Governador de Minas culpa Bolsonaro por vacinação atrasada

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Foto: Maria Tereza Correia/Valor

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), considera que o governo do presidente Jair Bolsonaro errou na preparação de uma campanha de vacinação contra covid-19 e que as doses já poderiam estar sendo aplicadas. A falha, segundo disse em entrevista ao Valor no fim da tarde de ontem, foi ter ficado, desde o início, nas mãos de poucos fornecedores. Para ele, se o governo federal tivesse negociado com mais laboratórios para garantir o fornecimento o quanto antes uma ou mais vacinas poderia já estar disponível. Eleito em 2018 com voto de bolsonaristas, Zema, no entanto, prefere poupar o presidente ao falar do avanço das contaminações. E diz que não é possível afirmar que o Brasil teria menos mortes e casos da doença caso Bolsonaro tivesse não tivesse adotado desde o início uma postura negacionista em relação à pandemia.

Ao falar de seu partido — ele é o único governador do Novo –, Zema afirma que a fase da utopia já passou. Defende que a legenda reveja os critérios de escolha de candidatos — que hoje precisam passar por um processo seletivo semelhante ao que é feito no mundo corporativo.

“Com toda certeza vai ter de mudar aquele conceito utópico que teve no início”, disse. O governador avalia que se o partido não flexibilizar suas regras internas, vai acabar “ficando deslocado nesse mundo político”. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: Os governadores já foram informados sobre o dia do início da vacinação no país?

Romeu Zema: Temos uma reunião com o ministro Pazuello no dia 19. É bem provável que ele venha anunciar que um, dois ou três dias depois as vacinas começarão a ser distribuídas. A reunião seria realizada ontem [anteontem], mas devido a uma série de questões foi postergada para o dia 19.

Valor: Que mudanças o início da vacinação deve trazer para país?

Zema: O início do processo de vacinação vai indicar de certa maneira que vamos ter, mesmo que leve um, dois ou três meses, o controle da pandemia. Lembrando que nos últimos 45 dias a situação se deteriorou muito. O número de casos, de pessoas internadas, é hoje superior ao do auge da primeira onda, em julho, agosto. E o que assusta é que as pessoas nessa segunda onda estão cansadas. Antes as pessoas estavam disponíveis a fazer alguma restrição. Mas esse tipo de exigência vai exaurindo as pessoas. E no pico do verão, querer que as pessoas, que muitas vezes não têm habitação confortável, fiquem dentro de casa é algo muito difícil. A vacina vai trazer esperança para todos.

“A Anvisa vai analisar as vacinas pelo lado eminentemente técnico. Se aprovar, é porque merece crédito”

Valor: Com base dos dados que estão disponíveis até agora, o senhor confia na vacina do Butantan/Sinovac tanto quanto na da Oxford/AstraZeneca?

Zema: Eu considero que a Anvisa é um órgão responsável que estará analisando as vacinas pelo lado eminentemente técnico. Ela foi constituída com essa finalidade e para aquilo que a Anvisa dá aval eu considero que foi bem avaliado. Se começarmos a discutir se remédios na farmácia têm ou não efeito, vamos ficar neuróticos. Tenho certeza que a agência vai ser muito criteriosa nessa questão. Se Anvisa aprovar, com certeza é porque merece crédito.

Valor: O Brasil já poderia ter começado a vacinação? O que deu errado?

Zema: Com toda certeza poderia. Vejo que esse processo da Anvisa acaba contribuindo para que se atrase um pouco, apesar que os estudos tanto da Coronavac quanto da AstraZeneca foram concluídos recentemente. Mas sempre dá para melhorar esse processo burocrático. E o governo federal poderia ter estudado outras alternativas de vacina. Quanto mais fornecedores você tem, melhor. Se um atrasa, se um tem algum problema, você recorre a outros. Nesse ponto, me parece que a condução poderia ter considerado mais alternativas e não ter ficado dependente de poucos fornecedores.

Valor: Minas receberá vacinas dos dois laboratórios?

Zema: Tanto Minas quanto outros Estados receberão as vacinas que o ministério encaminhar. Não há decisão nossa, de nenhum governador, quanto à marca da vacina. Só vamos executar o plano. E estamos preparados. Desde setembro, outubro, planejamos a aquisição de agulhas e seringas e Minas adquiriu 50 milhões. Assim que a vacina chegar em Minas Gerais, em 24 horas ou 48 horas o processo será iniciado nas 853 cidades.

Valor: O Brasil teria tido menos mortes se o presidente tivesse adotado uma postura diferente em relação à pandemia?

Zema: É muito difícil simular uma situação dessas. Nós temos países em que o líder nacional teve uma postura muito diferente daqui do Brasil e nem por isso a taxa de mortalidade está menor do que a nossa. Inclusive países desenvolvidos. A Bélgica, por exemplo, tem taxa de mortalidade muito maior que a do Brasil. Acho que todo gestor público deveria, sim, fazer tudo o que está a seu alcance para preservar a vida das pessoas, deixando claro que o vírus é perigoso e toda medida é bem vinda. Mas, isso por si só, talvez não seja suficiente para deter a pandemia.

Valor: Sobre auxílio emergencial: o governo federal deveria continuar pagando ou garantir algum aumento no Bolsa Família?

Zema: O auxílio foi extremamente importante. Fez com que milhões de pessoas tivessem condição de passar por esses dias difíceis da pandemia. Importante lembrar que pandemia ainda não acabou. Estamos talvez num momento mais crítico do que em agosto. Qualquer tipo de auxílio neste momento seria muito adequado. O mercado de trabalho vai demorar um pouco a reagir. Eu considero adequado e considero também que talvez o auxílio como foi concebido lá atrás foi um pouco exagerado. Tem pessoas que não precisariam de R$ 600 e receberam. Talvez rever o Bolsa Família, quem realmente precisa, faça com que o recurso chegue a quem realmente precisa e não [seja pago] sem critério.

Valor: Sobre 2022: Bolsonaro terá seu apoio? E o senhor gostaria de ter o apoio dele em uma campanha de reeleição em MG?

Zema: Está muito distante 2022. Eu tenho aqui tanto incêndio para apagar no Estado…O meu apoio é ao plano de reformas do presidente Bolsonaro. Nosso apoio, eminentemente, é a esse tipo de governo reformista, muito mais do que apoio à pessoa dele. Se esse governo mudar de rumo pode ser que a gente mude de opinião também. É muito difícil prever.

 

“Estamos talvez num momento mais crítico do que em agosto. Qualquer tipo de auxílio neste momento seria muito adequado”

Valor: O senhor está de acordo com a linha de João Amoêdo, que prega oposição ao presidente?

Zema: Aquilo que o Amoêdo fala, eu respeito. Mas é opinião dele e muitas vezes não coincide com a minha e com a opinião de deputados. Quem está no campo de batalha, como nós estamos, muitas vezes acaba tendo um posicionamento diferente de quem está distante e mais seguro. Opinião dele é válida. Mas muitas vezes nós, que estamos em campo de batalha, temos que agir de modo diferente. É um partido que está totalmente aberto a opiniões distintas. Caso contrário, não seríamos liberais.

Valor: O senhor defende que o Novo passe a aceitar coligações? Isso ajudaria seus planos de reeleição e para outros candidatos?

Zema: O Novo não é fechado a coligações. É fechado a algumas práticas, tipo um candidato ficha suja poder ser eleito. Ou um vereador ter lá 20 assessores. Com toda a certeza, nesses dois anos antes da próxima eleição, o partido vai estar analisando seriamente. Está muito claro que ter alianças com partidos sérios, que tenha pessoas boas é totalmente plausível e recomendável. Não nos consideramos o dono da verdade. O Novo, que agora tem um novo presidente, o Eduardo Ribeiro, está revendo uma série de posicionamentos. Não vamos abrir mão da ética, da seriedade. Mas ter um processo seletivo [um processo semelhante ao de empresas privadas para selecionar seus candidatos] que considere outras questões e que muda um pouco o que foi feito até agora, com certeza vai acontecer. É um partido que está aprendendo. E somente agora elegeu seu primeiro prefeito. E com toda certeza vai ter de mudar aquele conceito utópico que teve no início. A ética continua, a seriedade continua, mas você não pode ser excessivamente conservador porque caso contrário você acaba ficando deslocado nesse mundo político.

Valor: A que o senhor se refere ao dizer que se pode ser excessivamente conservador?

Zema: Um exemplo: Tivemos várias cidades em que o número de candidatos lançados não foi suficiente para atingir o número que elegesse um vereador. E vários candidatos não foram selecionados na pré-seleção feita pelo partido. Se tivessem sido, o partido teria eleito alguns vereadores. Tem uma régua muito elevada hoje [no partido]. Em política, não é só qualidade que conta; quantidade conta também. Não precisamos ter só super deputados. Temos de ter bons resultados. Essa régua vai ter de ser revista. Muito melhor é ir para guerra com 100 soldados bons do que só com 10 super soldados. O partido tem de rever isso. Se você acaba não elegendo essas pessoas, acaba cedendo espaço, muitas vezes para quem não é ético. O partido, com certeza, vai estar revendo alguns critérios, o que é muito bom.

Valor: Sobre políticas de isolamento social em Minas: o senhor e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, têm adotado posturas diferentes na pandemia. O senhor, mais no sentido de flexibilizar, e o Kalil, mais favorável ao fechamento. Como o senhor avalia a gestão dele na pandemia.

Zema: Criamos durante a pandemia o Minas Consciente, que classifica as macro e micro regiões do Estado e também de cidades de acordo com o nível de segurança em relação ao atendimento hospitalar. Onde os leitos estão quase que esgotados e o nível de contágio está elevado vai ser direcionado para onda vermelha. Cabe a cada prefeito aderir ou não, seguir ou não, o Minas Consciente. Uma grande quantidade aderiu. E há uma decisão do STF, que fechar ou permitir estabelecimentos comerciais e de serviços é atribuição do prefeito. Minas é o Estado que tem a menor taxa de óbito no Brasil, o que provavelmente reflete que esse plano foi bem construído e que a maioria dos prefeitos tem feito bom uso. Seria pretensão da minha parte querer criticar e analisar o ato dos 853 prefeitos do Estado.

Valor: O senhor considera Kalil seu antagonista em 2022 na disputa pelo governo de Minas?

Zema: O futuro está tão longe, tem tanta água para passar embaixo da ponte. Eu tenho tantos incêndios para apagar e eu não estou muito preocupado com esse futuro tão distante. Essa preocupação não seria produtiva nesse momento. Espero que ele consiga conduzir a prefeitura da melhor forma.

Valor: Em relação ao desastre de Brumadinho. O governo de Minas vem pleiteando ser indenizado em R$ 54 bilhões pela Vale, afirmando que o desastre de Brumadinho, que completa dois anos no dia 25, causou dados econômicos e morais ao Estado. Quando o governo e a empresa devem fechar o acordo sobre isso?

Zema: Nós queremos e esse acordo necessariamente precisa ser fechado até o dia 25. É uma data limite do Ministério Público para que esse acordo seja concretizado. Eu estou otimista. As notícias que tenho são que as conversas foram muito boas esta semana e que pontos para serem costurados vão bem. Tudo indica que nos próximos dias esse acordo seja concretizado.

Valor: Um tema que tem sido tratado desde a campanha: o senhor vai tentar privatizar a Cemig até o fim do mandato?

Zema: A nossa grande prioridade no momento é a privatização, a venda de uma fatia da Codemig [Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, que representa o Estado na sociedade com a maior companhia do mundo de nióbio, a Companhia Brasileira de Metalúrgia e Mineração, CBMM, controlada pela família Moreira Salles]. [O pedido de autorização para a venda da Codemig] está na Assembleia Legislativa. Hoje temos permissão para venda de 49% da Codemig, mas queremos permissão para a venda de 51%. Isso faz que o ativo dobre de valor. Ninguém quer ser sócio de um Estado majoritário. As pessoas querem ser sócias de Estado minoritário para não sofrer interferências que, muitas vezes, acabam fazendo com que o valor de uma empresa seja reduzido. Solicitamos que Assembleia aprove a privatização da Codemig de maneira majoritária.

Valor: Todos os Orçamentos de Minas têm sido deficitários desde 2015. O de 2021 também. Quando o senhor considera que o Estado pode zerar o déficit e o que precisa ser feito para isso?

Zema: Uma série de fatores são necessários para que o equilíbrio venha acontecer e aquilo que depende do nosso governo tem sido feito. Redução de despesas de toda natureza, pessoal, de contratos, de terceirizados. Fizemos a reforma da Previdência. Dependemos de uma reforma administrativa que está em Brasília. Ela seria muito importante e principalmente se incluísse Estados e municípios. Temos um crescimento orgânico de despesas no setor público que faz que receitas não acompanhem. Essa reforma é primordial. E eu ainda conto com essas reformas que têm impacto uma vez, como as privatizações. Essas empresas [como a Cemig] são fatores indutores do desenvolvimento. Empresas em todo o Estado têm sofrido com relação ao fornecimento de energia elétrica. Temos empresas movidas parcialmente a geradores, pagando pela energia três ou quatro vezes mais do que pagariam porque temos uma operadora que não consegue entregar energia em volume e adequadamente em várias áreas do Estado. Quem está nesta situação, está muito mais pensando em ir embora de Minas do que em aumentar capacidade produtiva aqui. Não queremos vender o que o Estado tem da Cemig. Se Cemig receber aporte de R$ 15 bilhões para colocar num ponto adequado sua infraestrutura de transmissão e distribuição e com isso o Estado ter participação menor, é o que nos queremos. O importante é trazermos o investimento. Para quem está dentro da Cemig é oportunidade. Essa empresa vai aumentar de tamanho. Vai ter de contratar mais pessoas. Esses investimentos vão movimentar a economia e vão disponibilizar mais energia, principalmente para o setor produtivo.

Valor: A Cemig anunciou há alguns dias a decisão de zerar sua participação na Light. A Cemig vai fazer nos próximos meses outros movimentos de zerar participações ou de se desafazer de ativos?

Zema: É muito provável que sim. Está dentro do contexto. Como você, que sequer consegue atender adequadamente o consumo dentro do Estado, sai fazendo investimentos em outros Estados? O que estamos fazendo é trazer esse recurso para dentro da empresa para que o mineiro fique bem atentido ou mais bem atendido. Bem atendido só vai ficar quando empresa vier a receber um aporte de R$ 15 bi.

Valor: O senhor disse muitas vezes que a adesão de Minas Gerais ao Regime de Recuperação Fiscal era a única tábua de salvação. Mas essa adesão ainda não ocorreu porque Minas tem aguardado possíveis mudanças na lei do RRF, que podem ser decididas no Congresso. Até quando Minas pode aguardar? Essa continua sendo a tábua de salvação do Estado?

Zema: O quanto antes nós aderirmos, melhor. As nossas contas demonstram claramente que nós temos todo ano déficit que vem se acumulando. No ano passado só conseguimos encerrar o ano porque tivemos receitas extraordinárias que coincidiram com esse período difícil. Veio aquela verba para compensar a queda na arrecadação do ICMS. Tivemos receitas extraordinárias, mas não podemos ficar contado com isso. O ideal é que Minas faça adesão ao RRF até meados do ano. Caso contrário, a situação vai acabar ficando estagnada ou até regredindo. Conseguimos fazer avanço em 2020 em relação ao pagamento de 13o. salário. Há cinco anos nenhum funcionário público via a cor do 13o. em dezembro. Conseguimos pagar todos aquele que ganham até R$ 4 mil. Não deixou de ser um avanço. Tudo isso pode ser perdido se não aderirmos ao regime de recuperação fiscal. Porque o serviço da dívida, da forma que está estruturado hoje, inviabiliza o Estado.

Valor Econômico

 

 

 

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