Foto: HUGO BARRETO/METRÓPOLES
A pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, completa no fim de fevereiro um ano de adoecimentos no Brasil. Logo no início do combate à enfermidade, o governo federal prometeu realizar 46 milhões de testes na população.
Três ministros da Saúde depois, mais de 225 mil mortos e já com uma segunda onda da doença elevando o número de infecções, as autoridades sanitárias não conseguiram cumprir a meta.
Do total prometido, apenas 48%, de fato, foram entregues. Ao todo, o Ministério da Saúde realizou 22,2 milhões de testes, sendo 13,4 milhões pelo método RT-PCR (considerado o mais eficaz) e outros 8,7 milhões de exames rápidos.
A quantidade de testagens foi levantada pelo Metrópoles, com base em informações publicadas na plataforma Localiza SUS, alimentada pela pasta com o panorama do enfrentamento da doença no país.
Inicialmente, a compra de 46 milhões de testes foi pensada pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em abril de 2020. Depois, a aquisição passou a fazer parte da estratégia de Nelson Teich, que assumiu a vaga, para flexibilizar as regras de isolamento social. Os dois deixaram o cargo por divergências com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O primeiro caso de Covid-19 no Brasil foi confirmado em 28 de fevereiro. Apesar do tempo decorrido, a capacidade que o país tem para testar a população e saber a real dimensão dos adoecimentos ainda é um drama.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o Sudeste é a região que mais realizou testes: 9 milhões. O ranking ainda é composto por Nordeste (5,5 milhões), Sul (3,6 milhões), Norte (1,9 milhão) e Centro-Oeste (1,7 milhão). Órgãos públicos federais receberam 328 mil testes.
A plataforma Worldometer, ferramenta que compila e compara resultados de enfrentamento da pandemia no mundo, indica que o Brasil é o 113º no ranking de realização de exames para detectar a doença entre 220 nações. A cada grupo de 1 milhão de habitantes, somente 133 mil pessoas foram testadas.
Em números absolutos, o país é o 11º, atrás de Estados Unidos, Índia, China, Rússia, Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Itália e Turquia. Uma ressalva: a população do Brasil é maior do que a russa, alemã, francesa e inglesa, além de contabilizar mais casos da doença.
A infectologista Joana D’arc Gonçalves, mestre em medicina tropical pela Universidade de Brasília (UnB), explica que a testagem deficiente traz uma falsa sensação de segurança e que isso é arriscado.
“A testagem representa uma das principais ferramentas de controle e monitoramento da Covid-19. Com os testes, diagnosticamos os doentes e os transmissores, por meio deles instituímos as medidas sanitárias”, avalia.
Ela completa. “Sem testes temos uma falsa sensação de segurança, é o inimigo invisível”, alerta, sobre mapear os casos.
Para a especialista, se a testagem é frágil, a política de combate ao vírus fica “às escuras”. “Sem diagnóstico é como se o número de casos estivesse reduzindo e, assim, alguns podem ter um benefício indireto. A Saúde, às escuras, fica de mãos atadas, sem ter como mensurar e instituir as medidas de prevenção”, conclui.
Versão oficial
O Metrópoles entrou em contato com o Ministério da Saúde para que a pasta comentasse os índices de testagem do país e dissesse se os considera baixos. A reportagem não obteve resposta. O espaço continua aberto a esclarecimentos.
Em dezembro, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, envolveu-se em uma polêmica: 7 milhões de testes RT-PCR estavam perdendo a validade em estoques da pasta. Para resolver a questão, o militar pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a prorrogação da data.
Metrópoles
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