“Trump” Inglês gera desinformação sobre vacina”
Foto: Alberto Pezzali/Pool via Reuters
Um artigo que viralizou nas redes sociais se aproveita de um deslize do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ao anunciar o plano de vacinação contra a covid-19 no Reino Unido, para levantar suspeitas sobre a segurança do imunizante da Pfizer. Em determinado momento do discurso, Johnson se confundiu e trocou a palavra “vacina” por “vírus”. A íntegra do discurso deixa claro sobre o que o premiê estava se referindo.
O texto, que já foi compartilhado mais de 5,5 mil vezes no Facebook, diz que “Não é uma vacina que eles querem injetar em você, é um vírus!”. O artigo é acompanhado de um trecho editado do pronunciamento de Johnson em 2 de dezembro, quando anunciou que começariam a ser distribuídas as vacinas da Pfizer para moradores de asilos, funcionários da área da saúde, idosos e pessoas do grupo de risco.
No vídeo, o premiê diz: “O Reino Unido foi o primeiro país no mundo a encomendar doses da vacina da Pfizer, garantindo 40 milhões de doses. Por meio do nosso Plano de Inverno, o National Health System estava se preparando para o maior programa de imunização em massa da nossa história. E isso começa na próxima semana. Seguindo o conselho do comitê independente, a primeira fase vai incluir moradores de asilos, funcionários da área da saúde, idosos e pessoas do grupo de risco. Mas há desafios logísticos enormes: o vírus precisa ficar armazenado a menos de 70º C e cada pessoa precisa de duas doses separadas por três semanas.”
O governo do Reino Unido disponibilizou a íntegra do discurso em sua página na internet. No trecho em que fala sobre o armazenamento, a palavra “vacina” aparece no lugar da palavra “vírus” (veja abaixo), o que comprova que o premiê se confundiu.
Não é verdade que a vacina desenvolvida pelas farmacêuticas Pfizer e BioNTech contenha um vírus. O imunizante usa uma tecnologia nova até então: ele transporta para dentro das células uma molécula genética chamada mRNA. Esta molécula estimula as próprias células do corpo humano a produzir uma proteína presente no novo coronavírus. Nosso sistema imunológico, então, reconhece essa proteína no organismo e produz anticorpos para combatê-lo. Assim, já temos anticorpos preparados para quando entrarmos em contato com o próprio vírus.
Apesar disso, outras vacinas em teste contra a covid-19 possuem sim algum tipo de vírus, mas isso não quer dizer que elas não sejam seguras. A vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca, por exemplo, se utiliza do adenovírus de chimpanzé, responsável por causar resfriado em macacos. Ele é modificado geneticamente para receber proteínas características do novo coronavírus e que serão identificadas pelo nosso sistema imunológico.
O Estadão Verifica já mostrou que há vacinas que utilizam um vírus atenuado da doença, como os imunizantes para febre amarela, sarampo, caxumba, rubéola e catapora. Nestes casos, a pessoa pode desenvolver a doença, mas isto é incomum. Além disso, o quadro da doença será mais leve do que se ela se contaminasse com o vírus ativo.
Outra tecnologia já conhecida é utilizar o vírus inativado, caso das vacinas contra tétano, coqueluche e hepatites A e B. Quando é assim, a vacina não tem como causar a infecção.
A vacina da Pfizer recebeu nesta quinta-feira, 10, o aval de um comitê consultivo da agência reguladora Food and Drugs Administration (FDA), dos Estados Unidos, para ser usada emergencialmente no país. Agora, a FDA está apta a dar a palavra final para a autorização.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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