Evangélicos engrossaram as hordas fascistas de Trump
Foto: JOSEPH PREZIOSO / AFP
Antes que os autoproclamados membros do grupo de extrema direita conhecido como Proud Boys marchassem até o Capitólio na quarta-feira, 6 de janeiro, eles pararam para se ajoelhar na rua e rezar em nome de Jesus.
O grupo, cujos participantes defendem visões misóginas e anti-imigração, rezaram a Deus para que trouxesse “reforma e reavivamento”. Deram graças pela “maravilhosa nação na qual têm a bênção de viver”. Pediram a Deus a recuperação dos seus “sistemas de valores” e pela “coragem de representá-Lo e representar sua cultura”. E invocaram a proteção divina para o que estava por vir.
Então se levantaram. Seu líder gritou em um berrante que a imprensa deveria “sair de sua frente”. Então seguiram para o Capitólio.
A presença de ritos, símbolos e linguagem cristã se destacava na quarta-feira em Washington. Havia um cartaz dizendo “Jesus 2020”, em azul e vermelho; um patch “armadura de Deus” preso nas roupas de um homem; uma cruz branca declarando que “Trump venceu” em letras maiúsculas. Tudo isso misturado a alusões às teorias da conspiração do QAnon, bandeiras confederadas e camisetas com dizeres antissemitas.
A junção de referências culturais e as pessoas que as levaram deixaram claro o fenômeno que vem fermentando há anos: de que os mais extremos pólos de apoio a Donald Trump se tornaram parte intrínseca de setores do poder evangélico branco nos EUA. Ao invés de demonstrar suas visões pró-Trump de forma separada, esses grupos acabaram se unindo.
Essa união poderosa de ressentimento e fervor religioso turbinou o apoio entre uma ampla parcela dos que são leais a Trump, muitos dos quais se veem como participantes de uma espécie de guerra santa, de acordo com entrevistas. E muitos dos que nadam em mentiras sobre as eleições e a invasão em si, disseram na quarta-feira que o ataque apenas exacerbou um sentimento de vitimização e incompreensão.
Lindsay French, de 40 anos, cristã evangélica do Texas, voou até Washington depois que recebeu o que chamou de “sinal divino” para participar, depois que seu pastor incentivou seus fiéis a “parar o roubo”, como os trumpistas se referem às acusações de fraude eleitoral.
— Estamos em uma luta do Bem contra o Mal, Escuridão contra a Luz — afirmou, dizendo ainda estar se elevado como a rainha Esther, heroína da Bíblia que salvou seu povo da morte.
Ela ainda reconheceu que houve alguma violência, mas insistiu na mentira de que os Antifas estavam por trás da invasão.
— Estamos cansados de sermos comparados àquelas pessoas horríveis — disse.
Como muitos republicanos no Congresso, alguns líderes evangélicos que têm sido os maiores apoiadores de Trump se afastaram, assim como sua religião, dos invasores. Robert Jeffress, pastor da Primeira Igreja Batista de Dallas, chamou os atos de “anarquia”. O cerco ao capitólio “não teve nada a ver com o cristianismo”, disse.
— Nosso apoio ao presidente Trump é baseado em suas políticas.
Mas críticos dizem que era muito tarde para tentar separar a cultura branca, conservadora e cristã que ajudou a impulsionar Trump ao poder da violência do dia 6 de janeiro em Washington.
— Você não entenderá o que aconteceu hoje sem enfrentar o nacionalismo cristão — disse Andrew Whitehead, sociólogo na Universidade de Indiana / Universidade Purdue de Indianápolis, completando que os movimentos evangélicos brancos há muito tempo toleram o extremismo de extrema direita, mesmo antes de Trump. — Eles forneceram as bases políticas e teológicas dessa situação, e isso permitiu que a anarquia reinasse.
Em um vídeo gravado em Washington na segunda-feira, o pastor do Tennessee Greg Locke se apontou como parte do “regimento dos robes negros”, referência aos cléricos que agiram ativamente na Revolução Americana. Em um discurso no dia seguinte, pregou a uma multidão de apoiadores do presidente na Freedom Plaza, prevendo que “não é apenas um grande despertar, mas o maior despertar que já vimos”.
O ataque na quarta-feira, levado adiante por pessoas majoritariamente brancas, também ilustrou a divisão racial no cristianismo nos EUA.
Horas antes do ataque no Capitólio, o reverendo Raphael Warnock, da Igreja Batista Ebenezer, em Atlanta, foi eleito para o Senado depois que muitos cristãos conservadores brancos tentaram mostrá-lo como um radical perigoso, mesmo que sua campanha tenha fincado as raízes na visão tradicional da Igreja negra. Por muitos anos, cristãos negros alertaram os fiéis brancos de que a retórica racial de Trump ia acabar mal.
— Nossos alertas foram ignorados — disse Jemar Tisby, presidente de um coletivo cristão negro chamado Testemunha. — Isso (ataque ao Capitólio) é o cristianismo branco à mostra. O desafio dos EUA brancos e cristãos é examinar o que eles fizeram religiosamente.
No Capitólio, os senadores que apresentaram objeções aos resultados eleitorais estão entre os mais proeminentes cristãos conservadores em seu partido, incluindo Ted Cruz, Josh Hawley e Cindy Hyde-Smith.
Os frutos da aliança entre grupos de extrema direita — cristãos e de outros tipos — ficaram claros na quarta-feira, antes da confusão começar, quando milhares de apoiadores de Trump se juntaram para contestar a certificação dos resultados da eleição presidencial, com Joe Biden vencendo Trump, mesmo depois de tentativas para desacreditar a votação. Muitos na plateia eram evangélicos brancos que se sentiram impelidos a viajar centenas de quilômetros até Washington.
As mentiras sobre a integridade da eleição — e agora sobre as raízes da violência de quarta-feira — se infiltraram profundamente nos círculos cristãos. Crenças apocalípticas evangélicas sobre o fim do mundo e sobre o julgamento divino se mesclam com as teorias da conspiração do QAnon que falsamente dizem que o país está dominado por burocratas do “Estado profundo” e pedófilos.
Abigail Spaulding, dona de casa e mãe de 15 filhos que viajou para o protesto com seus amigos da igreja na Carolina do Sul, desabou em lágrimas ao falar sobre seus medos relacionados aos filhos em um governo Biden. Disse que seu marido explicou às crianças que assim que Biden for empossado, eles “podem pegar a Bíblia, dizer que é discurso de ódio e jogar fora”. Ela tem ainda outras preocupações sobre Biden, retiradas da Facebook e Twitter — todas falsas.
Em Kalamazoo, no Michigan, Laura Kloosterman foi à missa na quarta-feira e rezou para que o Congresso não certificasse a vitória de Biden. Ela leu relatos online sobre máquinas de votação ignorando alguns votos de Trump — não há evidência sobre essas alegações, as quais Trump e vozes de extrema direita vêm promovendo.
Kloosterman acompanha o autor e radialista evangélico Eric Metaxas, que afirmou de maneira constante que os resultados foram fraudulentos. Metaxas, que bateu em um manifestante do lado de fora da Casa Branca no ano passado, disse a Trump em uma entrevista em novembro que “ficaria feliz em morrer por essa luta”. A conversa era sobre as tentativas para derrubar os resultados das urnas. “Deus está conosco”, declarou.
Desde os tumultos muitos dos que eram simpáticos à causa se disseram enraivecidos com a remoção de Trump e aliados de redes sociais, como o Twitter, e a saída do ar da plataforma conservadora Parler. Eles veem os movimentos como parte de uma conspiração ampla para silenciar o cristianismo. E estão olhando adiante para garantir que serão ouvidos.
Adam Phillips, que trabalha com a instalação de drywall em Robbinsville, na Carolina do Norte, teve que trabalhar e não foi a Washington no dia 6 de janeiro. “Deus não viu como possível”, disse, mas ele compareceu a duas marchas desde novembro na capital americana.
— Parece óbvio há algum tempo que os cristãos estão sendo oprimidos, estão sob a lupa de todos — declarou. — Todas as coisas sobre as quais este país foi fundado estão sob ataque, tentam tirar o nome de Deus de tudo, especialmente o nome de Jesus.
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