Bolsonaristas das redes agora apoiam vacina e pedem aglomerações
Foto: Alexandre Schneider/Getty Images
Nas redes sociais, deputados bolsonaristas que mobilizam um grande número de seguidores mudaram nos últimos dias o tom em relação à vacina e passaram a defender a imunização, acompanhando um movimento que se observa com Jair Bolsonaro e seu entorno, inclusive seus filhos. Na mesma linha do presidente, contudo, continuam atacando o distanciamento social — e os governadores e prefeitos que adotam a medida — e exaltando o chamado “tratamento precoce”, com medicamentos sem eficácia comprovada, como cloroquina e ivermectina.
Em relação ao novo ministro da saúde, o médico cardiologista Marcelo Queiroga, que substituirá o general Eduardo Pazuello, os membros da base mais ideológica do presidente aprovaram a indicação e demonstraram alívio pelo fato de a escolhida não ter sido a médica Ludhmila Hajjar, contra quem fizeram campanha na internet em razão de suas ligações com desafetos do bolsonarismo, como a ex-presidente Dilma Rousseff, o ministro Gilmar Mendes e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A deputada Bia Kicis (PSL-DF) é um exemplo de mudança de postura entre os bolsonaristas da ala ideológica. Em setembro, ela questionava a “vachina do Doria”, se referindo à CoronaVac, e indagava se ela era “confiável” — o imunizante é hoje o mais usado na campanha de vacinação. Em dezembro, ela postou que as vacinas poderiam “afetar o DNA” das pessoas. Agora, passou a defender a imunização em massa para acelerar a recuperação econômica, compartilhou o cronograma do Ministério da Saúde e comemorou “milhões de brasileiros vacinados nos próximos meses”.
Carla Zambelli (PSL-SP), que também fez campanha contra a “vachina” quando ela era a única alternativa à vista no país, agora anuncia em suas redes sociais a compra pelo governo de imunizantes da Janssen e da Pfizer. Já Bibo Nunes (PSL-RS) disse que “a vacinação em ritmo acelerado é uma motivação ao povo brasileiro”.
As primeiras falas de Queiroga após ser anunciado como novo ministro da Saúde agradaram aos bolsonaristas — ele tem caminhado no fio da navalha, combinando a defesa da ciência (vacinação, uso de máscara) com ressalvas ao distanciamento social (“medida extrema”, segundo ele) e ao uso da cloroquina (dizendo que os médicos têm autonomia para receitar qualquer medicamento).
Filipe Barros (PSL-PR), outro bolsonarista da ala ideológica, parabenizou o médico.
“Vocês estão todos aglomerados aí , coisa que vocês dizem que não é bom.”@mqueiroga2, Ministro da Saúde, em resposta a imprensa agora pela manhã.
Parabéns, Ministro. Temos que cobrar coerência daqueles que tanto criticam.
— Filipe Barros (@filipebarrost) March 16, 2021
Já Bibo Nunes disse que “Bolsonaro se livrou de um grande problema se Dra. Ludhmila fosse ministra da Saúde” e desejou “sucesso ao novo ministro. O deputado também defendeu a gestão de Pazuello — segundo ele, o general “adquiriu muita experiência no combate ao coronavírus e é cheio de boas intenções”.
Bolsonaro se livrou de um grande problema se Dra. Ludhmila fosse Ministra da Saúde.
Até cantar para a Dilma ela cantou e disse que recusou um convite, que nunca foi feito.
Sucesso ao novo Ministro Marcelo!— Bibo Nunes (@bibonunes1) March 16, 2021
Apesar de não ter citado o novo ministro, Otoni de Paula (PSC-RJ) também criticou o fato de Ludhmila Hajjar ter sido cotada para assumir a pasta da Saúde.
A pergunta é: quem fez @jairbolsonaro sentar com essa mulher?
— Otoni de Paula (@OtoniDepFederal) March 16, 2021
O presidente do PTB, Roberto Jefferson, também agradeceu a Pazuello, que, segundo ele, “cumpriu a sua missão”, e desejou que Queiroga possa fazer uma “boa gestão”. Afirmou que o novo ministro “já começou bem” ao dizer que lockdown “somente em situações extremas”. O bolsonarista ressaltou ainda que, ao não confirmar Hajjar, o presidente se livrou de “um novo Mandetta”.
O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou na noite desta segunda-feira que o bloqueio total de atividades, o lockdown, só deve ser aplicado em “situações extremas” e “não pode ser política de governo”.
Já começou bem.
— Roberto Jefferson (@BobjeffHD) March 16, 2021
Apesar de defender a vacina, Kicis continua encarando o lockdown como uma medida que leva à miséria, mesmo pensamento de Bolsonaro. A parlamentar também elogia prefeitos que adotam o tratamento precoce em suas cidades.
Já Zambelli ataca chefes de Executivo estaduais que endurecem as medidas restritivas para conter a Covid-19. “Alguns governadores estão jogando na miséria. Destroem a geração de renda e arrecadação e, como sabem, o dinheiro vai acabar. Quantos vão morrer de fome, srs governadores?” postou. Os ataques da deputada são direcionados, principalmente, ao governador de São Paulo e desafeto político de Bolsonaro, João Doria (PSDB).
Bibo Nunes também defende que medidas de isolamento são prejudiciais ao comércio e provocam desemprego. O seu alvo principal é o governador do Rio Grande Sul, Eduardo Leite (PSDB), que, com o aumento de casos de Covid-19 no estado, tem adotado medidas mais rígidas contra o vírus.
O deputado Osmar Terra (MDB-RS) também defende, constantemente, a ineficácia do lockdown para combater a pandemia. O parlamentar cita supostos estudos que corrobram a sua tese e acredita que “as novas cepas do vírus da Covid ignoram lockdowns”.
Assim como o presidente, os deputados que atuam na linha de frente do bolsonarismo nas redes sociais continuam defendendo o chamado “tratamento precoce” com cloroquina, ivermectina e azitromicina. Kicis e Zambelli também passaram a divulgar um novo suposto medicamento contra a Covid-19, a proxalutamida. O remédio está em fase inicial de teste.