Festas de fim de ano são temidas em todo o mundo

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Foto: ADA YOKOTA/GETTY IMAGES

Com a multiplicação de casos e óbitos por Covid-19 no mundo inteiro e a proximidade das festas de fim de ano, vários países começam a se preocupar com um novo pico de infecções em janeiro. Os encontros entre familiares e amigos para comemorar Natal e Ano-Novo e os movimentos de compra de presentes assustam os epidemiologistas, que temem que um cenário já crítico, piore.

“É uma situação muito complicada. Estamos observando o crescimento de casos, óbitos e da pressão no sistema de saúde. À medida que as festas vão se aproximando, aumentam as oportunidades de transmissão”, explica Guilherme Werneck, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Ele considera que a reabertura ampla dos serviços e a diminuição dos cuidados por parte da população, que se aglomera em várias situações e está abandonando o uso de máscaras, podem ser responsáveis pelo repique de pandemia que o país está vivendo.

O problema é agravado porque parte da estrutura criada para lidar com a pandemia já foi desativada, e outras doenças cujos atendimentos foram adiados durante 2020 já não podem ser ignoradas, pressionando ainda mais o sistema de saúde.

Se a população se aglomerar durante as festas de final de ano e a transmissão aumentar, as primeiras semanas de janeiro podem registrar um crescimento importante na curva da pandemia. “Não sei se iremos enfrentar uma situação pior do que o auge da pandemia porque não sabemos qual é o potencial de transmissão neste momento, nem o grau de imunidade já alcançado naturalmente, mas, mesmo um número menor de casos pode ser crítico para o sistema de saúde”, completa.

Apesar da situação, não há qualquer indicação do governo federal sobre medidas a serem tomadas para evitar ou diminuir as chances de transmissão. O Ministério da Saúde apenas mantém a orientação de usar máscara, higienizar as mãos e superfícies e manter distância de pelo menos um metro de outras pessoas.

Em outros países, as orientações são mais diretas. Nos Estados Unidos, o Centro de Controle de Doenças (CDC) pediu que os americanos evitassem viajar para o feriado de Ação de Graças, que aconteceu no final de novembro. “À medida que os casos continuam a aumentar rapidamente pelos EUA, a forma mais segura de celebrar a Ação de Graças é em casa, com as pessoas com quem você já mora”, escreveu o órgão, em comunicado.

Na Espanha, só serão permitidas reuniões de, no máximo, 10 pessoas para comemorar Natal e Ano-Novo, e as viagens de turismo estão proibidas entre 26/12 e 6/1. A restrição quanto à quantidade de pessoas também acontecerá na Alemanha, e o país pretende endurecer o lockdown até o dia 20/12.

Na Itália, a recomendação é realizar comemorações apenas no núcleo familiar, e até as missas de Natal ocorrerão de portas fechadas. Na França, só será possível viajar no país se, depois de 15 de dezembro, os novos casos por dia ficarem abaixo dos 5 mil.

Já o Reino Unido, mesmo já tendo começado a vacinar a população de forma emergencial, só permitirá reuniões com pessoas de, no máximo, três lares diferentes, e comemorações e missas só poderão acontecer ao ar livre.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) solicitou que sejam evitadas aglomerações durante as festas e chegou a pedir que as pessoas não se abracem, a fim de diminuir as chances de contágio.

“É incrivelmente difícil porque, principalmente durante as festas, nós queremos muito estar com a família. Mas, em algumas situações, a decisão difícil de não ter um encontro familiar é a aposta mais segura”, diz Maria Van Kerkhove, infectologista responsável pela resposta da entidade à pandemia de Covid-19.

“Observamos, em outros países, que existe uma comunicação eficiente entre governo, gestores, profissionais de saúde e população. Não é fácil para ninguém passar por essas festividades sem os familiares e amigos. Óbvio que é difícil mas, sendo claro, é possível fazer as pessoas entenderem que estamos em uma situação dramática, drástica, que não vai se repetir muitas vezes”, explica Guilherme.

A exemplo de outros países, ele sugere que se evite o contato e as reuniões com muitas pessoas, dando preferência a reuniões menores, em lugares abertos, ou por videoconferência. “As festas de final de ano trazem um sentido de proteção e cuidado, esperança e amor. São sentimentos de colaboração, cooperação e solidariedade. A comunicação é importante para que as pessoas entendam que não é momento de agregar, mas de cuidar”, diz.

Apesar de não haver nenhuma maneira de evitar 100% as chances de contaminação durante as festas de fim de ano, Alexandre Cunha, vice-presidente da Sociedade de Infectologia do DF, conta que as recomendações de segurança são as mesmas de sempre: distanciamento social, ficar em casa, usar álcool na limpeza das mãos e máscara.

“O que mais precisamos neste momento de festividades é a conscientização da população. As pessoas precisam pensar no coletivo. A pandemia não acabou”, afirma Cunha.

Guilherme lembra que, em primeiro lugar, é muito importante que se retomem os cuidados de distanciamento físico, evitando o contato social que não seja estritamente necessário. “Durante a permanência por longo prazo em locais fechados, basta uma pessoa transmitindo para amplificar o contágio. A proteção não é só para você, mas para os seus entes queridos”, explica.

Metrópoles

 

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