Os Narcisos do século XXI

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Foto: Thinkstock/VEJA

O mito de Narciso, tão antigo quanto atual, revela o desprezo dele pelo amor da ninfa Eco, enfurecendo assim Afrodite, a mãe da moça. Como consequência, foi punido pela deusa que destinou a ele um amor próprio insaciável. Com isso, Narciso se consumiu pelo desejo de admirar sem tréguas a sua própria beleza refletida e acabou tragado pelas águas que espelhavam sua imagem.

Na atualidade, essa lenda ainda se mantém viva (e como!) graças aos modernos Narcisos do século 21, aqueles que não se cansam de refletir sua imagem e se admirar à exaustão, não só nos espelhos, mas e principalmente nas fotos, nos vídeos, nas postagens das mídias eletrônicas.

A diferença, porém, entre o Narciso da mitologia grega e os da contemporaneidade, está no fato de que o primeiro era, sem sombra de dúvida, belo e atraente, o que nem sempre acontece com os atuais.

Para entender o narcisista é preciso lembrar que a libido (energia vital que nos mantém ativos) se dirige naturalmente para determinados “objetos externos” a nós (pessoas, projetos, causas), os quais passamos a prestigiar e desejar. No entanto, há quem não consiga cumprir esse natural direcionamento, consumindo toda essa chama consigo mesmo, nada restando para compartilhar.

Sem dúvida, identificar e dar valor às próprias qualidades é um sinal de saúde, desde que não seja uma valorização absoluta, a qual tenta compensar, na maioria das vezes, sentimentos inconscientes de carência afetiva e sensação de abandono.

A personalidade narcisista necessita de admiração constante e extrema, em contraste com a total falta de empatia que manifesta em relação a tudo o que seja alheio a si. Aliás, do outro só deseja a demonstração ininterrupta e incondicional de apreço e os elogios. Tendo grande limitação na capacidade de estabelecer vínculos e fazer trocas, usa suas parcerias sexuais como meio de fortalecimento de seu ego e expressão de sua vaidade. Essa situação provoca sofrimento não só para quem se relaciona com o narcisista. Ele também sofre, quando lhe falta a atenção e a deferência alheias, do que depende para se sentir satisfeito.

Há cerca de 10 anos, nas sociedades ocidentais, foi feita uma pesquisa , a qual apurou que uma em cada dez pessoas (10% da população geral, portanto), acreditava-se portadora de virtudes e qualidades que mereciam reconhecimento e ´baba-ovo` permanentes .Uma década depois, a quantas anda essa estatística, insuflada pelo boom das mídias sociais, onde todo mundo parece bonito e de bem com a vida, nos 365 dias do ano, nas 24 horas de cada dia? A conferir!

Enquanto tentamos calcular esse índice (o que acaba superestimado, numa cultura que fomenta a visibilidade), vale relembrar a tipologia da organização narcísica, conforme foi proposta no final dos anos 1980, por dois pesquisadores alemães (Deneke e Hilgenstock). Segundo esses estudiosos, o narcisismo tem quatro facetas diversas : (1) o self narcisista, ou seja, pessoa egocentrada , presunçosa e que se ofende facilmente; ávida por elogios e recompensas, mensurando os relacionamentos segundo sua necessidade de autoafirmação; (2) o self ameaçado, inseguro, temeroso, também egocentrado, mas julgando-se pouco merecedor de reconhecimento e afeto; (3) o self idealista, atormentado pelo receio de se decepcionar e se machucar nos relacionamentos, preferindo não se arriscar. No intuito de se proteger, se retrai ou, pelo contrário, se atira com tudo na direção de um parceiro idealizado; (4) no self hipocondríaco as reações do corpo ganham evidência, a preocupação com a própria saúde é central. Lamúrias e somatizações são intermináveis.

Há, por aí, narcisistas típicos de uma dessas quatro facetas e outros que “misturam as características” de todos.

No entanto, seja para o tipo `puro´ ou para o `misturado´, invariavelmente a intimidade e a preocupação com o outro não interessam. Aproximam-se da valorização, não daqueles que os valorizam. Caso o encantamento que inspiram esmoreça, eles se afastam, sem maiores explicações. Desta feita, suas relações têm caráter utilitário, sendo baseadas em sedução, satisfação imediata e descompromisso. Paradoxalmente, mostram-se ciumentos e sofrem demasiado, caso alguém que os admira tenha olhos para terceiros. Há quem garanta que a troca constante de parceria, a qual muitas vezes os caracteriza, está a serviço de reconfirmar a autoestima, enquanto as crises de ciúme conflitam a relação, ameaçam a estabilidade e provocam o rompimento. Essa troca pode (como não!) se antecipar ao gradual desapego de seus parceiros, esgotados das inúmeras tentativas de tornar o relação mais bidirecional.

Mas, afinal, por que alguém permanece num relacionamento com Narciso ? Seria ele bom de cama? Depende…Se esse alguém for um masoquista de plantão, vai até jurar que Narciso é show!

Veja  

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