Witzel diz que Bolsonaro está por trás de seu impeachment

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Foto: Wilton Junior/Estadão

Às vésperas de ter seu destino político decidido pelo Tribunal Misto, o governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), ainda sonha com a Presidência da República. Ele poderá perder definitivamente o cargo e os direitos políticos nesta sexta, 30, mas “não descarta” concorrer nas eleições nacionais caso se livre da cassação no julgamento.

Em 2019, o desejo de disputar o Palácio do Planalto provocou o rompimento político entre Witzel e Jair Bolsonaro, pré-candidato à reeleição. O presidente então brigou publicamente com o aliado da eleição de 2018, que passou a ver e tratar como inimigo.

Em entrevista ao Estadão, o governador acusa Bolsonaro de interferir na investigação que levou a seu afastamento do Palácio Guanabara pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob acusação de corrupção. Ele também acredita que, no processo de impeachment, o presidente da Assembleia Legislativa, o petista André Ceciliano, se uniu ao clã Bolsonaro, apesar das divergências políticas, em nome de interesses “ideológicos e criminosos”.

“Na guerra há aquele velho ditado: inimigo do meu inimigo é meu amigo”, aponta Witzel. Ele nega irregularidades na assinatura da requalificação da empresa Unir Saúde, ponto-chave do pedido de impeachment. Composto por cinco deputados e cinco desembargadores, o Tribunal Misto é presidido pelo presidente do Tribunal de Justiça do Rio. Para Witzel ser cassado, sete dos dez integrantes precisam votar pela aprovação do relatório final – produzido pelo relator, o deputado Waldeck Carneiro (PT). A sessão começa às 9h desta sexta-feira.

Para o mandatário afastado, sua saída do cargo prejudicou o combate à pandemia no Rio, porque o interino Cláudio Castro (PSC) estaria conduzindo um governo negacionista, tutelado pelo presidente da República. Witzel opina que Castro é “refém da família Bolsonaro, e isso vai levá-lo à desgraça”.

Além de Ceciliano e da família Bolsonaro, quem recebe críticas constantes do governador afastado é a subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, que conduz a investigação do MPF contra o governador. Nessa linha, também critica os ministros da Corte Especial do STJ. Eles seriam, segundo o ex-juiz, inexperientes na área criminal, o que levou Lindôra a induzi-los ao erro.

O senhor chorou no seu depoimento ao Tribunal Misto. A defesa no julgamento de sexta será novamente bem emocional ou se limitará a aspectos técnicos? Apesar da emoção, do choro da desesperança, apresentamos argumentos técnicos pela nulidade desse processo de impeachment. O processo foi aberto pelo presidente da Alerj, que também foi investigado. Há em relação a ele fortes indícios de participação nesse esquema criminoso na Saúde do Rio de Janeiro. O (ex) secretário de Saúde (e delator, Edmar Santos) participou de reuniões secretas com o presidente da Alerj, sem meu consentimento. Foram repassados valores para municípios sem minha autorização. É um Tribunal Misto parcial e maculado na sua origem por uma investigação com o objetivo de blindar alguns deputados que fazem parte desse esquema de corrupção de OS’s muito antes da minha entrada no meu governo.

Não é contraditório se basear em afirmações do delator Edmar Santos, que o senhor normalmente ataca, para embasar esses argumentos?
A delação não é prova, é meio de prova. O que o Edmar disse em relação a mim? Que eu participaria de um esquema de corrupção. Para que isso seja verdade, é preciso que haja elementos concretos. Quais (elementos) se têm contra mim? Nenhum. Não foram encontrados valores pagos a empresas que estejam relacionadas com essa lenda urbana que é o (empresário) Mário Peixoto. Não há qualquer valor que seja pago a mim ou participação minha em eventos que sejam suspeitos, diferente do que está acontecendo com André Ceciliano.

Além do impeachment, há as denúncias criminais do MPF no STJ
A doutora Lindôra, que acabou de ser representada (alvo de representação) por abuso de autoridade no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) por mais de dez governadores, vem repetindo o discurso do presidente de que governadores aproveitaram a pandemia para roubar. As investigações contra mim foram feitas num tempo completamente incompatível com a complexidade dos fatos. Até hoje não houve nenhuma investigação sobre o presidente da Assembleia Legislativa. O presidente foi blindado para abrir o meu impeachment e, assim, atender aos interesses do presidente Bolsonaro e atingir o Rio de Janeiro, fazendo o Rio refém dessa política negacionista do presidente.

Acha que teve dedo do presidente Bolsonaro?
Certamente tem o dedo dele. Quem começou essa denúncia junto com a Lindôra foi o (deputado bolsonarista) Otoni de Paula. E há informações de que o dossiê contra mim foi elaborado dentro do Palácio do Planalto junto com o Otoni de Paula, tanto que ele é citado pela Lindôra no início da investigação. Você vê que é um movimento orquestrado do presidente contra os governadores. E aqui no Rio existem fatos ainda mais contundentes, porque eu determinei a investigação do caso Marielle (assassinato a tiros da vereadora Marielle Franco, do PSOL, e do motorista Anderson Gomes). A partir daí, o presidente começa a entender que o governador do Rio estaria perseguindo a família dele e poderia ser um adversário em 2022. A história toda se passa nesse enredo.

O Ceciliano é do PT, que é arqui-inimigo do Bolsonaro. Acha mesmo que os dois se uniram contra o senhor?
Na guerra há aquele velho ditado: inimigo do meu inimigo é meu amigo. Aqui no Rio, o presidente da Assembleia precisava articular com o governo do Estado cargos para deputados da base de sustentação dele, mas estava encontrando certa resistência comigo, porque eu disse que não daria cargos de qualquer jeito. E o outro problema é a Cedae. Segundo o (empresário) Edson Torres, Ceciliano tem interesse em negócios na Cedae; vem fazendo uma oposição ferrenha à concessão da Cedae, o maior projeto de licitação do Brasil. Com os interesses ideológicos e criminosos do presidente da Alerj, ele resolve abrir o impeachment. É mais uma vez a máfia do Cabral que ainda está atuando. Deputados ligados a Cabral voltaram para o governo. Até o (Fabrício) Queiroz (ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, do Republicanos, denunciado com o parlamentar à Justiça no caso das rachadinhas na Alerj) estava no estacionamento do Palácio Guanabara para empregar a filha dele.

No âmbito criminal, na Corte Especial do STJ, os ministros aceitaram por unanimidade a denúncia do MPF contra o senhor. Eles também fazem parte da suposta perseguição?
Os ministros que estão na Corte Especial do STJ não são ministros com especialidade na área criminal, como os da Quinta ou Sexta turmas. São ministros mais novos. Geralmente a vara criminal tem uma expertise diferenciada, exige tempo. No Órgão Especial do STJ, aplicaram um entendimento anterior à reforma do Código de Processo Penal, que exige uma análise mais aprofundada da resposta dos acusados. O que o STJ fez, no meu entender, pela falta de experiência na área criminal? Cometeram um grave equívoco ao desmembrar o processo. E o MPF induz em erro os ministros, porque a doutora Lindôra conta só um lado da história numa investigação que não foi bem feita.

No caso do impeachment, a requalificação da Unir Saúde é o principal ponto da acusação. O senhor de fato assinou a medida, mesmo com pareceres técnicos contrários. Isso não complica sua defesa?
Em hipótese alguma. Se eu não fosse um juiz, fosse um governador formado em qualquer outra profissão que não fosse jurídica, teria dificuldade em explicar a decisão. Mas os pareceres que estavam nos autos eram equivocados, errados. Como juiz, cansei de ignorar parecer do MP porque não estava de acordo com o meu entendimento. Entendi que a desqualificação não era adequada, e mais: fizemos um levantamento de todas as OS’s, e a Unir não era a pior. Ali acendeu um alerta amarelo para mim de que o Edmar possivelmente estava envolvido em algum esquema com as OS’s. Já estávamos em março, com a pandemia, e eu fiquei preocupado.

Quando houve a abertura do impeachment, a votação foi 69 a 0. Por que ninguém votou com o senhor?
Primeiro porque não pedi para nenhum deputado votar comigo se não estivesse confortável. Depois tomei conhecimento de que os deputados foram ameaçados pelo presidente da Alerj, que caso não votassem a favor do impeachment seriam suprimidos cargos, comissões. O presidente age de forma truculenta com os deputados.

Sempre se falou que o senhor agia como ex-juiz, que não respeitava a Assembleia. Olhando para trás, acha que faltou traquejo político?
Traquejo político, não. O meu governo é um governo técnico. Não era ‘toma lá dá cá’ nem deixava o deputado fazer o que bem entendesse. Quando eu saio, eles loteiam o governo. Tem tanto assessor dentro do Palácio Guanabara hoje que não tem nem lugar para trabalhar, provavelmente muitos funcionários fantasmas. É isso que a velha política faz. Infelizmente, quando o deputado André Ceciliano percebeu que essa cultura de corrupção nas empresas estatais e nas agências reguladoras e secretarias iria acabar, quem estava atrapalhando era o Wilson Witzel.

Cláudio Castro disse, em entrevista ao Estadão, que só está onde está por causa do bolsonarismo, algo que o senhor sempre negou. Com sua situação atual, reconhece que foi um erro brigar com a sua primeira base política?
É ele (o presidente Jair Bolsonaro) que briga com todo mundo, não fui eu que briguei com ele. Ele não consegue dialogar direito nem com os filhos dele, ali é só briga. Uma família que vive brigando entre si, briga com todo mundo. Ele não tem diálogo, essa é a realidade. O vice-governador Cláudio Castro está estendendo o tapete vermelho, mas o que está conseguindo do governo federal? Nada, zero. O governo federal não está ajudando em absolutamente nada. Muito pelo contrário. Quando saí do governo, tínhamos aproximadamente 10 mil mortos (por covid-19 no Estado). Hoje nós temos 30 mil (43.618 até a quarta, 28). O meu afastamento, do ponto de vista do controle da pandemia, foi péssimo para o Rio. Esse governo Bolsonaro, que é negacionista, contamina os governos que quer controlar, também negacionistas.

Acha que Cláudio Castro está refém da família Bolsonaro?
Completamente refém da família Bolsonaro, e isso vai levá-lo à desgraça. E outra coisa: teve candidato que apoiou o Bolsonaro e não ganhou a eleição. A população votou em mim pelo meu histórico. Juiz federal, professor, militar, os meus desempenhos no debate. No ano e meio que estive à frente do Rio, a população aprovou minha administração, tínhamos 80% de aprovação. Estou esperando o resultado de uma pesquisa, mas acredito que boa parte da população não quer o meu impeachment. A população está vendo que piorou a segurança pública, a polícia voltou a ser loteada, pessoas sendo mortas, policiais mortos, fuga de empresas. O Estado está completamente desordenado, infelizmente.

O senhor acredita numa vitória no Tribunal Misto ou acha que é irreversível?
Não acho que seja irreversível. Confio nos desembargadores. O deputado Alexandre Freitas (do Novo) também tem feito um bom trabalho na comissão, boas perguntas, e tem postura de independência. Nós já demonstramos que não houve pagamento de vantagem nenhuma. No julgamento técnico, não tem como me condenar.

Quais são seus planos se sofrer o impeachment?
Eu não dependo da política para viver, estou aqui por um ideal. Minha vida cristã… Acredito que estamos aqui por um objetivo. Sou evangélico, e na palavra de Deus devemos ajudar as pessoas. Vim para ajudar as pessoas. Eu abri mão de uma carreira, a magistratura, por ideal. Sou professor de processo, de ciência política, sou advogado, jurista, não dependo da política. Estou aqui recebendo o salário de governador, que é, líquido, R$ 12 mil. Se estivesse trabalhando na advocacia, com oportunidade que já me ofereceram de emprego, minha remuneração seria absurdamente superior a isso.

Mas, se tiver os direitos políticos mantidos mesmo com o impeachment ou se livrar do processo, pretende concorrer em 2022 a algum cargo ou vai se afastar da política?
Não quero me afastar da política. Entendo que precisamos fazer muito pelo Brasil. Pretendo trabalhar minha reeleição como governador, mas não descarto a possibilidade de ser candidato a presidente. Acho que o que temos hoje no cenário é muito ruim, mas é evidente que não sou candidato de mim mesmo. Temos que ter uma análise do cenário. Aqui no Rio, não fiz um centavo de empréstimo, paguei todos os servidores, restos a pagar, investi 12% na Saúde, 25% na Educação, preparei a Cedae para o maior projeto de saneamento do País, quiçá da América Latina, e só não fiz mais porque o André Ceciliano não é bem a cara do PT. Acho que ele deveria sair do PT porque está manchando a imagem que o partido está tentando resgatar. O Rio tem hoje na presidência da Assembleia Legislativa um desorientado. Uma pessoa que tem várias investigações contra ela, que tem medo de ser presa e patrocinou junto com outro desequilibrado, que é o presidente da República, o impeachment contra mim.

Hoje o sr. se coloca na oposição a Bolsonaro, mas o que o sente quando lembra do passado bolsonarista, de aproximação intensa com ele?
Pergunta agora ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o que ele está sentindo ao ser chamado de traidor pelo Flávio Bolsonaro. É uma família de desequilibrados. O Carlos Bolsonaro, como diz o governador João Doria, é o ‘Tonho da Lua’, vive num mundo de perseguições. Como é que pode um grupo como esse estar à frente do País? Um presidente que não consegue tomar decisões sem interferência dos filhos, que são desajustados. Como é que o sujeito (Flávio Bolsonaro) compra, no meio da situação que está vivendo, uma mansão de R$ 6 milhões? Eu não colocaria o Bolsonaro para administrar nem um condomínio; depois do que mostrou após a eleição, não serve nem para ser síndico. Nós achávamos, durante o discurso dele e do Paulo Guedes na campanha, que havia uma luz no fim do túnel. Mas nas primeiras conversas que tive com o Guedes, percebi que ele não estava muito centrado na realidade brasileira.

Não previu isso em 2018?
A gente tinha duas opções: um PT desajustado, com uma série de problemas internos. A principal liderança do PT foi injustamente – agora reconhecido – julgado por uma vara incompetente, um juiz que agora está sendo considerado parcial, realmente uma situação sui generis. O sujeito era juiz numa vara, sai dessa vara que condenou o principal adversário e vai ser ministro da Justiça. Na época, achei realmente inusitada a situação. Como juiz, não tive palanque na Justiça Federal. Saí com 1% de intenção de voto e ganhei a eleição no diálogo. É isso que o presidente Bolsonaro e o Flávio não entendem. Acham que ganhei porque eles estavam ao meu lado.

Mas o sr. quis chamar o Moro para o governo do Rio quando ele saiu do ministério brigado com o Bolsonaro
O Sérgio Moro tem a sua qualificação técnica de alto nível e poderia sim me ajudar no Rio de Janeiro. Agora, a decisão que ele tomou de condenar o presidente (Lula) numa situação como essa que está sendo caracterizada e, posteriormente, ser ministro da Justiça do Bolsonaro é um tanto quanto inusitada. Eu nunca tive esse tipo de relação com ele, não condenou nenhum dos meus adversários aqui no Rio de Janeiro.

O Estadão procurou os principais alvos dos ataques de Wilson Witzel para que se pronunciassem sobre as acusações do governador afastado. O Palácio do Planalto disse que não comentaria as afirmações. Quem se manifestou, em nota, foi o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT).

“Wilson Witzel exerce o que, no Direito, chama-se Jus Esperneandi -, ‘o direito de espernear’”, diz o início da nota. “Entendo a mágoa que ele nutre contra mim, o que explica essas acusações sem prova, mas a verdade é que ele teve o destino que ele mesmo cavou, através das relações que alimentou, envolvendo até mesmo a esposa em seus desatinos.”

Para finalizar, o deputado afirma que Witzel será lembrado como o governador mais “biruta” da História fluminense.

“Wilson Witzel será não apenas o primeiro governador cassado do Brasil. Ele será lembrado também como o mais biruta de toda a história, que mandou confeccionar uma faixa de governador por se sentir um imperador.”

A Procuradoria Geral da República não respondeu ao pedido do Estadão sobre os ataques de Witzel à procuradora Lindôra Araújo.

Estadão 

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