Força de Lula nas pesquisas não vem de promessas, vem de lembranças
Foto: Miguel Schincariol/AFP
As pesquisas Datafolha e DataPoder divulgadas na semana passada consolidam um novo quadro eleitoral no qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passa a ser o favorito para as eleições de 2022. As pesquisas têm metodologias distintas (as entrevistas do Datafolha são presenciais, as do PoderData por telefone), mas mostram que em um eventual segundo turno, Bolsonaro é massacrado pelo ex-presidente por uma diferença que varia de 15 pontos percentuais (50% a 35% no DataPoder) a 23 pontos percentuais (55% a 32% no Datafolha).
As sondagens dizem muito mais sobre a fragilidade do bolsonarismo neste momento do que o potencial de Lula. Na prática, o antibolsonarismo se tornou a maior força política do País, assim como foi o antipetismo entre 2016 e 2018. O governo Bolsonaro é reprovado pela maioria da população e o presidente é pessoalmente responsabilizado pelo descaso com a pandemia de Covid-19.
(Antes de prosseguir, um disclaimer: pesquisas são retratos de um momento. Eleitores mudam de opinião e basta ver a gangorra da aprovação de Bolsonaro depois do Auxílio Emergencial no ano passado para enxergar que nada é definitivo. O que vamos tratar aqui é de tendências.)
Neste início de campanha, Lula tem a seu lado a fortuna. Rapidamente: no sentido dado por Nicolau Maquiavel, nossas ações são governadas pela fortuna e pela virtù. A fortuna é a sorte ou azar das circunstâncias, o destino sobre o qual não temos controle. A virtù, palavra que vem do latim “vir”, varão, é a nossa capacidade de agir para transformar as circunstâncias ao nosso favor.
A primeira fortuna de Lula é a inoperância do governo Bolsonaro. A paralisia da economia, o desemprego recorde, os preços de alimentos crescentes, o desastre na condução da Covid-19 e a fila emperrada das vacinas revelam um governo sem agenda e, principalmente, sem perspectiva.
Lula, por sua vez, vende a imagem de um tempo no qual as coisas estavam melhores e se o governo Bolsonaro não chacoalhar, essa comparação simplista poderá bastar para criar um fosso entre os dois. Por enquanto, a vantagem de Lula nas pesquisas não é resultado do futuro que ele promete, mas do passado que ele representa.
Um governo tão ineficiente merece ter uma oposição forte e aí está a segunda fortuna de Lula. Responsável pela vacina aplicada em quatro de cada cinco brasileiros, João Doria é tão desagregador que sequer tem a maioria no próprio partido. Ciro Gomes gira peripatético em torno do seu egocentrismo. O ex-juiz Sergio Moro foi do céu ao inferno sem escalas. Quando recobrou os direitos políticos, Lula voltou sem que ninguém houvesse ocupado o lugar de o antibolsonaro.
A terceira fortuna de Lula é a arrefecimento do antipetismo, o dínamo que derrubou Dilma Rousseff, prendeu o ex-presidente e isolou o PT mesmo entre os partidos de esquerda. A vaza jato e a reversão da prisão de Lula, a aliança de Bolsonaro com o Centrão e a derrota de todos os candidatos da Nova Política nas eleições municipais comprovam que o humor do eleitor mudou. Até a virada do ano, era normal ouvir socialistas e comunistas defendendo o fim das relações com o PT. O cheiro de uma possível vitória em 2022 mudou isso.
O desafio de Lula será dominar a sua virtù. No quadro atual no qual apenas ele e Bolsonaro têm chances de vitória, Lula tem a oportunidade de atrair ex-aliados que pisotearam o PT nos anos de vacas magras e assim garantir a maioria no segundo turno. Mas como fazer isso sem magoar os que ficaram ao seu lado quando ser petista havia se tornado em sinônimo de bandido?
Exemplo simples: na sexta-feira (14/05), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que num segundo turno entre Lula e Bolsonaro nunca votaria no atual presidente. As relações entre FHC e Lula são complexas, cheias de mágoas e recriminações mútuas de décadas, mas um animal político faria os dois se sentarem para um café. Lula seria capaz desse gesto? E se fosse, a atitude seria aceita pelos petistas que acham que o erro fundamental dos seus governos foi ser transigente com o establishment?
A vantagem de Lula sobre Bolsonaro nas pesquisas veio cedo demais e obriga o ex-presidente a tomar decisões que, em geral, poderiam ser adiadas para 2022. Apenas há 15 dias ele começou a fazer contatos políticos e sequer montou uma equipe para cuidar de programa de governo, função que deve delegar ao ex-prefeito Fernando Haddad.
Nesses cinco anos como oposição, o PT assumiu uma postura à esquerda de seus próprios governos. Passou a ser incisivo na defesa de direitos trabalhistas e dos movimentos negro, ambientalista, feminista e GLBTQI+. Mas em breve, Lula será cobrado a indicar interlocutores para recobrar relações com os partidos políticos do Centrão, os empresários, o mercado financeiro, o Exército, a mídia e as igrejas evangélicas – organizações que atuaram pelo impeachment, pela sua prisão e pela asfixia ao PT.
A virtù de Lula em modular a relação desses movimentos contraditórios vai decidir o futuro da sua campanha. Mantidas as atuais circunstâncias, é possível desenhar um cenário no qual Lula vença as eleições de 2022 sem concessões, apenas por não ser Jair Bolsonaro. Mas não está claro que se conseguirá governar apenas com os seus. Bolsonaro está provando que o tempo de divisões tem um prazo.
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