Diretor do Butantan diz que Bolsonaro cancelou compra de vacinas

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Foto: Edilson Rodrigues

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse, em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, no Senado, nesta quarta-feira (27/5), que as negociações com o Ministério da Saúde foram interrompidas após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que a vacina não seria adquirida. As negociações só foram retomadas em janeiro, quando o contrato foi assinado em meio a pressões políticas.

Na época, em outubro, o Ministério da Saúde chegou a anunciar a assinatura de um contrato de intenção de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, produzida pelo Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. O presidente, entretanto, desautorizou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello publicamente, e a pasta voltou atrás.

No dia 21 de outubro, Bolsonaro afirmou: “Já mandei cancelar. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade. Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessada por ela, a não ser nós”. No dia seguinte, em meio a discussões sobre descompasso entre ele e o ex-ministro, Bolsonaro gravou um vídeo ao lado de Pazuello. Na gravação, o general soltou a frase “Um manda, o outro obedece”, se referindo sobre sua relação com o presidente no imbróglio da compra de vacina.

Na época, o anúncio de que a vacina não seria comprada, após as declarações de Bolsonaro, foi feito pelo ex-secretário-executivo do ministério Élcio Franco. Um vídeo mostrando falas de Élcio foi mostrado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), durante a sessão.

Na CPI, Covas deu todo o histórico da situação. De acordo com ele, em 20 de outubro, ele foi convidado pelo então ministro Eduardo Pazuello a comparecer a uma reunião em que foi anunciado que a CoronaVac “seria a vacina do Brasil”. “Havia a presença de vários governadores e parlamentares. Saímos satisfeitos com a evolução e achávamos que, de fato, tínhamos resolvido parte do problema”, contextualizou o diretor.

Um dia antes, 19 de outubro, houve assinatura de um compromisso de incorporação, segundo Covas. No dia 21, um dia depois da reunião com Pazuello, “houve uma manifestação do presidente da República dizendo que a vacina não seria incorporada”, e o compromisso só foi concretizado no dia 7 de janeiro.

Na época, em outubro, o instituto estava oferecendo ao governo 100 milhões de doses que seriam entregues até maio. Antes, havia feito outras duas ofertas ao Ministério da Saúde de 60 milhões de doses a serem entregues até dezembro de 2020, mas que não foram aceitas pelo governo federal. Em sua fala, Covas lembrou que o contrato com a AstraZeneca foi firmado pelo governo em agosto.

As informações de Covas contradizem Pazuello. Na semana passada, em depoimento na CPI, o ex-ministro afirmou que Bolsonaro não interferiu na compra de vacina. Na justificativa dele, as falas do presidente pelas redes sociais ou a terceiros, ainda que publicamente, não se transformavam, necessariamente, em ordens.

À imprensa, o líder do governo no Senado e integrante da CPI, como suplente, Fernando Bezerra (MDB-PE), disse que não houve interrupção na negociação com o governo. De acordo com ele, documentos internos, com e-mails e mensagens, mostram isso. Questionado, disse que as documentações serão anexadas antes da produção do relatório final pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL). Bezerra usou como justificativa de que o que está sendo dito são “narrativas”.

“A narrativa que está sendo desenvolvida é de querer imputar ao governo, que o governo omitiu, que o governo atrasou, que as negociações foram suspensas. E vamos ter elementos para mostrar que isso não ocorreu”, afirmou, negando que a situação esteja difícil ao governo no âmbito da pandemia.

Correio Braziliense