Eleição para Constituinte chilena tem baixa adesão do eleitorado
Foto: Pablo Sanhueza/Reuters
A eleição da Assembleia Constituinte chilena, realizada neste fim de semana, marcou uma vitória dos candidatos independentes, segundo resultados parciais. Espalhados em listas de votação distintas ou abrigados em legendas de diferentes orientações ideológicas, eles conqusitaram 65 cadeiras na nova Casa, segundo o Servel (Serviço Eleitoral do Chile).
No total, a votação, dividida em dois dias para evitar aglomerações, define os 155 legisladores que terão um mandato de dois anos para elaborar o documento que substituirá o formulado durante a ditadura de Pinochet (1973-1990). Além de uma cota indígena, de 17 assentos, haverá paridade entre homens e mulheres.
A direita, que era tida como favorita a ter um bloco sólido, sofreu uma derrota e deve conseguir menos que um terço dos assentos: apenas 37. Deste modo, a estratégia de apresentar-se como lista única mostrou-se equivocada e o bloco terá de dialogar para barrar reformas que não deseja.
Segundo o regimento da redação da Carta, cada lei precisa ter dois terços dos votos para ser aprovada. Com menos de um terço dos legisladores, a direita terá dificuldade em barrar pautas de reformas que não deseja.
Já a esquerda saiu-se dentro do esperado, com 53 assentos, e será fortalecida pelo apoio da maioria dos assentos destinados aos povos originários.
“Os chilenos expressaram a necessidade de novos tipos de liderança e é nosso dever escuta-lo”, disse o presidente Sebastian Piñera, na noite deste domingo. “O resultado de hoje é um chamado à reflexão. A escolha foi democrática e dentro da democracia se deve redigir essa nova Constituição.”
Até por volta de 22h30 (23h30 em Brasília) deste domingo, ainda não havia uma cifra oficial de comparecimento, mas esta indicava ser abaixo da que se obteve no plebiscito de outubro, o que pode levantar questões sobre a legitimidade do processo.
Enquanto votos eram contados pelo país, o prefeito da região metropolitana de Santiago, Felipe Guevara, afirmou que “dificilmente se chegará a um comparecimento às urnas parecido ao do plebiscito” de outubro do ano passado, que foi de 50,95%. Naquela oportunidade, os chilenos aprovaram a formação da Assembleia Constituinte, que agora tem seus membros definidos. Ao longo do dia, TVs chilenas entrevistaram mesários em várias regiões do país que relataram movimento baixo nos centros de votação.
Assim, os dois dias de eleição não refletiram o furor dos protestos de rua que tiveram início em outubro de 2019, demandaram a formulação de uma nova Constituição e só abrandaram devido à Covid.
Levantamento do instituto Cadem já havia mostrado que apenas 52% dos entrevistados declararam intenção de votar, e só 46% disseram estar interessados no pleito —no Chile, o voto não é obrigatório.
Devido ao fuso horário, as urnas chilenas começam a ser abertas antes no sul do país, que está uma hora atrás em relação ao resto do território. Assim, seguindo uma tradição local, mesários do principal centro de votação de Punta Arenas abriram a primeira cédula e gritaram o nome do vencedor contido naquele papel, numa contagem que ocorre em paralelo ao escrutínio sistematizado dos votos impressos.
Ali, o nome de uma mulher mapuche, Natividad Llanquileo, 36, foi bradado, o que fez dela a primeira a receber um voto para se tornar membro da nova Assembleia.
Neste pleito que também decide a escolha de prefeitos, vereadores e governadores regionais, há uma cota de 17 cadeiras reservadas a representantes dos povos originários, que pela primeira vez participarão da redação da Carta chilena. E, a cada vez que um mapuche tinha o nome gritado, havia celebração, uma euforia que contrasta com a baixa participação geral no pleito chileno.
A eleição deste final de semana também serviu como uma prévia da disputa entre pré-candidatos à Presidência, cuja eleição ocorre em novembro. Pamela Jiles, deputada do Partido Humanista, de esquerda, causou comoção ao acompanhar o marido, Pablo Maltés, candidato a governador, no local de votação.
Ainda que, de acordo com pesquisa do Instituto Ipsos, 52% dos chilenos ainda se consideram mal informados sobre os nomes que devem concorrer à sucessão de Piñera, Jiles está à frente em levantamentos recentes, como o do Instituto Cadem e da própria Ipsos.
Desrespeitando a lei eleitoral, a deputada convocou eleitores a votar no marido. Além de cometer um ato ilegal, ela insultou o presidente com palavras de baixo calão, ao chamá-lo de “assassino filho da puta”.
Jiles, uma ex-apresentadora de TV, tem 18% das intenções de voto para presidente. Daniel Jaude, do Partido Comunista, aparece em segundo, com 11%, seguido pelo direitista Joaquín Lavín, com 10%.
Ao votar neste domingo, Jaude comentou a fala de Jiles. “Cordialidade e valentia são coisas diferentes. Não vejo debate político em troca de insultos e não vi nenhuma ideia política ser defendida.” O órgão eleitoral chileno anunciou a abertura de uma investigação para definir se haverá punição à deputada.
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