Ideológicos governistas complicam Bolsonaro na CPI

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Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Jair Bolsonaro anda de mau humor. Tem passado descomposturas até nos puxa-sacos do cercadinho do Alvorada, xinga jornalistas e adversários de forma cada vez mais destemperada e voltou a apostar nos atos para tentar demonstrar apoio popular depois que pesquisas apontaram seu derretimento. Sentiu a CPI.

Na verdade, o governo tem piorado seu desempenho na comissão que apura as responsabilidades pela pandemia muito mais por responsabilidade do presidente e de seus líderes que por ação da oposição.

São três as frentes que têm desgastado Bolsonaro e dado munições à CPI para avançar na consolidação de um relatório que deverá responsabilizar o presidente e sua equipe pelo agravamento da CPI.

1. ex-integrantes do governo demitidos por não seguirem as ordens negacionistas do presidente. Se encaixam neste grupo Luiz Mandetta e Nelson Teich;

2. a aposta em que a CPI não aconteceria, o que fez com que o governo negligenciasse a escalação de seu time na comissão, e hoje dependa de senadores fraquíssimos, como Eduardo Girão e Marcos Rogério;

3. ex-integrantes do governo despreparados para ocupar cargos públicos de grande relevância, que durante sua permanência no cargo se pautaram antes por ideologia e pressa em mostrar serviço para o chefe, apostando no negacionismo no curso da pandemia e atacando aliados internacionais do Brasil, a imprensa e quem mais criticasse esse projeto. Neste rol estão Fábio Wajngarten e Ernesto Araújo.

O depoimento do ex-chanceler, ou ex-Ernesto, como o batizou a senadora Kátia Abreu, é emblemático dessa volta da borduna da História. Bolsonaro achou que era o dono da caneta Bic, e que sua eleição lhe dava carta branca para designar um time de ineptos, despreparados tecnicamente, ressentidos, revanchistas, ideológos de Twitter, vassalos de Olavo de Carvalho e outros exemplares exóticos para postos relevantes em primeiro e segundo escalões.

Enquanto essas pessoas folclóricas estiveram em seus postos comprometendo a imagem do Brasil, causando danos ao enfrentamento ao vírus, sucateando estruturas como o Itamaraty, as universidades ou aparelhando a comunicação, Bolsonaro achava ótimo.

Mas quando saíram, por pressão de aliados do governo (e isso é importante para mostrar a insustentabilidade dessa forma de governar) e passaram a expor o governo com suas entrevistas e, agora, em seus depoimentos à CPI, Bolsonaro começa a entender na pele o risco de se designar incompetentes, como ele próprio, para postos importantes.

Não deverá ser diferente nesta quarta-feira, com Eduardo Pazuello. O general já levou a que as Forças Armadas saíssem imensamente arranhadas em sua imagem depois de sua passagem lamentável pelo Ministério da Saúde. Sua ida amanhã ao Senado, munido de um HC preventivo que dificilmente vai blindá-lo (escreverei mais detidamente sobre isso em minha coluna no GLOBO nesta quarta), deverá causar mais danos na já depauperada imagem do governo Bolsonaro e consolidar a convicção da maioria da CPI em duas frentes: a decisão de não comprar vacina e a aposta contra qualquer evidência científica na cloroquina e em medicamentos igualmente ineficazes.

Quando a imprensa apontava a inadequação de pessoas como Ernesto Araújo (que nunca havia sido embaixador antes de virar chanceler), Wajngarten (que se credenciou por abrir portas de emissoras de rádio e TV para o então candidato Bolsonaro) e Abraham Weintraub (um economista obscuro que chegou ao presidente pelas mãos de Onyx Lorezoni por esquetes de humor com o irmão Arthur) estava alertando para o óbvio. Agora que depende dessas pessoas em inquéritos do STF ou numa CPI Bolsonaro entende na pele o mal que fez ao Brasil.

O Globo