Eduardo Paes rejeita Ciro em 2022

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Foto: Luciana Whitaker/Valor

O prefeito eleito do Rio Eduardo Paes (DEM) não foge mais dos temas nacionais, como fez durante toda a campanha. Continua com apenas um tabu – jamais se deixa trair e refuta qualquer avaliação sobre o presidente Jair Bolsonaro, com quem busca uma relação institucional para “salvar a cidade”. Não se exime, no entanto, de dar sua opinião sobre o cenário e os pré-candidatos que se alinham para disputar a Presidência, em 2022. Agrada-lhe a figura do apresentador de TV Luciano Huck, apesar de criticar a recente onda antipolítica que teve seu refluxo nas eleições municipais. “O Luciano tem uma diferença nesse aspecto. Ele não nega a política. Acho que ele é um bom quadro [como candidato a presidente]”, afirma Paes. A mesma boa vontade é negada ao PDT e à pré-candidatura do ex-ministro Ciro Gomes. “Se depender de mim, dentro do Democratas, a candidatura do Ciro, a candidatura do PDT, vamos chamar assim, não vai ter nenhum grau de simpatia porque eles não querem aliança. Eles querem saber deles”, critica o prefeito eleito. Sobre o governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, partido em torno do qual o DEM orbitou nas últimas décadas, Paes silencia: “Não quero entrar em nomes aqui”. Mas não se furta em fazer ressalvas ao ex-juiz Sergio Moro.

O ex-ministro da Justiça, que rompeu com Bolsonaro, anunciou nesta semana que assumirá um alto cargo no escritório americano que cuida da recuperação judicial de construtoras que foram alvo da Lava-Jato, como a Odebrecht e a OAS. Paes evita comparações entre a sua passagem recente pela iniciativa privada, onde foi vice-presidente para a América Latina da multinacional chinesa BYD, e o caminho seguido por Moro. Em sua opinião, isso pode significar a desistência do ex-magistrado em concorrer ao Planalto ou, no mínimo, uma falta de cuidado com a autoimagem. “Como já não teve ao ir para o governo Bolsonaro, depois de ter prendido o principal adversário do Bolsonaro [Lula]”, diz. Na esfera estadual, Paes vê como natural a busca pela reeleição do governador em exercício Claudio Castro (PSC), tão logo se efetive no cargo, com o iminente afastamento definitivo de Wilson Witzel (PSC) do posto. “Torço por ele, sinceramente. Que ele vá muito bem e, se assim for, que a gente possa até ter uma frente, da qual eu não me importaria de fazer parte, para ajudar a reeleição dele”, revela ao Valor.

Seguem os principais temas tratados na entrevista:

Antipolítica

Essa foi uma eleição em que a política venceu, em que o diálogo venceu, diante da maneira como a política foi tratada nos últimos anos no Brasil. E não me diga que estou fazendo uma indireta a uma pessoa [Bolsonaro] que foi 30 anos parlamentar para depois virar presidente da República. Não estou, porque ele é político.

Huck

Acho que o Luciano tem uma diferença nesse aspecto. E ele não nega a política. Não vejo nele um discurso de negação da política. Ao contrário. O Luciano tem uma característica que o distingue dos demais porque a atividade dele é de uma dimensão pública muito grande, portanto deu a ele holofotes da mídia, luzes, possibilidades de debates, de encontros com o diferente que não é o que acontece com todas as atividades profissionais que as pessoas desempenham na vida. Sempre entendia a política como meio de transformação. Sou testemunha disso porque ele se relacionava comigo institucionalmente, entendendo que o prefeito do Rio poderia melhorar a cidade em que ele mora com a mulher e os filhos dele. Acho que ele é um bom quadro [como candidato a presidente]. Mas tem um respeito institucional. Temos que deixar o presidente [Bolsonaro] governar. Até porque tenho responsabilidade de governar também e quero trabalhar em parceria.

Ciro Gomes e PDT Gosto muito do Ciro, tenho uma relação excepcional com ele. Mas acho que o PDT, pelo menos aqui no Rio, deu todos os sinais de que não deseja uma política de aliança. Porque quem quer política de aliança se alia. O PDT perdeu duas oportunidades de mostrar que ia se aliar. Em 2018, lançou um candidato [o ex-deputado estadual Pedro Fernandes] só para ir contra mim, uma pessoa fora de seus quadros. Em 2020, tudo bem, uma pessoa de seus quadros [a deputada estadual Martha Rocha], mas também não entendeu a possibilidade de uma aliança. Quem tem esse tipo de atitude como partido – não o Ciro, mas o partido – é porque não quer aliança. Se depender de mim, dentro do Democratas, a candidatura do Ciro, a candidatura do PDT, vamos chamar assim, não vai ter nenhum grau de simpatia porque eles não querem aliança. Eles querem saber deles.

Doria

De novo, não quero entrar em nomes aqui, fiz uma análise conjuntural sobre um determinado partido, por uma circunstância.

Petismo e bolsonarismo

Não vejo assim [como ‘bolsopetismo’ ou equivalentes de extremos políticos]. Não vejo similaridade, respeito ambos como adversário. Não vejo relação entre o que o Bolsonaro defende e o que PT defende. E ambos estão no campo da democracia. Eles disputaram eleição. Acho que tem uma retórica e uma narrativa às vezes que dá sinais ruins.

Telefonema a Bolsonaro

Foi uma conversa amistosa, rápida, em que eu mais uma vez manifestei a ele meu desejo de que ele entendesse que aqui na cidade do Rio de Janeiro ele vai ter uma pessoa para trabalhar em parceria, em conjunto, para melhorar as coisas da cidade. Ficamos de ter uma outra, eu aguardo, provavelmente, a disponibilidade de agenda dele.

Rodrigo Maia

É um sujeito que está o tempo todo operando pela estabilidade. Você não vê nenhum gesto de hostilidade dele, em direção ao Temer – que ele poderia ter derrubado em determinado momento, mas não fez o movimento nessa direção -, e nem em direção ao presidente Bolsonaro. Você tem divergências, mas aí também é impossível que não tenha. Vai ter sempre. Quantos pedidos de impeachment ele tem lá? Se ele fosse um radical, poderia ter botado para andar algum pedido de impeachment daqueles, e não o faz. Acho um erro desses setores do bolsonarismo, que agem dessa maneira, quando ele é uma pessoa que ajuda o país a avançar. E quem se beneficia ao ter o país avançando, principalmente, é o presidente da República; e quem se prejudica, se não tiver avançando, é o presidente.

Reeleição na Câmara

Faço elogios ao desempenho do presidente Rodrigo Maia. Agora, se ele vai ganhar ou vai perder, se vai ter apoio ou não, se vai ser candidato ou não – nem que ele é candidato ele me disse, e não pediu que eu fizesse qualquer elogio a ele. Como cidadão brasileiro, ao longo dos últimos quatro, cinco anos, me senti protegido pelas ações efetivas do presidente Rodrigo Maia. Estou falando da estabilidade política mesmo, de garantir certas premissas quando se ameaçava uma crise entre Congresso e Poder Executivo.

Maia a governador

Não vou especular sobre coisa que não está colocada na mesa. Rodrigo nunca me manifestou essa vontade. Acho que ele tem condição de ser candidato a governador, presidente da República, a prefeito do Rio, a presidente da Câmara.

Cláudio Castro

Eu o conheço por que ele trabalhou com o deputado [estadual] Márcio Pacheco durante muito tempo, sempre foi um sujeito muito gentil, e eu torço por ele, sinceramente, que ele vá muito bem e, se assim for, que a gente possa até ter uma frente, da qual eu não me importaria de fazer parte, para ajudar a reeleição dele. Quem vai bem pode se reeleger. Agora, ele está começando. Não dá para dizer isso agora. Se as coisas caminharem bem no Estado, vira quase um direito, sim, de permanecer. Mas ainda não está nem há um mês como governador, ou mesmo definitivo.

Relação Castro-Bolsonaro

Ele [Castro] precisa fazer o que está fazendo politicamente, que é se manter distante de qualquer agremiação política e se focar no Estado no Rio. [Sobre a aproximação dele com o presidente] O que esperávamos era que o Witzel fizesse o mesmo com o Bolsonaro, inclusive eu, que perdi [para o governador afastado]. Torci. Falei: ‘Tudo bem, perdi pelo menos para o cara que é amigo do presidente que ganhou a eleição’. E o sujeito briga com o Bolsonaro no dia seguinte. No mínimo é falta de inteligência politica. O Cláudio está agindo corretamente. O Rio é um Estado quebrado, que depende do governo federal para tudo. Papel dele é se relacionar bem com Bolsonaro. Você marca politicamente as diferenças no processo eleitoral. Ele tem um Estado a salvar, eu tenho uma cidade a salvar.

Milícia

O Freixo tem razão em dizer que as milícias estão ocupando uma boa parte do território e com poder acima do aceitável. Nunca tive problema [de entrar em lugares dominados pelo crime organizado]. O fato de ter sido prefeito do Rio, enfim… se tem um certo respeito. Esses caras se metem mais com o vereador que eles não conhecem, pelo menos é o que eu ouço. Eu, como prefeito, eles nunca me pediram, nem o tráfico nem a milícia.

Maior surpresa

da política É tanta coisa que eu não esperava nos últimos anos… Eu diria que a ida do Moro para o governo Bolsonaro, eu achei absurda. No mínimo é um erro político. A prisão do Lula eu achei muito triste. São dois episódios que me marcaram muito. O impeachment da Dilma sempre achei uma coisa ruim para o Brasil. Mas o que me surpreendeu mesmo foram as manifestações de 2013. Não sei se porque senti na pele, mas ali me impressionou muito a força daquele movimento.

Moro

Mas aí eu não fui para a iniciativa privada… Fui trabalhar numa empresa multinacional chinesa, sem interesse no Brasil, sem trabalhar para empresa no Brasil, sem qualquer tipo de relação. Esse negócio dessa empresa dele aí… devia ter tomado esse cuidado, né. Esse negócio de os caras, os advogados, sei lá, trabalharem para a Odebrecht, OAS. Devia ter tomado um cuidado. Parece que sim [que não considera se candidatar a presidente] ou pelo menos não teve o cuidado. Como já não teve ao ir para o governo Bolsonaro, depois de ter prendido o principal adversário do Bolsonaro.

Fundação Palmares

Acho lamentável [a exclusão de nomes como Marina Silva, Gilberto Gil e Martinho da Vila da lista de personalidades negras do órgão]. Esse é o tipo de atitude que eu não consigo entender, sinceramente. Não acredito que o sujeito [o presidente da fundação, Sérgio Camargo] acredite nisso. Ele só pode estar querendo chamar ou desviar atenção. Não é possível, não faz sentido. É uma vergonha, certamente o Brasil vai restabelecer isso.

Pandemia

Na fiscalização [do cumprimento das medidas restritivas], obviamente [é preciso mais rigor]. E aí é avaliando. Se tiver que fazer medidas mais duras que se faça. Não sei qual. Teria que ouvir os técnicos da medicina, o secretário da Saúde.

Secretariado

Estou botando quadros políticos, hoje mesmo confirmamos um deputado estadual. O [Renan] Ferreirinha, do PSB, vai ser o meu secretário de Educação. Vai ter outros parlamentares. A Laura Carneiro (DEM), o Pedro Paulo (DEM), Marcelo Calero (Cidadania), são todos deputados [federais]. Tem mais vereadores, o DC deve fazer um secretário, o PL. Eu sou da política, não a nego, de jeito nenhum.

Novo homem forte

Não acho que tenha nada disso definido [de que o Marcelo Calero é a aposta da vez como sucessor]. Você tem dois caras muito fortes no governo, que são o Pedro [Paulo] e o Calero. Pedro continua forte. Mas acho que isso é muito cedo. Deixa eu esquentar a minha cadeira aqui, nem esquentei ainda.

Valor Econômico

 

O blogueiro Eduardo Guimarães foi condenado pela Justiça paulista a indenizar o governador João Doria em 20 mil reais. A causa foi um erro no título de matéria do Blog da Cidadania. O processo tramitou em duas instâncias em seis meses DURANTE A PANDEMIA, com o Judiciário parado. Clique na imagem abaixo para ler a notícia

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