Bolsas ignoram show de Trump e comemoram sua saída

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Foto: SAUL LOEB / AFP

Nem mesmo as cenas históricas de invasão do Capitólio nos Estados Unidos por simpatizantes do presidente Donald Trump, que não reconhece a derrota para o democrata Joe Biden, esfriaram o ânimo dos investidores nas bolsas americanas na quarta-feira, 6. Os índices Dow Jones e o S&P 500, que já vinham subindo quase 2% durante o pregão, terminaram o dia em campo positivo, com ganho de 1,44% e 0,57%, respectivamente. O que explica essa aparente contradição do mercado?

Quando a confusão no Congresso nos EUA começou, no final da tarde, as bolsas americanas perderam fôlego, mas continuaram embaladas pela chamada ‘onza azul’, dizem os analistas de mercado. A ‘onda azul’ vai se concretizar com as últimas duas vagas no Senado, com representantes do estado da Geórgia. Com isso, o partido terá a presidência, além do controle da Câmara e do Senado.

“Se por um lado, os democratas tendem a taxar grandes fortunas e grandes empresas, especialmente de tecnologia, por outro lado, a tendência é que eles gastem mais em investimentos públicos, como infraestrutura, e em estímulos econômicos. E especialmente nesse cenário de aumento de casos de Covid-19 nos EUA, Joe Biden já sinalizou que não pretende fazer um segundo lockdown, um dos receios nos mercados” disse Frederico Pasquali, diretor da mesa de investimentos da Ável Investimentos.

É isso que explica o fôlego dos pregões americanos num dia de confusão. Para Aline Tavares, responsável pela área de análise de ações da Spiti, o que se viu nesta quarta-feira no mercado foi a chamada “inversão de ações”, diante da possibilidade da ‘onda azul’ se concretizar. Nesse movimento, os investidores deixam de lado as ações de empresas de tecnologia – e por isso o índice Nasdaq terminou o dia negativo em 0,61% – e ganham força os papéis de empresas ligadas à economia real.

“Os investidores trataram a invasão do Capitólio como algo pontual. Claro que o evento trouxe volatilidade ao mercado americano, que perdeu um pouco de força. Mas a alta do S&P 500 e do Dow Jones, índices que agrupam companhias da economia real, mostra que os investidores acreditam que a confusão no Congresso americano não tem cunho institucional e a ‘onda azul’ deve se concretizar”, disse a analista da Spiti, lembrando que o próprio presidente Trump pediu aos manifestantes, em vídeo, que voltassem para casa.

Investidores de outras praças também reagiram positivamente a este cenário de materialização da ‘onda azul’. Na Bolsa brasileira, as ações de empresas ligadas a aço, minério de ferro, petróleo fecharam em alta, embora o Ibovespa, índice de referência do mercado de ações brasileiro, tenha perdido força e fechado negativo em 0,23%. Mas durante a sessão, o Ibovespa chegou a cravar pontuação histórica de 120.924 pontos também embalado pela possibilidade de vitória dos democratas no Senado.

Na avaliação dos investidores, a ‘onza azul’ abre as portas para a aprovação de medidas de estímulo à economia, tanto pelo lado da demanda (mais suporte financeiro de curto prazo às famílias e empresas) quanto pelo lado da oferta (implementação de projetos de infraestrutura e energia renovável).

“Naturalmente, isso tem potencial de destravar valor de ativos de setores ligados ao ciclo econômico, como construção, utilities e indústria”, escreveram os analistas da Guide Investimentos.

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