Manaus teme acidentes por grande manipulação de oxigênio

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Foto: Bruno Kelly – Reuters

Erros políticos e a falta de ação diante dos problemas logísticos já conhecidos levaram ao caos da falta de oxigênio hospitalar em Manaus —a crise depois se espalhou para outras cidades do Norte do país.

O general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, admitiu que soube da possibilidade de falta de oxigênio no Amazonas no dia 8 de janeiro, uma semana antes do dia mais grave de mortes por asfixia em leitos do estado. A Folha também mostrou que Pazuello foi avisado sobre a escassez por integrantes do governo do Amazonas, pela empresa que fornece o produto e até mesmo por uma cunhada sua que tinha um familiar “sem oxigênio para passar o dia”, mas ignorou os alertas.

O general da ativa também foi informado sobre problemas logísticos nas remessas, que poderiam ter sido remediados ou reduzidos diante de uma reação com antecedência.

Além do crescimento vertiginoso da necessidade de oxigênio para pacientes internados com Covid-19, a distância de grandes e consolidados centros industriais impõe dificuldades adicionais.

Empresas que produzem gases, inclusive o oxigênio, costumam se situar perto de indústrias consumidoras. Um exemplo desse tipo de parceria é das indústrias siderúrgicas e metalúrgicas, nas quais o oxigênio é usado nos fornos e no refino de metais, por exemplo.

Indústrias com grande demanda por algum tipo de gás justificam a instalação de fábricas de produção ao redor, conhecidas como plantas ASU (Air Separation Unit). E é desses polos que sai o gás oxigênio que é fornecido para equipamentos de saúde, como hospitais.

“Em Cubatão, por exemplo, tem uma planta da Messer e da White Martins. Ali tem várias indústrias e, por baixo da estrada, está passando um pipe [linhas], ministrando oxigênio, nitrogênio e às vezes argônio. As plantas de gases estão localizadas perto de empresas grandes, que fabricam aço, por exemplo”, diz Silvana Vicente, engenheira química e responsável pela SV Consultoria e Treinamentos.

Segundo a especialista, a matéria-prima dessas empresas são energia elétrica e ar atmosférico. “E a energia elétrica é uma paulada”, diz. As plantas ASU, após sugarem o ar atmosférico e filtrá-lo, usam um processo criogênico para separar os gases ali presentes.

Daí vêm o elevado custo de construção e a necessidade de instalação das plantas junto a grandes regiões industriais. “Não é o oxigênio medicinal que sustenta essas plantas. O sobressalente vai para hospitais e indústrias menores.”

Outra opção para a obtenção de ar atmosférico são plantas menores e mais simples nos próprios hospitais, que podem abastecer parte da necessidades das unidades de saúde. O problema, novamente, acaba sendo a grande necessidade de energia para separação do oxigênio.

Com isso, a produção de gases no Brasil acaba concentrada em regiões como Sudeste e Sul, que concentram a parte parte da atividade industrial no país —só o Sudeste é responsável por 58% dela, segundo a Pesquisa Industrial Anual, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A segunda colocação de produção industrial do país é o Sul. O Nordeste é o terceiro colocado nesse ranking. Uma das regiões de destaque na região é o polo industrial de Camaçari, por exemplo.

Entre as produtoras de gases no país, a IBG (Indústria Brasileira de Gases) se concentra no Sudeste e Sul.

O mesmo vale para a Air Products, multinacional que tem plantas em Mogi das Cruzes (SP) e em Guaíba (RS). A empresa, que não fornece para o Norte do país, diz estar “alerta e preparada para buscar atender possíveis aumentos de demanda que ainda venham a ocorrer no Sul e Sudeste”.

O gás produzido no Norte, onde se encontra a Zona Franca de Manaus, costuma ser suficiente para a demanda geral da região, inclusive da hospitalar. A situação pandêmica atual é que elevou o consumo de modo gritante.

Segundo informações da empresa White Martins, maior produtora de gases da América do Sul e a principal fornecedora para Manaus, a demanda por oxigênio aumentou cerca de cinco vezes no início do ano na capital. A empresa diz ainda que, antes da pandemia, sua planta de Manaus operava com cerca de 50% da capacidade, o que era suficiente para atender os clientes da regiões, e fornecia entre 10 mil e 15 mil m³ de gás oxigênio por dia —recentemente, o consumo chegou a 70 mil m³ por dia.

Segundo Newton de Oliveira, presidente da IBG, é comum que as fábricas não operem constantemente com potência máxima.

Outra problema no contexto atual de Manaus é a dificuldade de acesso para transporte de oxigênio líquido, que, no caso do município, ocorre principalmente por aviões.

Pesa ainda o fato de o transporte de oxigênio, seja líquido ou gasoso (menos eficiente para as grandes necessidades de Manaus), ser complicado, considerando a possibilidade de acidente, queimaduras e explosões. Essa, inclusive, é uma preocupação dos especialistas ouvidos pela Folha.

Os grandes contêineres criogênicos, além dos controles de pressão, vão sofrendo perdas de gás durante o transporte, por isso complexidade do seu manejo e a necessidade de grandes aeronaves militares.

Os cilindros verdes (a cor indica o uso medicinal) necessitam ser manuseados com extrema cautela, o que não vem acontecendo em Manaus. Têm sido constantes imagens de familiares carregando em carros e depois com as mãos, com pressa, grandes cilindros de oxigênio para dentro de hospitais.

“Se aquele cilindro cai no chão e a válvula abre, pode se tornar uma chama, que provoca uma queimadura horrível. É terrível de ver”, diz Vicente. “O oxigênio é um produto superperigoso. Embora ele salve vidas, ele pode matar também.”

A especialista também fala que, ao abrir o cilindro rapidamente, caso haja partículas na válvula, o gás pode entrar em combustão.

Além de todas essas questões logísticas, há também as financeiras.

Segundo Oliveira, não é incomum que governos atrasem os pagamentos pelos serviços de gases utilizados. “O governo é excelente para cobrar, mas é péssimo para pagar”, afirma Oliveira. Ele afirma que atualmente enfrenta atrasos que chegam a 120 dias no caso de hospitais públicos de Brasília.

“Se ele quiser, você é obrigado a fornecer e ele não paga. Tem o custo de frete, produção. Tenho que pagar funcionário, energia elétrica, que são pesadas, e o imposto”, diz Oliveira, que diz que sua empresa fornece oxigênio para mais de 300 hospitais em dez estados, cerca de 20% deles públicos —percentual que está diminuindo.

O presidente da IBG também diz que a empresa tem uma fábrica parada que planejava reativar para auxiliar na situação de falta de oxigênio e aumento de demanda. Para isso, logicamente, haveria um salto no consumo de energia da empresa. Para não ser multada pelo aumento de consumo (os contratos para fornecimento de energia já preveem os gastos energéticos de acordo com o potencial de produção), a IBG tentou entrar em contato com a fornecedora de energia, mas recebeu uma resposta negativa.

Por isso, a fábrica parada, pelo menos por enquanto, não será ligada, diz Oliveira.

A Folha também procurou outras produtoras de oxigênio medicinal e de outros gases. A Messer afirmou “que está estudando meios de auxiliar no abastecimento de gás medicinal para a região” de Manaus. A Air Liquide não havia se pronunciado até a publicação dessa reportagem.

A White Martins afirmou que “tem dedicado todos os esforços para fornecer a maior quantidade possível de oxigênio, independentemente de qualquer débito financeiro, alcançando um patamar muito superior às obrigações contratuais da White Martins junto ao Estado do Amazonas”. A empresa também afirmou que sua produção está principalmente concentrada no Sudeste, Sul e Nordeste.

A Air Products, em nota, diz que buscar formas de ajudar a situação no Norte, mas que há um grande desafio logístico. “A cadeia de distribuição da empresa é via terrestre e está voltada para as regiões em que tem fábrica”, diz.

Folha  

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