BBB vira laboratório social para cientistas de todo país

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Foto: Arte Metrópoles/Yanca Romao

Ainda que algumas temporadas tenham sido mais relevantes que outras, é preciso reconhecer o potencial do Big Brother Brasil para pautar assuntos importantes na sociedade, ao mesmo tempo em que expande em audiência. Não à toa, pesquisadores e intelectuais se renderam ao reality para explorá-lo como objeto de pesquisa. Até mesmo a queridinha desta edição, a brasiliense Sarah Andrade, dedicou-se a estudar a dinâmica da atração em seu trabalho de conclusão de curso, em 2012.

Como ela, há muitos outros estudiosos desconstruindo a máxima de que BBB não passa de entretenimento fútil. Em uma busca rápida pelo Google é possível encontrar dezenas de TCCs, teses, dissertações e artigos desenvolvidos sobre o assunto. Um dos pioneiros a levar as discussões do reality para a academia foi o professor Bruno Campanella, referência para a maioria dos estudos sobre o tema.

Em 2008, ele trocou as salas de aula da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro pelos fóruns na internet que debatiam o BBB8. A imersão resultou na tese de doutorado Os Olhos do Grande Irmão – Uma Etnografia dos Fãs do Big Brother Brasil, transformado em livro mais tarde.

“Creio que todo o fenômeno cultural capaz de provocar tantas discussões e interesse, como o BBB, precisa ser investigado a fundo. Assim que percebi a mobilização que ele despertava na audiência e nos blogs na internet, lá no início dos anos 2000, comecei a imaginar que daria um ótimo objeto de pesquisa. E acho que não estava errado”, afirma o pesquisador ao Metrópoles.

Com a escolha inusitada para a época, ele não só superou o preconceito dos colegas, como foi reconhecido por eles. O trabalho ganhou da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação o prêmio de melhor tese de doutorado defendida em 2010.

“Penso que tentar provar que o programa é bom ou ruim não nos ajuda a entender o fenômeno. O Big Brother fez sucesso no mundo todo quando foi lançado, mas em nenhum lugar ele continua causando tanto impacto quanto no Brasil. Isso não é coincidência. De alguma forma, as dinâmicas na casa despertam paixões, algumas ligeiras, outras nem tanto, que as pessoas sentem necessidade de discutir. E isso parece ser particularmente forte no Brasil. Acho importante tentarmos entender as razões disso”. BRUNO CAMPANELLA, PIONEIRO EM ESTUDOS SOBRE O BIG BROTHER BRASIL NO PAÍS

Em 2020, o Big Brother alcançou mais de 165 milhões de pessoas na audiência acumulada no Painel Nacional de Televisão, além de bater a marca de 100 milhões de horas assistidas no Globoplay. Essa audiência crescente, sobretudo na internet, também chamou atenção de Adriana Amaral, especialista em estudos de fãs e professora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul.

“É um produto de grande visibilidade, que nos ajuda a entender como as pessoas se relacionam com o consumo e com questões subjetivas, políticas, sociais e mercadológicas, por exemplo”, exemplifica a docente.

Ao estudar o BBB como produto cultural, ela encontrou, por exemplo, semelhanças entre as torcidas dos brothers e ativistas, sobretudo nas estratégias de engajamento. As conclusões podem ser valiosas para compreender o vários fenômenos sociais surgidos na internet.

“A atração traz uma série de pontos para a gente pensar a própria sociedade, os meios de comunicação e até mesmo os mecanismos das plataformas digitais, como o modo que nos relacionamos com o número de seguidores, likes etc”. ADRIANA AMARAL, ESPECIALISTA EM ESTUDOS DE FÃS E PROFESSORA DA UNISINOS

Criado em 2000, o BBB já passou por altos e baixos. Começou sendo sucesso de audiência, depois passou algumas temporadas patinando e voltou com tudo na edição de 2020, com a seleção de influenciadores. Foi quando Issaaf Karhawi, pesquisadora em comunicação digital da Universidade de São Paulo (USP), voltou a ser telespectadora assídua.

“Foi muito importante pras minhas pesquisas compreender as motivações dos influenciadores digitais, que são sujeitos que já detêm grande visibilidade, de aceitar participar de um programa com tanta exposição da vulnerabilidade como o Big Brother. ISSAAF KARHAWI, PESQUISADORA EM COMUNICAÇÃO DIGITAL DA USP

 

Para quem ainda se questiona sobre a importância dessas pesquisas, vale pensar como o termo cancelamento, relacionado ao linchamento virtual, adquiriu relevância nos últimos dois anos, assim como debates sobre machismo, racismo e relacionamentos abusivos, provocados pelo elenco da temporada passada.

Quem também estudou o programa a partir desse viés foi a gaúcha Gabriela Habckost, mestre em comunicação pela UFRS. A tese que lhe rendeu o título foi justamente sobre a atração.

“Minha ideia foi mapear as temáticas que surgiram e foram discutidas no Twitter a partir do programa, tanto aquilo que está ligado diretamente à narrativa do programa (participantes, estratégias, paredão, torcidas) quanto pautas sociais e identitárias que surgem dentro da casa”. GABRIELA HABCKOST, MESTRE EM COMUNICAÇÃO

“Na dissertação, por exemplo, eu identifiquei discussões sobre raça, gênero, interseccionalidade, religião, a pandemia de Covid-19“, diz.

Quando questionada sobre as criticas que o programa recebe, Gabriela é categórica: “Reduzi-lo a um movimento de alienação ou um entretenimento tosco é deixar de considerar vários aspectos”.

“Gostando ou não, o formato é bem-sucedido e historicamente motiva debates importantes, que transcendem o escopo do reality show em si. Todo produto depende muito do uso que a gente faz dele, e acho que a forma como o BBB e os acontecimentos são apropriados pelo público podem proporcionar várias reflexões interessantes sobre audiência, produtos midiáticos, convergência entre mídias, o debate público nas redes sociais, entre muitos outros tópicos possíveis”, conclui a especialista.

Metrópoles  

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