México tem maior mortalidade por covid do mundo

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Foto: Pedro Pardo/AFP

O México nunca esteve sob os holofotes da má administração da pandemia de coronavírus, ofuscado pelas afrontas à ciência do ex-presidente americano Donald Trump, a apatia do colega Jair Bolsonaro e até a insensatez do longínquo bielorrusso Alexander Lukashenko. Contudo, sob o comando de Andrés Manuel López Obrador, o país discretamente tornou-se dono da maior taxa mortalidade pela Covid-19 do mundo.

De acordo com levantamento em tempo real da Universidade Johns Hopkins, 8,6 em cada 100 pessoas que contraem a doença morrem no México. Com menos da metade de suas mortes, o país é seguido pelo Peru com 3,6%; Itália com 3,5%; África do Sul com 3,1% e Reino Unido com 2,8%. O Brasil encontra-se em 12º lugar na análise, com 2,4 mortos a cada 100 infectados.

Enquanto isso, nos dados de mortes por 100.000 habitantes, que incluem tanto pessoas saudáveis ​​quanto as contaminadas pelo vírus, o México ocupa o sexto lugar, com 131,7 óbitos por Covid-19. Atualmente, a nação ocupa o primeiro lugar entre as 20 mais afetadas pelo vírus.

Nas últimas 24 horas, o Ministério da Saúde mexicano detectou 3.868 novos casos e 531 mortes, elevando para 166.731 os óbitos desde o início da pandemia. Além disso, dos 1.9 milhões de casos confirmados, quase 66.000 ainda estão ativos.

A nível nacional, a ocupação dos leitos gerais é de 49%, enquanto nas unidades com ventiladores é de 46% – em relativo declínio se comparado aos dias anteriores. Contudo, a Cidade do México, com a maior ocupação hospitalar, tem 79% dos leitos indisponíveis.

Entre as principais causas da elevada taxa de mortalidade no México estão as falhas na campanha de vacinação, a disseminação de desinformação (inclusive pelo presidente) e a pobreza no país, que aumentou com a pandemia.

A vacinação continua no país, onde já foram aplicadas 717.820 doses da Pfizer. Ou seja, apenas 0,5% da população já recebeu ao menos a primeira dose da vacina, enquanto 0,1% recebeu ambas, segundo levantamento do jornal americano The New York Times. Dos países que já começaram a imunização, é o décimo mais atrasado.

Ainda por cima, falhas na comunicação e falta de informação estão causando entraves na campanha. No domingo 7, 24.000 indígenas do povoado de San Juan Cancuc, do estado mexicano de Chiapas, anunciaram sua recusa de tomar a vacina devido a boatos de que o fármaco traria doenças à comunidade.

Na segunda-feira 8, o presidente López Obrador realizou a primeira entrevista coletiva desde que contraiu a Covid-19, há duas semanas. Apesar de ter sofrido com a doença, tendo relatado dores no corpo e febre, e das constantes críticas por não usar máscara em público, ele afirmou que continuará evitando a proteção já que “não infecta mais outras pessoas”.

A fala aconteceu pouco depois de um médico explicar na mesma entrevista coletiva que há possibilidade de reinfecção e disseminação do vírus. “Pelo que os médicos dizem, não sou mais contagioso”, disse o presidente, ignorando o que foi dito anteriormente pelo especialista.

AMLO, como o mandatário é conhecido, já relativizou diversas vezes a eficácia das máscaras na prevenção dos contágios, além de ignorar medidas de distanciamento social.

Além do número elevado de casos, a postura do presidente está inserida em um contexto de aumento no desemprego e na pobreza. Na esteira da pandemia, a pobreza no México pode ter aumentado para 62,2 milhões de pessoas em 2020, contra 52,4 milhões em 2018, de acordo com uma estimativa do Conselho de Avaliação da Política de Desenvolvimento Social.

A Cidade do México, por exemplo, todos os dias é inundada por vendedores ambulantes em busca de sustento. A suspensão das atividades essenciais, em vigor desde 18 de dezembro, não impede negócios de todos os tipos – nem as multidões no transporte público –, e os quase 30 milhões de trabalhadores informais do país não receberam benefícios suficientes para manter-se em casa.

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