Ex-porta-voz de Lula cita “segunda mudança de Bolsonaro”

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Foto: Edilson Dantas / Agencia O Globo

O cientista político André Singer, ex-porta-voz da Presidência no governo Lula, afirma que o presidente Jair Bolsonaro está fazendo a segunda mudança de perfil da sua gestão ao apostar no auxílio emergencial, para os mais pobres, e no armamento, para os seguidores mais ideológicos — a primeira alteração foi a saída de Sergio Moro do governo, levando os adeptos da Lava-Jato. Singer lançará neste mês o livro “Estado e Democracia”, escrito em parceria com Cicero Araujo e Leonardo Belinelli, em que aborda os riscos que a democracia enfrenta hoje no mundo. Bolsonaro quase não é citado, mas Singer avalia na entrevista que o presidente tem “traços de totalitarismo”.

Bolsonaro tem feito decretos de liberação de armas. Isso é diversionismo ou faz parte de um projeto político violento?

Há aí uma implicação mais profunda e mais perigosa entre duas coisas. De um lado, sim, um desejo de cumprir uma promessa de campanha. O problema é que, de fato, existe um setor da população pequeno, mas não insignificante, que parece acreditar que o armamento civil é uma solução, sobretudo, para questões de segurança. Essa crença constitui uma ideologia, que combina com um regime de natureza autoritária.

Há hoje um afastamento de Bolsonaro do lado liberal do governo, representado pelo ministro Paulo Guedes. Essa separação está consolidada?

Em 2018, Bolsonaro fez uma espécie de coalizão com aqueles que estavam à mão. E, entre esses, estava o chamado mercado, que queria medidas ultraliberais. Em um ponto há conexão real: Bolsonaro, por ser intrinsecamente contra a esquerda, é muito a favor do capitalismo. Agora, no governo, Bolsonaro está mudando seu perfil. Está alterando alianças. A primeira (mudança) importante foi com Sergio Moro e a Lava-Jato. Agora, está operando a segunda mudança, que começou em meados do ano passado, quando ele descobriu que precisava fazer uma política econômica que atendesse os setores populares porque não vai se reeleger em 2022 com os votos do mercado. Continua insistindo que tem que ter algum tipo de auxílio emergencial. E, em segundo lugar, a decisão que tomou em relação à Petrobras. O noticiário é muito fixado na questão do diesel, mas tem o gás de cozinha, que afeta camadas populares.

Ano passado, o senhor disse que esse movimento do Bolsonaro poderia ameaçar a base lulista. Como vê hoje?

As bases lulistas devem ter tido algum tipo de queda, mas se mantiveram, com alguma diminuição. Ainda não há pesquisas claramente indicativas. Com o final do auxílio emergencial, Bolsonaro começa a perder um pouco das bases que tinha conquistado, mostrando claramente que ainda há uma relação direta de dependência dessa aprovação com relação à quantidade de recurso que está sendo destinada a uma população muito necessitada.

Que aspectos de ameaça à democracia existem hoje no Brasil?

O maior risco é que temos na Presidência da República um mandatário antidemocrático, abertamente. Ele deu inúmeras declarações contra a democracia antes da eleição, de elogios à ditadura a desconfiança explícita dos resultados eleitorais. Depois de eleito, foi a manifestações públicas para pedir o fechamento do Congresso e do STF.

No livro, vocês escrevem que Donald Trump não pode ser chamado de totalitário, mas teria traços totalitários. Isso se aplica a Bolsonaro?

Tendo a achar que sim. Totalitarismo na compreensão de Hannah Arendt (filósofa alemã) é uma situação extrema em que há um regime que tenta transformar a natureza humana. Não temos elementos ainda para afirmar que Bolsonaro seja um totalitário. Mas tem traços de totalitarismo. O episódio do deputado Daniel Silveira é uma tentativa de insuflar uma base, de mantê-la permanentemente excitada, agressiva, ameaçadora. Vimos isso claramente no primeiro semestre de 2020. Depois parou. Agora parece que voltou.

No livro, vocês citam também que, para muitos autores, uma resposta à ascensão da extrema-direita foi a união da esquerda. No Brasil não temos isso. O que pode acontecer?

O que acho que vai acontecer é que todos (os partidos de esquerda) apresentarão candidatos no primeiro turno. E acabarão apoiando aquele que eventualmente for ao segundo. Penso que é um grande fracasso do campo não ter conseguido uma forma de unidade desde que a crise começou em 2015, após a reeleição de Dilma.

Como vê a perspectiva do Lula disputar a eleição, se o STF anular as condenações? Ele conseguiria aglutinar o centro?

No âmbito estritamente democrático, seria muito importante que isso acontecesse (Lula fosse liberado para disputar eleições). Não sei se haveria disposição por parte do centro para conversar com o ex-presidente Lula. Em 2018, boa parte resolveu se abster ou votar no Bolsonaro. Acho que pode acontecer de novo.

Mas seria conveniente para o Lula disputar caso recupere os direitos políticos?

Claro. Ele é, sem dúvida, até aqui a principal liderança do campo popular, que foi constituído em torno dele. Essa é um pouco a ideia do lulismo.

O Globo

 

 

 

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