Renan instila medo em Bolsonaro

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Foto: Agência O Globo

Dois anos depois de submergir ao ser derrotado na tentativa de voltar à presidência do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL) está de volta aos holofotes com a missão de ser o relator da CPI da Pandemia. Sobrevivente de diversas investigações ao longo de uma das carreiras mais longevas do Congresso, ele terá agora a função de apontar os responsáveis pelos erros do governo federal ao longo da crise sanitária. Um acordo da maioria dos membros, ratificado em nova reunião ontem, definiu que o emedebista será o relator, enquanto Omar Aziz (PSD-AM) ficará com a presidência, o que deve ser oficializado na primeira reunião da comissão.

Renan era um dos nomes mais temidos pelo Palácio do Planalto para o posto e, em entrevista ontem ao GLOBO, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro “errou” e “se omitiu” no enfrentamento à pandemia, com uma gestão “terrível” no combate à Covid-19.

Em 2019, bolsonaristas articularam uma campanha contra Renan na disputa pela presidência do Senado com Davi Alcolumbre (DEM-AP), que saiu vitorioso. As diversas investigações no Supremo Tribunal Federal (STF) que têm o senador como alvo embasaram a maioria das críticas de aliados do Planalto.

Crítico de Bolsonaro desde o início do mandato, Renan tem largo conhecimento das regras internas do Congresso e experiência em se blindar de investigações, o que deve dificultar o trabalho dos que tentarão proteger o Planalto.

A costura de seu nome como relator avançou em uma reunião entre seis dos 11 integrantes, conforme revelou o GLOBO. Nessa conversa, o líder do MDB, Eduardo Braga (AM), informou que Renan seria indicado pelo partido para a relatoria. A legenda tem a maior bancada na Casa. Os demais aquiesceram e decidiu-se que caberia ao PSD a presidência. Para esse posto, o nome de Omar Aziz teve ainda a aceitação do governo.

O acordo foi selado na manhã de ontem entre os oposicionistas e os chamados “independentes” que integram a CPI, como informou a colunista Vera Magalhães. O governo ainda tentava operar para tirar a relatoria de Renan, mas como ele se acertou com Braga, nome que o Planalto sugeria para o posto, a tentativa fracassou.

Além de Braga, Renan tem o apoio de Aziz, Otto Alencar (PSD-BA), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que deve ficar com a vice-presidência.

Um dos autores do requerimento de criação da CPI, Randolfe pleiteava a presidência, mas cedeu para Aziz o posto para evitar que o senador do PSD fechasse acordo com a ala governista da CPI, que tem quatro integrantes, e isso desequilibrasse o jogo a favor de Bolsonaro no colegiado. Nesta semana, em áudio divulgado pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Bolsonaro afirmou que teria de “sair na porrada” com Randolfe, por causa da investigação.

O cálculo da ala oposicionista foi de que mais importante que ter a presidência é a comissão andar. Para isso, avaliaram que têm de manter unido o grupo que definiu a composição dos nomes da direção dos trabalhos. O Planalto, contudo, ainda trabalha para tentar tirar Renan da relatoria, mas o posto já é dado como certo.

— É estupidez o governo querer interferir nos trabalhos da CPI para evitar que alguém seja indicado relator — afirmou Renan, ressaltando que não foi oficialmente escolhido.

A volta de Renan à ribalta reforça, mais uma vez, sua resiliência. Em 2007, o parlamentar tinha sido forçado a renunciar ao comando do Senado após enfrentar três processos de cassação. Ele foi acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista de construtora e de usar “laranjas” para ocultar sua sociedades em duas rádios e um jornal em Alagoas. Para evitar perder o mandato, abdicou da presidência.

Em 2013, o emedebista voltaria ao cargo de presidente da Casa, tendo sido reconduzido em 2015. Neste último mandato, esteve à frente do Senado durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Ocupando cargos públicos desde 1979, quando se elegeu deputado estadual em Alagoas, Renan esteve aliado a todos os presidentes antecessores de Bolsonaro desde a redemocratização: Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e Michel Temer, seu correligionário e com quem viria a romper durante o mandato.

Renan chegou a ser alvo de 17 investigações com base na Lava-Jato, mas nove delas já foram arquivadas. Ele é réu por corrupção e lavagem de dinheiro com base nas acusações feitas por Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro. O emedebista sustenta ser alvo de perseguição política e destaca o fato de a maior parte das acusações já terem sido arquivadas pelo Supremo Tribunal Federal.

O Globo 

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