Bolsonaro está promovendo aglomerações todo dia no Planalto

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Foto: ALAN SANTOS/PR

O boicote do presidente Jair Bolsonaro a medidas de combate ao novo coronavírus não se resume ao discurso. Levantamento do Estadão mostra que desde o início da pandemia de covid-19, o presidente promoveu pelo menos 41 cerimônias com aglomeração no Palácio do Planalto. De posse de ministros até o lançamento de um selo postal comemorativo em homenagem aos 54 anos da Embratur, as solenidades reuniram centenas de convidados, contrariando o isolamento, uma das ações mais eficazes para conter a propagação do vírus, de acordo com organismos de saúde.

Nos eventos públicos, Bolsonaro apareceu sem máscara de proteção, outro item indispensável para evitar a contaminação em massa, e nos discursos, ao tratar de covid-19, defendeu o tratamento precoce com medicamentos sem eficácia comprovada.

Enquanto o presidente provocava aglomerações, o número de mortes pela doença aumentava no País, chegando aos mais de 300 mil nesta semana. A doença também chegou ao Palácio do Planalto. Até fevereiro, 454 funcionários da Presidência contraíram a covid-19, segundo a Secretaria-Geral. Ao menos um morreu, o segundo sargento do Exército Silvio Kammers, que atuava no gabinete de Bolsonaro.

Um desses eventos ocorreu no dia 23 de fevereiro deste ano. Na ocasião, Bolsonaro falou para uma plateia de cerca de 300 prefeitos, vereadores e assessores em um dos salões do segundo andar da sede do Executivo. No mesmo dia, o País registrou 1.370 novos óbitos e o saldo de mortes totalizava 248.646, segundo informações do consórcio de veículos de imprensa.

 

Bolsonaro também contrariou as regras de distanciamento social ao promover o lançamento de programas de governo, como o “Casa Verde e Amarela” (de habitação); o “Adote 1 Parque” (parques nacionais) e o “Norte Conectado” (inclusão digital na Amazônia).

Além disso, Bolsonaro promoveu reuniões políticas que não são descritas como “eventos” na agenda oficial. No dia 3 de março, por exemplo, almoçou com parte da bancada de Minas Gerais no Congresso e o governador do Estado, Romeu Zema (Novo-MG). No cardápio, um leitão à pururuca oferecido pelo deputado Fábio Ramalho (MDB-MG). Uma foto postada pelo deputado — tirada num momento em que não estavam comendo — mostra pelo menos nove dos presentes. Quase todos estavam sem máscara na foto.

Parte das cerimônias de Bolsonaro no Palácio do Planalto foi realizada em momentos nos quais o governo do Distrito Federal havia imposto medidas de isolamento social para tentar conter a propagação do vírus, como o fechamento do comércio, escolas e a proibição de festas que exijam licença para acontecer. Brasília viveu dois períodos de “lockdown”: entre março e maio do ano passado, e a partir do fim de fevereiro deste ano. As restrições, no entanto, não se aplicam a eventos fechados como os realizados pela Presidência.

Nas duas ocasiões, o Planalto promoveu festividades. Eventos para comemorar a sanção de projetos de lei sobre vacinas; para celebrar a assinatura de decreto regulamentando o novo Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), e até para lançar uma campanha de enfrentamento à violência doméstica.

Os eventos no Palácio do Planalto contrariaram orientações do próprio Ministério da Saúde. Em março de 2020, ainda no começo da pandemia, a pasta divulgou recomendação para que fossem cancelados ou adiados eventos em locais fechados com mais de cem pessoas. A partir de abril de 2020, também passou a defender o uso de máscaras nos espaços públicos — medida raramente seguida pelo presidente nos eventos, pelo menos até o começo deste mês.

No fim de fevereiro, o mandatário disse que a máscara pode causar “irritabilidade, dor de cabeça, dificuldade de concentração, desânimo, vertigem e fadiga” em crianças. Como base para a afirmação, citou um estudo alemão sem qualquer base científica.

Uma das maiores aglomerações foi registrada no dia 24 de fevereiro deste ano, com cerca de 400 pessoas, segundo a própria equipe de segurança da Presidência. Na ocasião, Bolsonaro deu posse ao deputado João Roma (PL-BA) como ministro da Cidadania, e a Onyx Lorenzoni como titular da Secretaria-Geral da Presidência. Também sancionou a lei que deu autonomia ao Banco Central. Bolsonaro estava sem máscara. Naquele dia foram mais 1.433 mortes, de um total de 250.079.

 

Nem mesmo auxiliares do presidente que tiveram diagnóstico confirmado da doença evitaram participar de aglomerações. No fim de fevereiro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, participou de eventos presenciais oito dias depois de receber o resultado positivo de que havia sido contaminado pelo vírus — o mínimo recomendado é de 14 dias. Na ocasião, Salles afirmou que recebeu aval de médicos para deixar o isolamento.

Segundo epidemiologistas, reuniões presenciais em ambientes fechados — como o Salão Nobre, onde é realizada a maioria das cerimônias no Palácio – são a principal forma de espalhamento do vírus. Dependendo das condições do local, uma única pessoa infectada pode contaminar entre 20 e 30 outras, diz o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Universidade de São Paulo (USP).

“Já vimos isso em navios, em vários contextos. 70% das pessoas que estão contaminadas não são capazes de formar os aerossóis necessários para contaminar os outros. Só que os 20% ou 30% que conseguem, contaminam entre 20 e 30 outras pessoas. Quando as pessoas falam em voz alta, cantam, elas fazem uma aspersão muito grande desse material (esporos do vírus). Se você está em um local sem ventilação, é muito complicado”, diz Lotufo.

Segundo Lotufo, a forma como o vírus se espalha torna “totalmente desaconselháveis” as reuniões em ambientes fechados. “Hoje em dia, sabe-se que o aerossol é a principal forma de espalhamento (do vírus)”, disse ele. “Você vai aspirar, e se contaminar. Se você estiver de máscara, tem uma chance menor de passar, mas não tão menor de pegar. A máscara é mais para proteger os outros”, afirmou ele.

A reportagem procurou a Presidência da República para comentários, mas não houve resposta. Bolsonaro já afirmou em mais de uma ocasião ser preciso “enfrentar” o vírus, tachando de “maricas” aqueles que buscam se proteger, além de repetir quase diariamente críticas às medidas de isolamento social determinadas por governadores e prefeitos.

Estadão

 

 

 

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