Presidente do Einstein vê demora na vacinação contra covid

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Foto: Monica Imbuzeiro / Agência O Globo

Em meio à segunda onda de covid-19 no Brasil, o presidente do hospital Albert Einstein, o cirurgião Sidney Klajner, relata crescimento de internações no hospital, que é referência no tratamento da doença no país. No último mês, o número de leitos ocupados pela doença dobrou.

Klajner entende que a discussão sobre obrigatoriedade da vacina é inócua, pelo fato de o brasileiro ter, por hábito, comparecer a campanhas de vacinação. Ele avalia, porém, outros desafios devem ser enfrentado no país, como a dificuldade logística. “Eu vejo um desafio muito grande nessa campanha de vacinação. Não temos na história do mundo a produção de uma vacina eficaz em tão pouco tempo. Temos que ter em mente que, mesmo aprovada a vacina, até começar a campanha, que seria em março, de acordo com o Ministério da Saúde, há quatro meses pela frente. Isso, acreditando que vai dar tudo certo.”

O médico questiona ainda se a vacinação deve começar pelos idosos com mais de 75 anos, profissionais de saúde e indígenas, como prevê o governo. “Essa discussão tem que ser levada a uma profundidade maior. Grande parte da mortalidade não está nesses idosos acima de 75 anos e sim na população que sai mais de casa e se expõe, entre 60 e 75 anos. A mortalidade é maior na população mais ativa.” Leia abaixo a entrevista:

O Einstein tem registrado aumento de internações de casos de covid-19?

Sim. O maior pico da doença foi em abril, quando cerca de 150 leitos do hospital chegaram a ser ocupados por casos de covid-19, sendo muitos em estado bem grave, até porque era uma doença que carecia de conhecimento maior por parte dos médicos. Depois de maio, assistimos uma queda desse pico e chegamos a um platô. Por quatro meses, o hospital ficou com cerca de 50 leitos sempre ocupados com pacientes com covid. No último mês, vimos uma ascensão e o número de internações dobrou. Hoje estamos com 106 pacientes confirmados com covid-19, dos quais entre 50 estão na UTI e na UTI semi-intensiva.

Então podemos falar que vivemos uma segunda onda?

Podemos. Nosso comportamento no Brasil é bem diferente do que houve na segunda onda na Europa. O que teve lá foi um pico muito agudo de mortes e contaminados e um lockdown rígido, que fez com que a mortalidade caísse quase a zero. Com a chegada do verão europeu, a população voltou a fazer viagens, ir às praias, restaurantes, e aí veio outro pico e a necessidade de alguns governos implementarem um novo lockdown. Aqui, não houve um pico muito agudo, porque as medidas de isolamento fizeram com que se achatasse esse pico. No Brasil, porém, nunca deixou de existir um platô de contaminação e mortalidade, como houve na Europa.

A letalidade desta segunda onda é menor?

Aqui no Einstein, os casos estão se comportando da mesma forma que o início. Não há como dizer que exista uma variação grande em tempo de permanência do tratamento. O que talvez possa influenciar é que agora médicos sabem lidar melhor com a doença, usam recursos digitais, como a telemedicina, e conseguem monitorar o paciente melhor em casa. Lidar com o paciente com covid-19 tem sido menos desconfortável do que no início, quando não se conhecia a doença.

A que o senhor atribui o aumento dos casos?

A gente procura passar a mensagem de que falta pouco, que a vacina está chegando, para que as pessoas não baixem a guarda com medidas de segurança. Acontece que as questões de saúde mental e de impactos de isolamento tornam a situação muito difícil, principalmente para os jovens. Então, voltam a acontecer encontros, idas a restaurantes, festas. Estudos mostram que, de cada dez contaminações que ocorreram entre março e maio em Nova York, oito se deram em restaurantes, bares ou academias. São ambientes fechados e o cidadão é obrigado a tirar máscara se for comer.

Nesta semana, grupos de pesquisas emitiram notas pedindo a adoção de medidas mais rígidas de isolamento social. Avalia que é o momento dos governos aplicarem lockdown?

No meu modo de ver, o lockdown ou a quarentena devem ser impostos, caso a população não compactue ou não exerça seu papel de se proteger. A experiência que temos de outros países é que, quando o sistema de saúde está estressado a ponto de não conseguir atender mais as pessoas, o lockdown é obrigatório. Por outro lado, se houver uma comunicação que consiga trazer de volta a adoção de medidas de segurança, cada vez mais vamos controlar de novo o platô.

O que deve ser feito diante da escalada da doença nas últimas semanas?

Compartilho da ideia de que alguns passos da flexibilização têm que voltar atrás. É por isso que mantemos o monitoramento contínuo da contaminação. Os feriados foram grandes exemplos disso e agora teremos as festas de fim de ano, que vão trazer mais riscos. Uma empresa que organiza um evento de ano novo para 2 mil pessoas precisa sofrer alguma intervenção antes do evento acontecer. É a morte anunciada. Lembra que a pandemia no Brasil começou com um casamento? As medidas de isolamento social são obrigatórias para que a gente não estresse mais o sistema de saúde.

Quais são esses passos que têm que ser dados para trás?

O governo de São Paulo voltou a restringir horários de restaurantes, academias. Tem um prejuízo econômico nisso, mas temos que entender que vivemos uma crise de saúde. E numa crise de saúde, o que se trata é a saúde. Não se separa a produtividade econômica da saúde, precisamos ter os dois ao mesmo tempo. O Brasil tem 5 milhões de empregos gerados só pela área da saúde. Temos que cuidar para que o sistema dê conta, porque, se a capacidade se esgotar, não tem nem como atender pessoas com covid e com outras doenças. O impacto dessas medidas adotadas nos últimos dias, de retroceder com a flexibilização, precisa ser avaliado em uns dez dias, para decidirmos se é necessário um arrocho maior ou se mantemos dessa forma.

Quais riscos traz o discurso de autoridades que minimizam o isolamento social?

É como se você estivesse no final da maratona, faltando só uma caminhadinha e você quer continuar correndo. Temos que ter em mente que, mesmo aprovada a vacina, até começar a campanha, que seria em março, de acordo com o Ministério da Saúde, há quatro meses pela frente. Isso, acreditando que vai dar tudo certo. Eu vejo um desafio muito grande nessa campanha de vacinação. Não temos na história do mundo a produção de uma vacina eficaz em tão pouco tempo. Temos que ter em mente que, mesmo aprovada a vacina, até começar a campanha, que seria em março, de acordo com o Ministério da Saúde, há quatro meses pela frente. Isso, acreditando que vai dar tudo certo.

Por quê?

O Brasil é um dos países que melhor vacina sua população, é o único que tem a cobertura vacinal completa financiada pelo governo. Culturalmente, o brasileiro se vacina, mas existe a logística da distribuição, entre outras variáveis. Não é algo tão trivial.

O governo quer iniciar a vacinação pelos idosos com mais de 75 anos, profissionais de saúde e indígenas. Como avalia isso?

Essa discussão tem que ser levada a uma profundidade maior. Grande parte da mortalidade não está nesses idosos acima de 75 anos e sim na população que sai mais de casa e se expõe, entre 60 e 75 anos. Tem que haver um debate com sociedades representativas de classes ligadas a infectologistas e agentes do governo, já que a mortalidade é maior na população mais ativa. Como vamos lidar com quem tem comorbidades? E os familiares dos profissionais de saúde?

O senhor acredita que a vacina contra a covid-19 tem que ser obrigatória?

Tem uma pesquisa com 27 países do mundo questionando se as pessoas se propõem a se vacinar. Nessa pesquisa, o Brasil apareceu com 65% dos entrevistados com desejo de tomar a vacina, enquanto alguns países da Europa, como Bélgica, Inglaterra e Alemanha ficaram entre 35% e 40%. Acredito que não seja necessário colocar a obrigatoriedade, mesmo porque conseguimos a imunidade de rebanho com 70% da população vacinada.

Qual a importância das campanhas de vacinação?

Uma campanha bem feita faz com que não haja a necessidade da palavra obrigatoriedade que, por muitas vezes, nesse ambiente que a gente vive de fake news, pode colocar mais dúvida sobre a população. É fazer a campanha como sempre foi feita.

Qual o seu conselho para as pessoas nas festas de fim de ano?

Não precisa ficar trancado em casa, mas famílias que têm parentes que são grupos de risco e que pretendem fazer uma refeição juntos, se forem todos de máscara, só tirem na hora da refeição e ao ar livre, o que traz menos riscos de contaminação. A gente não precisa voltar a perder a liberdade, desde que a gente respeite o que é essencial. É essencial ir a uma rave? A gente não vai zerar o risco nunca, mas podemos minimizá-lo. Cada vez que você tem esse tipo de postura, influencia quem está do lado.

Como disputas políticas em torno de vacinas como a Coronavac podem prejudicar o brasileiro?

No momento em que existe a politização de uma ou outra vacina, corremos o risco do apoiador desta ou daquela liderança de tomar o imunizante que ela apoia. O risco é deixar de tomar a vacina por uma ideologia e não por uma questão sanitária. Em período de pandemia, toda vez que colocamos a nossa vida em risco, colocamos a do outro também.

O Globo

 

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