Governo montou força-tarefa para tratar com China sem Ernesto Araújo
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Os erros da política externa têm no Brasil da pandemia uma medida trágica. Custam vidas. Nos últimos dias foi uma correria em Brasília para tentar apagar incêndios que foram provocados pelo Itamaraty e diretamente pelo ministro Ernesto Araújo. É uma total inversão da ordem natural, que outros tenham que fazer diplomacia para evitar os efeitos dos atos e palavras do ministro das Relações Exteriores. A demissão de Ernesto Araújo é o melhor a fazer. Sua política externa nos levou a uma crise diplomática com a China, ao afastamento em relação a parceiros como a India, e à irrelevância diplomática.
Em geral, os erros diplomáticos cobram preços em acordos comerciais, em posições de destaque, em perda de posições estratégicas. Desta vez o custo é impagável, porque brasileiros estão morrendo por causa do isolamento internacional provocado por erros em série. Hoje é da China que virão os insumos tanto do Butantan quanto da Fiocruz.
Outras autoridades estão sendo chamadas pra fazer o trabalho dele. O governo nomeou uma força-tarefa para tentar restabelecer as relações com o país asiático para que liberem as matérias-primas para produção das vacinas. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, foi convocada, o ministro das Comunicações, Fábio Farias, o vice-presidente Hamilton Mourão.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ontem falou com o embaixador. Quem tinha que ter boas relações com o embaixador Yang Wanming deveria ser o ministro das Relações exteriores. Foco em “Relações Exteriores”. Esse é o emprego dele. Se outros têm que fazer esse papel, a demissão é a solução lógica.
O ministro das relações exteriores deveria ter um diálogo bom, franco e cordial com todos os embaixadores, principalmente com o da China, nosso maior parceiro comercial. Mas ele obstruiu os canais diplomáticos com agressões gratuitas. Cometeu uma série de erros primários que um diplomata não pode cometer. Em novembro, soltou uma nota admoestando publicamente o embaixador por ter respondido a uma grosseria do deputado Eduardo Bolsonaro. Disse que o embaixador não deveria ter usado a mídia social, como se ele não a usasse constantemente. E atacou o embaixador para bajular o mal criado filho do presidente que ocupa a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
O governo brasileiro colocou o país numa posição de desimportante. Escolheu deliberadamente a irrelevância. Nos organismos internacionais, quando o assunto é defesa de direitos humanos, direitos da mulher, principalmente, o Brasil tem votado junto com a Arábia Saudita e outros fundamentalistas para vetar qualquer avanço no tema. Na OMC, quando foi discutida no ano passado a flexibilização de patentes de remédios durante a pandemia, o Brasil se juntou aos países ricos contra a India, autora da proposta. E assim colocou o interesse dos Estados Unidos na frente dos interesses do próprio Brasil.
Ontem, o presidente Bolsonaro enviou uma carta tardia ao presidente Biden, quando durante toda a campanha ele e sua família fizeram campanha para Trump, cometendo outro erro básico: tomar partido numa disputa interna em outro país. Na diplomacia, o tempo faz parte do jogo. Esta carta não tem o menor valor, sendo assim tão tardia. Falta ao Bolsonaro a assessoria de diplomacia profissional. Ele se cerca de Ernesto Araújo que se coloca como se fizesse parte de uma cruzada religiosa, e do assessor internacional Felipe Martins sem qualquer qualificação para ter esse poder. Chegou ao posto porque é amigo dos filhos do presidente.
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