Brasil é o único a rejeitar vacina russa

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Foto: Dado Ruvic

A Rússia tem tido dificuldades para atender à demanda por sua vacina Sputnik V, o que agravou a crise de oferta de vacinas contra a covid-19 no mundo em desenvolvimento, em um momento em que o número de novos casos da doença dispara em muitos dos países mais pobres. Mais de 60 países aprovaram o uso da vacina Sputnik V, e Moscou fechou acordos para vender mais de 630 milhões de doses, segundo a empresa de análises Airfinity, que monitora a distribuição mundial de vacinas.

Essas doses são especialmente importantes para o mundo em desenvolvimento, já que os esforços multilaterais para abastecer os países mais pobres vêm enfrentando falhas graves nas últimas semanas — que abriu as portas para as vacinas produzidas pela Rússia e pela China.

Mas a Rússia está atrasada em algumas entregas, e analistas que monitoram o processo dizem que falta capacidade de produção mundial para atender aos pedidos. Até agora, o país entregou apenas cerca de 15 milhões de doses.

Autoridades mexicanas e argentinas relataram atrasos nas remessas da segunda dose da vacina, que leva mais tempo para ser produzida, o que impede seus países de completar o ciclo de vacinação.

Os dois países usam várias vacinas além da Sputnik V, e até agora cerca de 17% dos argentinos e 11% dos mexicanos receberam ao menos uma dose de uma das vacinas disponíveis. Na Argentina apenas 3% foram totalmente vacinados, de acordo com o site Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford. No México, esse percentual chega a 7%.

Enquanto isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do Brasil rejeitou recentemente a Sputnik V, com o argumento de que os dados sobre segurança e eficácia são incompletos. Com isso, Chile e Colômbia pediram mais informações ao Brasil, pois estão em processo de avaliação se devem ou não usar a vacina russa.

Na quarta-feira, um grupo de cientistas internacionais publicou uma carta na revista médica “The Lancet”, na qual critica a falta de transparência dos dados e as discrepâncias no ensaio clínico russo. Os desenvolvedores da Sputnik V responderam que têm publicado dados suficientes e suas descobertas foram confirmadas por outros estudos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), que na semana passada avalizou uma vacina chinesa contra a covid-19, e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) ainda estão avaliando a Sputnik V. Essa avaliação inclui a checagem das informações dos ensaios clínicos e inspeções das instalações de produção na Rússia.

Os contratempos enfrentados pela Sputnik V aumentam os problemas para os países em desenvolvimento, depois que a Índia, um grande fornecedor de vacinas, praticamente parou de exportá-las em meio à recente explosão de novos casos de coronavírus no país. A Índia registrou mais de 400 mil novos casos por dia nas últimas semanas.

O apoio do governo do presidente dos EUA, Joe Biden, à quebra das proteções de propriedade intelectual criou esperanças de que mais vacinas possam ser produzidas no mundo em desenvolvimento e suprir parte da escassez.

Mas funcionários da área de comércio e autoridades dizem que qualquer renúncia à propriedade intelectual não terá impacto sobre o fornecimento de vacinas antes de 2022, o que significa que um fornecimento mais rápido da Sputnik V pode ser fundamental para muitos países.

“Embora a Rússia tenha tido bastante sucesso em vender sua vacina, agora ela enfrenta desafios significativos para dar seguimento com doses”, disse Andrea Taylor, diretora assistente de programas do Centro de Inovação de Saúde Mundial, da Duke University. “O que precisamos ver é uma manufatura que esteja à altura dos pedidos e aprovações de agências reguladoras rigorosas, como a EMA ou a OMS.”

O baixo custo da vacina russa, de menos de US$ 10 por dose, e a possibilidade de armazená-la a temperaturas normais de geladeira, fizeram dela uma opção atraente para países de baixa renda. Cerca de 35 milhões de doses foram produzidas até agora, a maioria como produção nacional voltada principalmente para a população local.

Moscou anunciou acordos de produção com fábricas na China, Coreia do Sul e Turquia, entre outros países, mas essas instalações ainda não começaram a produzir em massa.

Apenas o Cazaquistão e a Bielorrússia têm produzido a Sputnik V no exterior, com 1,8 milhão e 300 mil doses, respectivamente, de acordo com a Airfinity. Isso deixa a Rússia sem capacidade de produção mundial suficiente para atender à demanda.

“No momento atual, não parece provável que a Rússia seja capaz de cumprir seus acordos tão cedo”, disse Matt Linley, analista sênior da Airfinity.

Outros fabricantes de vacinas também atrasaram remessas ao redor do mundo. A empresa americana de biotecnologia Novavax informou na segunda-feira que a escassez de insumos tem retardado seus planos de produção. No mês passado, a União Europeia processou o laboratório farmacêutico sueco-britânico AstraZeneca por não cumprir o contrato com o bloco para entrega de vacinas contra a covid-19.

Um porta-voz do Fundo Russo de Investimento Direto, que promove a Sputnik V no exterior, informou que a produção na Rússia e em outros países foi reforçada e atenderá totalmente à demanda. Antes disso, o fundo havia culpado a política e o lobby das grandes empresas farmacêuticas por seus problemas regulatórios.

O presidente russo, Vladimir Putin, disse na semana passada que as vacinas de seu país são “bastante modernas e, sem dúvida, as mais seguras e confiáveis hoje”, e as comparou com o famoso fuzil Kalashnikov, da Rússia. “Devemos nos preocupar menos com os lucros e mais em garantir a segurança das pessoas”, disse.

A Sputnik V, que foi aprovada para uso na Rússia em agosto, foi criticada no Ocidente por seu desenvolvimento acelerado e pela falta inicial de testes clínicos em grande escala. Desde então, um grande ensaio clínico revisado por pares publicado no “The Lancet”, em fevereiro, mostrou que a vacina era segura e tinha eficácia de 91,6% contra a covid-19. Mas o imunizante é difícil de se produzir e difere de outras vacinas semelhantes.

A Sputnik V usa uma forma alterada geneticamente de um vírus comum, conhecido como adenovírus, como veículo do material genético do coronavírus. Os ingredientes da vacina são então cultivados nos chamados biorreatores de cerca de 2 mil litros, onde pequenas mudanças em variáveis como temperatura, pressão do ar ou níveis de pH afetam a produtividade.

Diferentemente de outras vacinas baseadas em adenovírus, como a da AstraZeneca, a Sputnik V usa um adenovírus diferente na segunda dose, que demora mais para ser produzido, segundo especialistas em saúde pública e vacinas. Conseguir que fabricantes estrangeiros se atualizem quanto ao processo leva mais tempo.

“Os métodos de fabricação de vacinas de vetor de adenovírus são bastante específicos. Isso exige um certo nível de especialização por parte dos fabricantes e, basicamente, torna o aumento da produção mais difícil”, disse Elena Subbotina, gerente da consultoria global de saúde CBPartners.

Na segunda-feira, autoridades mexicanas relataram atrasos em remessas da segunda dose. O subsecretário de Prevenção e Promoção da Saúde do México, Hugo Lopez-Gatell, disse que as quantidades da primeira e da segunda doses que a Rússia preparava “se dessincronizaram”.

Na Argentina, as autoridades receberam mais de 5 milhões de unidades da primeira dose da vacina e cerca de 1 milhão da segunda dose, o que levou o governo a atrasar a aplicação da segunda dose em até 90 dias.

“A fabricação dos dois componentes da Sputnik V tem sido ampliada na Rússia e no exterior para atender totalmente à crescente demanda internacional pela vacina”, disse o porta-voz do Fundo de Investimento Direto da Rússia.

A Rússia anunciou novos acordos de produção com empresas chinesas para 260 milhões de doses, mas algumas fábricas não estarão prontas até o fim deste ano.

A Rússia também introduziu na semana passada uma vacina de dose única, que chamou de Sputnik Light, que inclui a primeira dose da Sputnik V e pode aliviar a escassez da segunda dose.

Autoridades russas disseram que a Sputnik Light tem eficácia de 79,4%, embora essa conclusão se baseie em um estudo observacional e não em um ensaio clínico revisado por pares.

Valor Econômico

 

 

 

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