da recontagem de votos em estados como a Geórgia. O índice de Dow Jones, que fechou em queda de 0,24% na variação diária, teve valorização de 6,87% na semana. Já o S&P 500, que ontem fechou em baixa de 0,03%, cresceu 7,34% no período, e a Nasdaq, que fechou em alta de 0,04% ontem, cresceu 9,01% na semana. No Brasil, o Ibovespa acompanhou o movimento positivo internacional e fechou a semana em 100.925 pontos, em variação de 7,42%. As ações que tiveram as maiores altas foram Ultrapar, de 21,7%, e Ecorodovias, de 18,5%, que apresentaram na semana balanços financeiros positivos no terceiro trimestre. Já as maiores quedas foram muito leves, da Suzano, de 0,3%, e do Santander, de 0,06%.