Bolsonaro diz que foi investigado ilegalmente pela Lava Jato
Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
Em uma mudança de postura, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira, 12, que pedirá para ter acesso a mensagens envolvendo o ex-juiz Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato que foram vazadas por hackers. O presidente disse ter sido informado que seu nome aparece nas conversas e, por isso, também tem direito a conhecer o que foi tratado. Citando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Bolsonaro disse que quer “pegar o cara que vendia informações”.
Foi com base em um relatório do Coaf, sobre movimentações atípicas do ex-assessor Fabrício Queiroz, que o Ministério Público iniciou a investigação em qual acusa o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, de comandar um esquema de “rachadinha” quando era deputado estadual no Rio de Janeiro. O documento foi revelado pelo Estadão em dezembro de 2018.
“Mandei pedir aquela matéria hackeada que está na mão do PT, na mão do (ex-presidente) Lula. Tem meu nome lá. Alguma coisa já passaram para mim. Vocês vão cair para trás”, afirmou Bolsonaro a apoiadores pela manhã no Palácio da Alvorada.
“Você vê a perseguição ali, conversas de autoridades falando como é que entravam na minha vida financeira, da minha família. Você pode entrar, mas tem que ter uma ordem judicial. Respeita a lei? Não respeita. Eu quero pegar o cara que vendia informações. Dentro do Coaf, por exemplo. Eu já tenho alguma coisa, que tem chegado para mim, agora vou conseguir. Espero que o Supremo me dê”, disse o presidente, sem, no entanto, detalhar a acusação de venda de informações.
As mensagens hackeadas foram reveladas em junho de 2019 pelo site The Intercept Brasil. Pouco mais de dois meses depois, a Polícia Federal prendeu um grupo de hackers responsáveis pelo vazamento e descobriu que os ataques virtuais também tinham como alvo integrantes da cúpula da República, incluindo Bolsonaro. Nenhuma conversa do presidente, porém, chegou a ser divulgada.
“O que conseguiram contra eu, Jair Bolsonaro? Não tem nada, pô. Agora ficam em cima de filho, em cima de esposa, de parente, amigo, advogado que advogava para mim”, afirmou o presidente, citando decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) que considerou irregular um relatório do Coaf sobre movimentações financeiras de Frederick Wasseff, ex-defensor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). O tribunal também determinou que a Polícia Federal investigue desvios na elaboração do documento.
“Aquele advogado que advogava para mim, o TRF-1, arquivou o processo dele e mandou a Polícia Federal investigar o Coaf. Daí eu chego para os caras do Coaf, os caras, não. Quem manda lá em cima. ‘Você fez um levantamento do perfil dessas pessoas que estão aqui? Está tudo certo?’ Não quero falar muita coisa aqui. Porque algumas pessoas lá dentro fazem a coisa errada. Se não fizessem, o TRF-1 não teria anulado o processo contra aquele advogado. Agora, é o tempo todo isso. E não é só isso, pessoal, é porrada o dia todo. Fiquem tranquilos, já falei que sou imbrochável. Fique tranquilos. Vai continuar (inteligível). Não vou ceder.”
A defesa de Flávio também suspeita que servidores da Receita Federal acessaram seus dados ilegalmente. Reportagem da revista Época mostrou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) encaminhou orientações por escrito a advogados do senador sobre como agir para tentar inocentá-lo no caso das rachadinhas. Um dos caminhos seria apontar irregularidades na obtenção de dados fiscais do filho do presidente.
As mensagens hackeadas de Moro e procuradores indicam possível interferência do então magistrado nas investigações da Lava Jato, orientando os procuradores sobre estratégias ao longo da operação que levou à prisão de Lula e outras dezenas de políticos e empresários. Os ex-juiz e os procuradores afirmam não reconhecer as conversas reveladas e argumentam que elas foram obtidas por meio de um crime, após hackers invadirem seus telefones.
Parte do conteúdo, que soma cerca de 7 terabytes de informação, está sob sigilo. Na terça-feira, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal garantiu à defesa de Lula o acesso às mensagens relacionadas à Lava Jato. O julgamento foi considerado uma espécie de “prévia” de outro julgamento que deve ocorrer ainda no primeiro semestre, de um recurso em que o ex-presidente acusa Moro de parcialidade ao condená-lo.
Em 2019, quando o conteúdo começou a ser divulgado e Moro ainda era seu ministro da Justiça, Bolsonaro chegou a colocar em dúvida a veracidade das mensagens, em apoio ao aliado. No ano passado, no entanto, os dois romperam. O ex-juiz pediu demissão em abril acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal. Um inquérito no STF apura o caso.
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