Governantes de esquerda ironizam “democracia” nos EUA

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Foto: AP Photo/Esteban Felix/Thibault Camus/

O primeiro em reagir foi o regime de Nicolás Maduro cuja legitimidade é desconhecida pelas principais democracias do mundo.

“A Venezuela expressa a sua preocupação com a violência na cidade de Washington, condena a polarização política e aspira que o povo estadunidense possa abrir um novo caminho rumo à estabilidade e à justiça social”, publicou nas redes sociais Jorge Arreaza, ministro das Relações Exteriores da Venezuela.

 

“Com este lamentável episódio, os Estados Unidos padecem o mesmo que geraram em outros países com as suas políticas de agressão”, acrescentou uma nota da Presidência venezuelana.

O presidente argentino, Alberto Fernández, também manifestou o seu “repúdio aos graves episódios de violência e de atropelo ao Congresso”.

 

“Confiamos numa transição pacífica que respeite a vontade popular e expressamos o nosso mais firme apoio ao presidente eleito, Joe Biden”, publicou Fernández nas redes sociais.

Lembrando que há cinco anos, sua atual vice-presidente, Cristina Kirchner, se recusou a ir ao Congresso para a cerimônia de transição ao então presidente eleito Mauricio Macri.

“É essa a demonstração da democracia robusta que nos indicaram durante anos?”, questionou ironicamente Aníbal Fernández, ex-chefe de gabinete de Cristina Kirchner e atual aliado do governo argentino.

O caos gerado pelos agitadores que invadiram o Capitólio lembrou cenas com as quais os latino-americanos acostumaram-se ao longo de décadas de instabilidade política, durante as quais foram criticados ou mesmo invadidos pelos Estados Unidos sob pretexto de uma suposta defesa da democracia.

“Os Estados Unidos sempre se apresentaram como um exemplo de governabilidade democrática e de vigências das instituições, mas agora deixaram um péssimo exemplo para a região”, avalia o analista político argentino, Sergio Berensztein, para quem “se até pouco tempo, os Estados Unidos viam a necessidade de impor a democracia em outra latitudes, incluindo invasões, agora terão uma oportunidade para uma auto-reflexão”.

“Vi uma publicação com ironia na qual diziam que esse episódio no Capitólio deveria levar os Estados Unidos a invadirem-se a si mesmos já que este enorme retrocesso democrático precisaria de uma intervenção como as que os Estados Unidos acostumaram a região”, aponta Berensztein.

Do outro lado, sem ironias, a direita latino-americana preferiu elogiar os valores democráticos e interpretar o episódio no Capitólio como um fato isolado.

 

“O Chile rejeita as ações destinadas a alterar o processo democrático nos EUA e condena a violência e a indevida interferência nas instituições constitucionais. O Chile confia na solidez da democracia estadunidense para garantir o império da lei e do Estado de direito”, publicou, nas redes sociais, o presidente chileno, Sebastián Piñera.

Numa mensagem quase idêntica, o presidente colombiano, Iván Duque, também destacou a força das instituições norte-americanas.

“A Colômbia tem plena confiança na força das instituições dos Estados Unidos, assim como nos valores do respeito pela democracia e no império da lei partilhados pelos nossos países”, pediu Duque em forma de elogio.

O presidente do Equador, Lenín Moreno, seguiu pela mesma linha de exaltação da institucionalidade dos Estados Unidos.

“Devem ser respeitados o direito tradicional e a institucionalidade dos Estados Unidos”, publicou Moreno.

Para o analista internacional, Sergio Berensztein, o episódio no Capitólio é uma evidência das consequências do populismo que, no continente americano, afeta líderes tanto da direita quanto da esquerda.

“Para aqueles que banalizam o populismo, essas são as consequências: a ruptura da ordem institucional e a crise da cultura democrática. A força impõe-se sobre a lei e traduz-se numa perda da convivência civilizada com respeito e pluralismo”, observa.

“As lideranças predatórias aprofundam as tensões que existem na sociedade. Elas têm a característica de provocar esse tipo de episódios, que deixam feridas numa sociedade que precisará depois de um longo período para cicatrizá-las”, conclui Berensztein.

Rfi 

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