Vitimada por Bolsonaro, Universal quer se aproximar do PT

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Foto: Danilo Verpa – 8.jul.17/Folhapress

Nada parece mais sintomático da falência sistêmica do bolsonarismo do que as frustrações da Igreja Universal do Reino de Deus e a ameaça de uma possível ruptura entre a instituição e o governo.

Primeiro presidente eleito com voto em massa de uma comunidade religiosa, Jair Bolsonaro prometera colocar o Estado a serviço de pastores e bispos. A aliança na política externa, menos discutida publicamente, era tão importante como os outros acertos. A Igreja Universal via no Itamaraty um veículo para ampliar a sua transnacionalização e em Bolsonaro o melhor embaixador para os seus interesses.

Componente essencial do projeto de poder da Igreja Universal desde os anos 1980, a expansão internacional tornara-se ainda mais importante a partir dos anos 2010. A presença na África, e especialmente em Angola e Moçambique, era o principal diferencial em relação às suas concorrentes nesse momento mais fragmentado e competitivo da comunidade evangélica no Brasil.

Os bispos, de fato, tomaram para si a política africana. O hoje ex-chanceler Ernesto Araújo dedicara a sua única ida à África, no final de 2019, à promoção de uma “nova política externa” que tinha como premissa a sujeição da política africana a uma visão bíblica do mundo. Porém, na percepção dos dirigentes africanos, o ministro somava o insulto à ofensa. O governo Bolsonaro havia desativado o financiamento público, abandonado a diplomacia econômica e esvaziado todos os programas de cooperação.

Agora, ele vinha anunciar um processo de evangelização com fortes tons neocoloniais. Essa atitude caricatural rendeu o desprezo da maioria dos interlocutores africanos e um conflito aberto com as autoridades angolanas, que se recusaram a aceitar o governo brasileiro como mediador da sua relação institucional com a Igreja Universal, implantada no país há décadas.

A crise diplomática, que já dura mais de um ano, deixa claro que a boa inserção da Igreja Universal em Angola, além da tolerância aos seus métodos autoritários e centralizadores, dava-se no contexto de uma relação mais ampla e generosa com o governo brasileiro.

Nas palavras de um observador privilegiado dos acontecimentos, era a empreiteira que viabilizava o templo, e não o contrário. Esquecer esse simples cálculo custou caro aos bispos e a Bolsonaro.

A chegada do chanceler Carlos Alberto França, que tem resistido à invasão do Itamaraty por agentes não estatais, praticamente sepultou o projeto de uma diplomacia evangélica, e Edir Macedo já começou a tirar as consequências desse fiasco. Ele sabe que Lula, o único responsável político em condições de reconstruir a ponte entre Brasil e África a tempo de salvar os interesses da Igreja Universal, também é o principal rival de Bolsonaro nas eleições de 2022.

Não seria, portanto, uma surpresa se a crise na África marcasse o começo de uma reaproximação da Igreja Universal com o Partido dos Trabalhadores, num movimento consistente com as mudanças no comportamento do eleitorado evangélico detectadas pelo Datafolha. Indiferente à história, Bolsonaro ignora que o Brasil começou em Angola. A conta chega agora.

Folha de S. Paulo

 

 

 

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