Ataques de Bolsonaro à China não têm conserto, dizem especialistas

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Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

 

As chances de o Brasil atenuar os danos provocados pelos ataques do presidente Jair Bolsonaro aos chineses serão limitadas se o mandatário continuar “tocando lenha na fogueira”, como avalia Rubens Ricupero, diplomata e ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente. “Para o governo da China, o que conta é, sobretudo, a atitude do presidente, porque ele é o chefe do governo, concentra o maior poder, representa o país”, explicou ao Correio. “O trabalho de apaziguamento dos ministros ajuda, é claro, da mesma forma que o do presidente do Senado, dos governadores. Nada disso, porém, basta para compensar uma declaração desastrosa do presidente como essa última”, alertou.

Ricupero lembrou que a consequência das ações pouco diplomáticas de Bolsonaro é o atraso repetido na entrega da matéria-prima para as vacinas. “É claro que a embaixada chinesa e o governo de Pequim não vão passar recibo e afirmar que uma coisa é consequência da outra. Em diplomacia, a resposta vem pelos fatos, não pelas palavras”, acrescentou.

Analistas lembram que, além de um grande fornecedor dos insumos para os imunizantes contra a covid-19, a China é o maior parceiro comercial do Brasil, respondendo por 34,6% das exportações nacionais realizadas de janeiro a abril, o equivalente a US$ 28,4 bilhões, conforme dados do Ministério da Economia.

Para Eduardo Galvão, professor de relações institucionais do Ibmec-DF, os ataques visam retirar o foco da CPI da Covid. “Podem ser parte de uma estratégia de comunicação, em que a CPI traz à tona, novamente, diversos fatos sobre a gestão da pandemia. Isso pode impactar na popularidade do presidente. Então, essas declarações, que ocupam os noticiários, podem ser a famosa cortina de fumaça para desviar o assunto”, argumentou.

Para ele, a ausência de reações por parte de muitos parlamentares e representantes de outros setores é justificada pela proximidade das eleições. “O fato de alguns grupos políticos não entrarem nessa discussão pode ser estratégia política. Bolsonaro ainda é muito competitivo para disputa de 2022 e, se a economia for bem, deve chegar lá com mais força”, destacou.

Correio Braziliense