Sem recursos, Peru é devastado pela pandemia

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 Foto: ERNESTO BENAVIDES / AFP

A segunda onda da pandemia do coronavírus vem sobrecarregando o sistema de saúde peruano. Faltam médicos, leitos em UTI e até oxigênio para atender a uma demanda que só cresce. Centenas de pessoas fazem filas e chegam a dormir na rua para garantir um cilindro de oxigênio, um bem essencial para enfrentar a doença que já deixou mais de 40 mil mortos no país.

— É investido muito. Não sofremos só pelo dinheiro, mas pela disponibilidade. Essa sensação de escassez é fatal — explica um jovem, cuja família decidiu gastar US$ 600 dólares (cerca de R$ 3264) em um concentrador de oxigênio, uma alternativa a que poucos peruanos têm acesso.

Neste domingo, uma nova quarentena começou por duas semanas em dez departamentos do país onde a pandemia é classificada pelo Governo como em “situação extrema”. Entre eles, Lima e Callao, o porto peruano onde a população enfrenta a odisseia de encontrar um cilíndro de oxigênio para pacientes com o coronavírus.

O preço de um concentrador de fluxo de cinco litros equivale a mais de dois salários mínimos no Peru. E o depósito de 500 soles para alugar um cilindro de cinco metros cúbicos é quase a metade do salário mínimo mensal.

Os concentradores de oxigênio medicinal não precisam de recarga, mas exigem eletricidade contínua e estão à venda em algumas lojas de eletrodomésticos, mas também em sites de vendas não regulamentados no Facebook e em outras redes sociais. Assim como alguns pacientes da Covid-19 vão para hospitais e não encontram leito, outros, com recursos econômicos, evitam ir ao hospital e buscam oxigênio por conta própria, seja em balões de 10 metros cúbicos, seja em cânulas e outros aparelhos de oxigenação não invasivos.

Na primeira onda da pandemia no Peru, centenas de pessoas morreram por falta de oxigênio ou porque os preços dos cilindros recarregáveis aumentaram até serem inatingíveis para a maioria. Igrejas, governos regionais, empresas e artistas fizeram campanhas de doação para instalar usinas de oxigênio em todas as regiões. Desta vez, há mais oxigênio nas unidades de saúde, mas a equipe e os leitos de internação e cuidados intensivos não são suficientes para atender a demanda.

Lisbeth Castro, representante da Ouvidoria da Região Amazônica de Loreto, relatou em uma rádio que, desde julho, 25 leitos de terapia intensiva do módulo Covid-19 do Hospital Regional não podem ser utilizados porque não há ventiladores mecânicos ou porque em dez faltam equipamentos.

Na sexta-feira faleceu em Loreto um dos músicos mais importantes do Peru, Alberto Sánchez Casanova, fundador do grupo de cumbia amazônica Los Wemblers. Sua filha comentou no Facebook que esperava um espaço no cobiçado módulo do Hospital Regional, mas nunca o conseguiu.

“Apenas 27 camas funcionam, mas não há nenhuma para meu pai”, escreveu ela.

Luis Barsallo é um pequeno empresário que vende refis do insumo a um preço justo em Callao. Ficou famoso desde a primeira onda da pandemia, a ponto de ser conhecido como ‘o anjo do oxigênio’ e na imprensa foi destaque como um dos personagens de 2020. Já que existe um mercado de revendedores que especulam sobre preço do oxigênio, ele pede aos clientes que apresentem documentos de parentes com diagnóstico da Covid-19 para garantir que não está fornecendo a intermediários.

Barsallo disse que recebeu na semana passada ameaças por se recusar a vender para quem não mostrou os papéis e teve que fechar seu negócio um dia por precaução. Reabriu quinta e sexta-feira, mas com proteção policial. No sábado, o Ministério Público de Callao abriu uma investigação para os culpados do suposto crime de coerção contra ‘o anjo do oxigênio’. Na madrugada de domingo, 110 pessoas dormiam em barracas ou em plástico e papelão do lado de fora de sua loja, esperando para recarregar cilindros de 10 metros cúbicos, mesmo com a incerteza de Barsallo abrir a loja.

— Pode parecer um pouco forte, mas tem gente que tem medo de morrer na solidão de um posto de saúde e faz o possível para ficar em casa. Nessa segunda onda há um sentimento de que o oxigênio é algo que pode ser autoadministrado, mas a primeira opção é ser consumido com receita e acompanhamento médico — comenta Alicia Abanto, adjunta de serviços públicos da Defensoria.

Abanto explica que há algumas semanas a Superintendência Nacional de Saúde publica um relatório sobre o oxigênio disponível diariamente nos hospitais e clínicas. Ela afirma que as pessoas devem reclamar caso o oxigênio, que é um “remédio”, seja negado.

— Vemos o problema do comércio informal e ilegal, inclusive nas redes que denunciam golpes, e a intervenção muito limitada do Estado para controlar. Esse insumo tem que ser distribuído por uma operadora autorizada, pois a automedicação em casa com oxigênio que não seja de boa qualidade pode custar vidas — acrescenta a funcionária.

Abanto relata que em emergências hospitalares, os pacientes são mandados para casa.

— Eles são informados de que sua saturação não é muito baixa, mas o que devem fazer é encaminhá-los a um hospital onde haja um leito disponível.

Embora diariamente as autoridades de saúde informem que ainda existem leitos de cuidados intensivos, eles estão localizados em regiões onde os indicadores da segunda onda ainda são moderados.

O engenheiro e analista de dados Rodrigo Parra comentou na emissora Radioprogramas neste domingo que a taxa de ocupação dos leitos UTI da segunda onda é mais rápida do que a oferta. A ocupação máxima das vagas da UTI chegou a 1.553 no ano passado e neste ano foi de 1.865 com a oferta de 1.900 leitos. Parra acrescentou que esses números não são “tão confiáveis quanto à realidade dos hospitais”.

— A ocupação era de 20 leitos de UTI por dia na primeira onda e agora são 30 — disse

A Sociedade Peruana de Medicina Intensiva revelou desde março que não existem mais de 700 médicos habilitados para trabalhar em UTIs. A ministra da Saúde, Pilar Mazzetti, indicou que apenas 60% do pessoal da Saúde é operacional, já descontando o número de profissionais que morreram com a doença e os afastados devido à idade ou comorbidades.

Até o final de janeiro, 276 médicos morreram com o novo coronavírus no Peru. É o terceiro país da América Latina com as maiores perdas, depois do México e do Brasil. Mas em termos proporcionais, os números são ainda mais preocupantes, já que o país possui menos médicos por mil habitantes.

Neste domingo, uma nova quarentena começou por duas semanas em dez departamentos do país onde a pandemia é classificada pelo Governo como em “situação extrema”. Entre eles, Lima e Callao, o porto peruano onde a população enfrenta a odisseia de encontrar um tanque de oxigênio para pacientes com o coronavírus.

O Globo

 

 

 

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