Ato contra Bolsonaro em SP esmagou o ato favorável

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Após mais de quatro horas de ato em São Paulo contra o presidente Jair Bolsonaro, os manifestantes começaram a dispersar nas imediações da praça Roosevelt, no centro da capital paulista. O protesto começou por volta das 16h deste sábado (29) e reuniu milhares de pessoas na avenida Paulista, que foi bloqueada ao longo de sete quarteirões a partir da frente do Masp (Museu de Arte de São Paulo).

De lá, a manifestação seguiu pela rua da Consolação até chegar à praça, onde por volta das 20h15 começou a dispersão dos participantes do ato. O protesto em São Paulo fez parte da série de atos pelo país apoiados por centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda.

Pela manhã, houve atos em capitais como Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte e Recife.

A manifestação paulistana contou com a presença do pré-candidato do PSOL ao Governo de São Paulo, Guilherme Boulos. Ao chegar ao evento, o líder partidário, que também é um dos coordenadores da frente Povo sem Medo, disse que “derrotar o Bolsonaro é uma questão de saúde pública”.

Indagado sobre o fato de o protesto ser realizado em meio à pandemia de Covid-19, Boulos afirmou: “Se você olhar em volta, vai ver todas as pessoas de máscara. Não há nenhum tipo de comparação entre essa manifestação e aquelas promovidas pelo Bolsonaro, baseadas no negacionismo”.

Apesar de várias horas de protesto no centro de São Paulo, quase a totalidade dos manifestantes usam máscaras. No carro de som os organizadores pediram distanciamento várias vezes, sem sucesso —havia muita aglomeração.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, também esteve no ato. Em discurso na avenida Paulista, ela defendeu a presença no ato e atacou Bolsonaro.

“Nós sabemos a crise que estamos vivendo, a situação crítica da pandemia. Está certo quem está aqui fazendo esse ato. Como também estão certos os companheiros e companheiras que não quiseram ou não puderam vir, mas estão nas suas casas mas redes sociais e janelas. Errado está Jair Bolsonaro.”

Os organizadores estimaram que 80 mil pessoas tenham participado do protesto paulistano.

Uma das presentes no ato foi a psicóloga Elizabeth Couto, 76. Apesar de estar em uma das faixas etárias mais atingidas pela pandemia, ela avalia que participação nos atos é importante para que os mais jovens, como a sobrinha que a acompanhava, sejam vacinados.

“Bolsonaro é um genocida. Quero meu Brasil de volta, para mim, para minha sobrinha. Fui vacinada, e acho que todos os vacinados deveriam estar aqui também”, disse Elizabeth.

Ao fim do ato, Josué Rocha, membro da coordenação da Frente Povo sem Medo, comemorou o fato de o protesto ter atraído um grande número de manifestantes. “Tivemos que vir para as ruas porque não havia mais como ficar em casa sem lutar contra esse governo”, disse.

Indagado sobre o risco de as aglomerações no ato levarem ao contágio de manifestantes, Rocha afirmou que várias medidas foram adotadas para evitar contaminações, como a distribuição de máscaras. “Sabemos que isso [aglomerações] traz um certo risco nesse momento da pandemia, mas o governo Bolsonaro, com a continuidade da sua política, causa mais risco ainda para a população. Então é por isso que estamos nas ruas”, completou.

s manifestações, que foram alvo de críticas por acontecerem presencialmente em meio à pandemia da Covid-19, foram realizadas num momento em que o país ultrapassa 450 mil mortes pela doença, sendo 2.418 registradas em 24 horas. Pelo menos nove capitais, além do Distrito Federal, têm ocupação acima de 90% dos leitos de UTI.

A recomendação dos organizadores para a utilização de máscaras teve ampla adesão de manifestantes —houve distribuição do equipamento no local.

Organizada por frentes sociais como Povo sem Medo, Brasil Popular e Coalizão Negra por Direitos (que são integradas por dezenas de entidades) e apoiada por partidos como PT, PSOL, PC do B, PCB, PCO e UP, a manifestação representa um avanço para a ala da esquerda que defende ir às ruas e reunir multidões contra Bolsonaro.

Houve um racha nos segmentos de oposição ao presidente nos últimos meses sobre promover atos populares em meio à pandemia, mas ganhou força na esquerda um entendimento de que a situação de descontrole da Covid-19 e os índices de desemprego e fome exigem a realização de protestos.

Organizadores também disseram que iriam aconselhar pessoas que integram grupos de risco da doença ou que estivessem com sintomas a evitarem participar do protesto.

A promoção de aglomerações contraria as recomendações de médicos e especialistas para evitar a propagação do vírus. Em ambientes ao ar livre, a orientação é a de que as pessoas mantenham uma distância de pelo menos 1,5 metro.

Uma das preocupações dos organizadores é diferenciar os atos da esquerda daqueles promovidos por apoiadores de Bolsonaro, que muitas vezes atraem pessoas sem a devida proteção para evitar o contágio, como ocorreu no Rio de Janeiro no último domingo (23).

Folha