Heleno, que rimou Centrão e ladrão, agora defende o bloco
Foto: Pablo Valadares / Câmara dos Deputados
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, afirmou nesta quarta-feira que mudou sua opinião sobre os partidos do chamado Centrão, que agora fazem parte da base do presidente Jair Bolsonaro. Durante a campanha de 2018, em convenção do PSL, Heleno associou, em palanque, os políticos do grupo à corrupção. Na ocasião, afirmou que, “se gritar Centrão, não fica um, meu irmão”. Em audiência da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, Heleno argumentou que a sua mudança de pensamento “faz parte do show político”.
O ministro falou sobre o assunto ao ser perguntado pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP). Agora, Heleno diz inclusive acreditar que “não existe” mais o Centrão. Na reunião, outros integrantes do GSI falaram sobre os trabalhos da pasta, como o diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem.
— Sobre Centrão, aquela brincadeira que eu fiz foi numa convenção do PSL na campanha eleitoral. Naquela época existia à disposição, na mídia, várias críticas ao Centrão. Não quer dizer que hoje exista Centrão. Isso foi muito modificado ao longo do tempo. E eu não tenho hoje essa opinião. E não reconheço hoje a existência desse Centrão. Então, naquela época… É uma situação de evolução de opinião. Faz parte da vida do ser humano. Inclusive vossa excelência (Kim Kataguiri) já mudou de posição várias vezes ao longa da sua trajetória política. Então, isso aí faz parte do show político — disse Heleno.
O general também foi questionado sobre a presença de militares em protestos antidemocráticos e o incentivo de Bolsonaro à participação de apoiadores neste tipo de ato. Heleno afirmou que nunca ouviu “qualquer referência a medidas autocráticas ou a perseguição de adversários” por parte do presidente. Perguntado sobre o fato de o presidente se referir à parte das Forças Armadas como “meu Exército”, argumentou que não há problema.
— Só queria registrar que o presidente é o chefe das Forças Armadas. Eu gostaria muito que todos os brasileiros se referissem à minha Marinha, meu Exército, porque são instituições de cada brasileiro. Gostaria que todos os brasileiros se valessem (dessa forma de falar) — disse Heleno.
O ministro do GSI também disse que militares da reserva podem participar de manifestações, diferentemente dos que estão na ativa:
— Os da ativa não podem, e serão devidamente punidos se aparecerem em manifestações políticas.
Relatório
Heleno voltou a negar a produção pela Abin de relatório para auxiliar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Em dezembro, a revista ÉPOCA revelou que o filho do presidente foi orientado sobre como agir para obter provas para anular o caso Queiroz. A advogada de Flávio, Luciana Pires, afirmou que os documentos foram enviados ao senador por Alexandre Ramagem.
— Não houve relatório da Abin tratando de Flávio Bolsonaro. Havia duas advogadas (de Flávio em reunião). Elas relataram alguma coisa sobre Flávio. Eu e Ramagem pensamos: “isso não tem nada a ver”. E eu deletei isso (da cabeça) — disse Heleno.
Perguntado sobre o conteúdo de reportagem da revista “Crusoé”, que revelou ordens da Abin para recolher informações sobre irregularidades na aplicação de recursos da Saúde em estados e municípios, o ministro também disse que não há problema. De acordo com a publicação, a agência foi usada para municiar o governo. O propósito seria desviar o foco dos trabalhos da CPI da Covid. A comissão investiga a omissão do governo federal na condução do enfrentamento à pandemia.
— Sobre o pedido de desvio de recursos e malfeitos, de verbas destinadas a estados e municípios, é uma atribuição constitucional da Abin — disse Heleno, que concluiu: — Pode ser solicitado pelo presidente da República que verifique as verbas.