Wassef usa cabelo do pai para negar racismo
Foto: Daniel Marenco
Acusado de injúria racial pela funcionária de uma pizzaria de Brasília, o advogado Frederick Wassef, ex-defensor da família Bolsonaro, diz que não é racista. Como argumento, ele afirmou à coluna: “Já namorei uma negra, o meu avô, pai de meu pai, era mulato, meio mulato. Não sou racista. Inclusive, meu pai mesmo tem o cabelo bem pixaim, encaracolado.”
A queixa partiu da atendente de uma loja da rede Pizza Hut. Boletim da Polícia Civil aponta que caso ocorreu na noite de domingo (8), mas a queixa foi registrada pela funcionária nesta quarta-feira (11). A vítima, que não teve sua identidade divulgada, relatou que Wassef é um cliente frequente e que é conhecido por ofender os funcionários.
Ela relata que, na hora de deixar o local, Wassef reclamou da pizza que tinha comido e a agrediu, verbalmente: “Você é uma macaca! Você come o que te derem!”. O gerente da loja acompanhou a funcionária na delegacia e prestou depoimento como testemunha. Ele confirmou ter ouvido o advogado chamá-la de “macaca”. Também relatou saber de reclamações de outros funcionários sobre o cliente.
Segundo Wassef, tudo não passa de uma “farsa” planejada pelo gerente da loja, que já teria tentado prejudicá-lo em outras ocasiões. “Estão mentindo e armando para destruir a minha imagem e minha reputação, me incriminar. Jamais na minha vida destratei qualquer pessoa, não sou nem fui racista, tenho grandes amigos irmãos negros”, afirmou. “Afirmar que sou racista é uma farsa, uma mentira, um crime de calúnia. Eu sou vítima de um crime, não o autor.”
O advogado se vê, como em outras ocasiões, alvo de uma conspiração. Wassef foi à delegacia nesta quinta-feira (11), prestar queixa contra a funcionária por denunciação caluniosa. “Quem está patrocinando isso? Quem está por trás disso? Arquitetaram um plano. Alguém contratou, patrocinou e pagou advogados caros e famosos de Brasília. Em nenhum momento eu chamei a moça de macaca, nem chamei de negra. Importante dizer, ela não é negra”, afirmou o advogado.
Wassef questiona por que o episódio não teria nenhum registro de foto ou vídeo, apesar de, obviamente, ninguém ter como prever que uma cena dessas vá acontecer. Em sua versão, o advogado aponta o gerente do local como o “orquestrador” da acusação, porque ele seria um “antibolsonarista radical”. Diz que o gerente já o “destratou várias vezes, em outras oportunidades”. Mesmo assim, Wassef estava lá, comendo a sua pizza mais uma vez.
“Já o vi me filmando, porque me reconheceu como advogado de Bolsonaro. Pelas informações que apurei, ele não gosta do Bolsonaro, é antibolsonarista radical, sempre me destratou”, diz o cliente assíduo Wassef. “Ele é um desafeto que não gosta de mim por motivos ideológicos e políticos. Usou uma funcionária nova, fez a cabeça dela, arrumou quem patrocinasse advogados, coisa e tal, arquitetaram esse plano e, três dias depois, levaram a cabo.”
O advogado diz que “tudo vai ser provado e colocado dentro dos autos” e que “virão os detalhes que não vou antecipar”.
Naquilo que pode “antecipar”, Wassef afirma que teria reclamado de sua pizza, mas somente porque esta “estava absolutamente crua e parecia uma sopa de tomate de tanto molho que tinha”. “Quando ela passou a me destratar, batendo de frente comigo, falando que eu fui o único que reclamou, eu disse, ‘puxa, um cliente fazendo uma sugestão e você me repreende’. Paguei, virei as costas e fui embora. O resto é invenção.”
O advogado do grupo Pizza Hut, Bernardo Fenelon, que acompanhou a vítima durante o depoimento, disse à coluna que, por respeito à autoridade policial, não irá comentar o caso.
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