Governadores que não podem se reeleger não disputarão outro cargo

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Foto: Alberto Coutinho / GOVBA / Divulgação

Dos dez governadores já reeleitos em 2018 e que não podem disputar agora um novo mandato, ao menos cinco deles devem permanecer no cargo até o final de 2022 e não concorrer a nenhum outro cargo na eleição do próximo ano.

A tendência é que esses governadores cumpram o mandato até o final para melhor conduzir a própria sucessão. Como em 2022 haverá uma única vaga por estado em disputa para o Senado, caminho considerado natural para ex-governadores, este posto será destinado a potenciais aliados de outros partidos.

Os governadores têm até o início de abril de 2022 para decidir seus destinos políticos, isso porque, segundo a Justiça Eleitoral, eles precisam deixar seus cargos seis meses antes da eleição, caso decidam disputar uma vaga no Legislativo.

Mas alguns deles já se anteciparam: o governador da Bahia, Rui Costa (PT), por exemplo, já anunciou que não pretende concorrer à eleição do próximo ano.

Com a elegibilidade de Lula após a anulação de processos pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o PT acelerou as negociações com partidos de centro para apoiar a candidatura do ex-presidente ao Planalto.

O objetivo central do partido é reconquistar o governo federal, aumentar as bancadas no Congresso e manter os estados que já governa.

Na Bahia, o candidato ao governo da situação será o senador Jaques Wagner (PT), que já foi governador do estado de 2007 a 2014. A composição prevê o apoio ao senador Otto Alencar, um dos quadros mais importantes do PSD cuja reeleição é considerada crucial para o partido.

Com a vaga para o Senado destinada para um aliado, a solução para Rui Costa seria disputar um mandato de deputado federal, mas isso demandaria deixar o governo nas mãos do vice-governador João Leão (PP), aliado que poderia usar o mandato-tampão para também concorrer ao governo.

Desta forma, Rui Costa deve repetir o mesmo roteiro de Jaques Wagner em 2014, quando cumpriu seu mandato até o final para conduzir sua sucessão sem sobressaltos.

Outro governador que caminha para não disputar um novo mandato é Renan Filho (MDB), de Alagoas. Sem um nome natural para sua sucessão, ele deve trabalhar um de seus secretários para disputar o governo do estado.

O principal empecilho para deixar o governo é a falta de um vice. Luciano Barbosa (MDB), eleito vice-governador na chapa de Renan Filho em 2014 e 2018, renunciou ao cargo em 2020 após ter sido eleito prefeito de Arapiraca, segunda maior cidade do estado.

Desta forma, caso Renan Filho deixe o governo para concorrer ao Senado, um governador-tampão terá que ser eleito pela Assembleia Legislativa, onde o governador não tem maioria sólida.

O nome mais forte para a missão seria o do presidente da Assembleia, deputado estadual Marcelo Victor (Solidariedade). Mas pesa contra o deputado a sua proximidade com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), que trava uma disputa velada com os Calheiros em Alagoas.

Em Sergipe, o cenário é parecido: a relação estremecida entre o governador Belivaldo Chagas (PSD) e o PT, partido da vice-governadora Eliane Aquino, pode forçá-lo a permanecer no cargo ao longo do próximo ano.

Os dois partidos já marcharam separados na eleição em Aracaju, no ano passado, e são pequenas as chances de manutenção da aliança.

O grupo do governador avalia nomes como o deputado federal Fábio Mitidieri (PSD) e do prefeito de Aracaju Edvaldo Nogueira (PDT) para a sucessão. O PT lançou a pré-candidatura do senador Rogério Carvalho.

A avaliação de aliados do governador é que estes dois grupos devem polarizar a eleição em Sergipe. Por isso, a renúncia de Belivaldo seria uma jogada de risco, já que entregaria o governo do estado ao PT.

Em Mato Grosso do Sul, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB)​ deve permanecer no cargo até o fim do mandato para tentar eleger o secretário de Infraestrutura, Eduardo Riedel (PSDB), como próximo governador do estado.

A tendência é que a cadeira em disputa para o Senado seja destinado a uma possível composição com partidos aliados —a mais cotada para a vaga é a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM).

“A sinalização do governador, até para atrair aliados, é de que ele deve ficar até o final do mandato”, diz o deputado federal Beto Pereira (PSDB-MS).

No Amapá, o governador Waldez Góes (PDT) também não deve concorrer ao Senado para apoiar o senador aliado Davi Alcolumbre (DEM), que quer permanecer no Congresso.

Seu futuro eleitoral depende diretamente da Justiça Eleitoral. Em 2019, o Tribunal Regional Eleitoral do Amapá decretou a sua inelegibilidade por oito anos, mas o governador recorre da decisão.

O nome mais cotado no grupo político para disputar o governo é o do ex-prefeito de Macapá Clécio Luís (sem partido). Eleito em 2012 pelo PSOL, reeleito em 2016 pela Rede, Clécio alinhou-se a partidos de centro-direita em 2020, apoiando a candidatura derrotada de Josiel Alcolumbre (DEM), irmão de Davi, para a Prefeitura de Macapá.

Outros sete governadores tendem a deixar o cargo em abril do próximo ano para concorrer às eleições. Dois estão em primeiro mandato: João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), ambos do PSDB, são pré-candidatos à Presidência da República.

Dentre os governadores reeleitos, Flávio Dino (PC do B), do Maranhão, deve concorrer ao Senado amparado por uma ampla base de sustentação e tende a ter uma eleição tranquila. Ele também é lembrado como um possível candidato a vice-presidente.

O cenário é semelhante para o governador Camilo Santana (PT) deixar o cargo para concorrer a senador e apoiar um nome do PDT para o Governo do Ceará, mantendo a aliança com os irmãos Cid e Ciro Gomes.

Wellington Dias (PT), governador do Piauí, também deve renunciar para disputar o Senado ou Câmara dos Deputados. A passagem de bastão será tranquila porque sua vice, Regina Souza, é do próprio PT.

Tanto Camilo Santana quanto Wellington Dias são considerados cruciais para o plano do PT de ampliar sua bancada no Senado a partir de 2023 para dar sustentação a um possível governo Lula.

No campo bolsonarista, o governador de Tocantins, Mauro Carlesse, acaba de trocar o DEM pelo PSL e é virtual candidato ao Senado no próximo ano.

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), vai deixar o cargo em abril do próximo ano. Quem assume o comando do estado é a presidente nacional do PC do B, Luciana Santos.

Publicamente, a ordem é só tratar da eleição em 2022. Mas, nos bastidores, a movimentação do governador é intensa. Após a volta de Lula ao xadrez eleitoral, Câmara tem estreitado as relações com o petista em um movimento para pavimentar aliança nacional entre PT e PSB.

O nome de Paulo Câmara chegou a ser cogitado para vice numa eventual chapa com Lula. O governador pode também disputar a Câmara Federal. Para o Senado, o cenário seria mais complicado, já que outros partidos aliados ao PSB miram a vaga.

Um dia depois da decisão do STF que tornou Lula novamente elegível, Câmara ligou para o ex-presidente. Em seguida, houve um encontro virtual com a participação da cúpula dos dois partidos. Um novo encontro entre Lula e Câmara deve ocorrer em breve.

O PT em Pernambuco já sinalizou que, para fortalecer a candidatura de Lula, a prioridade é a construção de alianças estaduais.

Folha