Biden agora precisa de 1 só senador para ter maioria
Foto: ELIJAH NOUVELAGE / AFP
Os democratas ficaram mais perto de ter a maioria no Senado americano nesta quarta, após a Associated Press projetar a vitória do reverendo Raphael Warnock em um acirrado segundo turno na Geórgia, marcado pelas alegações falsas de fraude promovidas pelo presidente Donald Trump. O outro assento do estado, que determinará qual partido controlará a Casa, é disputado voto a voto, mas o democrata Jon Ossoff tem uma leve vantagem.
A vitória de Warnock sobre a atual senadora Kelly Loeffler é reflexo de uma mudança política e demográfica na Geórgia, um antigo reduto republicano. Reverendo da Igreja Ebenézer, cargo ocupado por Martin Luther King nos anos 1960, o parlamentar recém-eleito será o primeiro democrata negro a representar um estado sulista no Senado. Com 98% das cédulas apuradas, ele tem 50,6% dos votos, contra 49,4% de Loeffler, uma diferença de 53.430 votos.
No entanto, para que os democratas retomem o controle da Casa, algo crucial para a governabilidade de Biden, precisam manter a liderança na segunda disputa realizada pela Geórgia na terça. Com 98% dos votos apurados, o democrata Ossoff está à frente do atual senador David Perdue por 12.806 votos, correspondente a 0,38 ponto percentual.
As cédulas que faltam ser apuradas vêm de regiões que favorecem os democratas, mas o cenário é ainda é volátil para projetar um resultado. Caso a vitória de Ossoff se confirme, os republicanos perderão a maioria que mantém desde 2015, em um baque para o presidente Donald Trump e suas tentativas fracassadas de permanecer na Casa Branca.
Ambos os partidos terão 50 senadores, mas o voto de minerva caberá à vice-presidente, Kamala Harris, que acumula a função de presidente do Senado. Se isso ocorrer, os democratas terão o controle de ambas as Casas do Legislativo (a maioria na Câmara foi mantida nas eleições de novembro), um bem-vindo catalisador para a implementação da agenda de Biden.
— Nos disseram que não poderíamos vencer essa eleição — disse Warnock, em um curto discurso de vitória. — Mas nesta noite provamos que com esperança, trabalho duro e pessoas ao nosso lado, tudo é possível.
Pela lei da Geórgia, um segundo turno é necessário quando nenhum candidato chega a 50% dos votos, exatamente o que aconteceu em novembro. Ao todo, mais de 4 milhões de cidadãos da Geórgia foram as urnas, um recorde para votações fora de época. O comparecimento foi inclusive superior ao da eleição presidencial de 2016, tamanho o simbolismo da disputa.
A participação em áreas com populações negras foi particularmente maciça, chegando a níveis similares aos de novembro. Há anos, democratas se mobilizam na Geórgia para registrar novos eleitores e incentivar o voto entre grupos minoritários, cuja participação política é propositalmente dificultada há décadas, em uma tentativa de manter o establishment no poder.
O comparecimento em condados majoritariamente brancos, redutos republicanos, foi aquém do esperado, no entanto.Para analistas, parte da culpa recai sobre Trump: por um lado, as tentativas de pôr em xeque a credibilidade do sistema eleitoral podem ter afastado grupos mais conservadores que não viram sentido em participar de uma eleição que consideram, mesmo sem quaisquer evidências, ser fraudada. Por outro, podem ter desencorajado setores moderados que as veem como um ataque às normas democráticas.
Diante da liderança democrata neste segundo turno, Trump voltou a pôr em xeque a lisura do sistema eleitoral do estado, mesmo sem quaisquer evidências de irregularidades. Ao menos seis postagens escritas ou compartilhadas pelo presidente sobre o assunto durante a madrugada foram sinalizadas pelo Twitter por conterem informações enganosas.
Mesmo antes das urnas fecharem, segundo o New York Times, autoridades republicanas se preparavam para culpar Trump pelo resultado. Sua resistência a reconhecer a vitória de Biden lhes roubou um argumento-chave: de que um Senado controlado por republicanos seria essencial para evitar uma guinada à esquerda durante o governo Biden.
As eleições na Geórgia aconteceram apenas um dia antes da sessão plenária do Congresso para contar os votos do Colégio Eleitoral, que confirmou a vitória de Biden em 14 de dezembro. Senadores e deputados contarão os votos a partir das 15h desta quarta e deverão confirmar a vitória de Bidem, última etapa antes de sua posse no próximo dia 20.
Habitualmente simbólica, a plenária ganha atenção devido a Trump, que tenta pressionar o vice-presidente Mike Pence para que ele não ratifique o voto popular na sessão do Congresso. Cabe a Pence, na qualidade de presidente do Senado, presidir a sessão, mas seu papel é meramente cerimonial, ao contrário do que o presidente argumenta.
Em um almoço na Casa Branca na terça, o vice teria ido contra o presidente e lhe dito que irá cumprir sua função constitucional e que não tem autoridade para mudar o resultado. Ainda assim, Trump voltou a pressioná-lo nesta quarta, tuitando durante a madrugada que se o vice-presidente agir, “nós venceremos a Presidência”. A postagem foi sinalizada pelo Twitter por conter informações potencialmente falsas.
Em uma iniciativa paralela, uma dúzia de senadores, entre eles Loeffler, e mais de 140 deputados republicanos afirmaram que irão apresentar objeções à certificação do resultado, forçando a plenária a debater a eliminação de votos em estados-chave — algo sem precedentes na História recente americana. A medida, no entanto, é fadada ao fracasso, já que a moção demanda um voto em ambas as Casas. Os democratas controlam a Câmara e muitos senadores republicanos reconhecem a vitória de Biden.
O clima é, ainda assim, de tensão. Aliados de Trump e grupos de extrema direita convocaram protestos em Washington enquanto o Congresso se reúne, levando a prefeitura a reforçar a segurança da capital. O próprio presidente prometeu participar do evento, afirmando que dará um discurso no início da tarde.
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