CPI da Covid barra propaganda pró-Malafaia
Foto: Antonio Scorza / Antonio Scorza
O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), negou colocar em votação um requerimento do senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) convidando o pastor Silas Malafaia para falar na comissão. A ida dele à CPI havia sido sugerida pelo senador Flávio Bolsonaro (Repubicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolonaro, mas o requerimento foi apresentado por Marcos. Em contraposição, dois senadores de oposição, Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), sugeriram chamar o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, que é investigado pela possível “rachadinha” no gabinete de Flávio quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Na quinta-feira da semana passada, durante uma sessão da CPI, Flávio Bolsonaro reclamou da tentativa de alguns senadores de apurar um possível “aconselhamento paralelo”, à margem do Ministério da Saúde, ao presidente da República na política de enfrentamento à pandemia. E sugeriu então que Malafaia fosse ouvido, porque ele “fala quase diariamente com o presidente e influencia o presidente”.
Nesta quarta-feira, Omaz Aziz negou votar o requerimento, alegando que as conversas de Malafaia com Bolsonaro não significam que o pastor influencie ações políticas do presidente, sendo na verdade conselhos espirituais. Humberto Costa sugeriu que outra pessoa que é amiga de Bolsonaro e que conversa muito com ele, Queiroz, também poderia ser chamado para depor. Ele foi apoiado por Randolfe.
— Eu fiz o requerimento para convite do pastor Silas Malafaia, porque foi dito que ele é uma pessoa que o presidente ouve muito — disse Marcos.
— O senador filho do presidente da República, Flávio Bolsonaro, falou aqui, deu o testemunho de que o pastor Silas Malafaia falava diariamente com o presidente. Com isso, a gente não pode ter dois pesos e duas medidas. Qual o medo de ouvir o pastor Silas Malafaia? Acho justo que busquemos toda a verdade, e não apenas parte da verdade — apoiou o também governista Eduardo Girão (Podemos-CE).
Marcos Rogério criticou então a aprovação da convocação do empresário Carlos Wizard, pela suposta participação no aconselhamento paralelo. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) se contrapôs, afirmando que o próprio ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello citou o nome de Wizard. Foi quando Humberto interveio:
— Podia chamar o Queiroz. Tem muita amizade também, conversa muito.
— Apresente o requerimento — respondeu Marcos.
— O senador Humberto deu sugestão de requerimento que eu já quero subscrever com ele. A gente vota tudo junto depois. É razoável — afirmou Randolfe.
Depois, Omar Aziz justificou por que não colocaria a convocação de Malafaia em votação. Ele afirmou que tem um respeito muito grande pelo pastor e que já até o recebeu em casa quando era governador do Amazonas.
— É um líder espiritual muito forte no Brasil. Tenho certeza de que o que o senador Flávio Bolsonaro falou aqui é que os conselhos que ele recebia eram conselhos espirituais para que o presidente Bolsonaro tivesse força para enfrentar os problemas. Não creio, até pelo conhecimento que tenho do pastor Silas Malafaia, que ele fizesse qualquer ingerência dentro do governo. Não acredito nisso. Tenho um respeito enorme. Um líder religioso da envergadura do pastor Silas Malafaia dificilmente pediria para nomear A ou B num cargo, indicar alguém. Não é o papel que ele faz. Nunca fez isso. Em respeito à liderança espiritual e liderança religiosa, estou indeferindo seu pedido, e não vou pautar isso, porque sei que ele é uma pessoa seguida por muita gente. E muita ente acredita em Silas Malafaia pelo que ele transmite de amor e carinho a Cristo, e isso respeitamos muito — disse Omar.
Depois, o presidente da CPI reclamou de quebra de acordo:
— Sabe quando você fica intranquilo? Quando faz um acordo, depois de passar uma hora lá, chega aqui e as pessoas fazem diferente. Não é a primeira vez. A primeira vez foi na prisão do Fábio. Agora, a segunda vez. Eu tento ser o mais democrático possível, porque é meu papal, mas também não posso chegar aqui, coloco em votação [e dizem] “não, eu não fiz esse acordo” Como não?